A história da Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento (EPACSB) funde-se com a história de um dos mais antigos mosteiros do país, a do Mosteiro de S. Bento. Herdeira de uma tradição secular de ensino agrário, a EPACSB é a mais antiga instituição de ensino agrícola do país. Uma instituição de referência, que vem deixando a sua marca no ensino profissional em Portugal, dada a conhecer pela voz de Carlos Frutuosa, diretor, e Francisca Vasconcelos, docente da instituição.
Instalada nas Quintas do Mosteiro de S. Bento, em Santo Tirso, junto da margem esquerda do rio Ave, a EPACSB conta com uma história que vem sendo escrita há mais de 100 anos, altura em chegaram os primeiros alunos vindos de, praticamente, todo o país. Hoje, repleta de história, património e conhecimento a instituição continua a cumprir o legado do Conde S. Bento: formar cidadãos responsáveis e possibilitar a aprendizagem de uma profissão, aos jovens de qualquer estrato social.
Com uma oferta ampla de cursos de nível II e IV/U.E. de dupla certificação, com equivalência ao 9º e 12º ano, respetivamente, a EPACSB proporciona uma sólida formação geral, científica e técnica, capaz de desenvolver as competências necessárias ao sucesso profissional e pessoal, com vista à integração plena numa sociedade em constante mudança. De forma a atingir o seu principal propósito a instituição, continua a reinventar-se ano após ano, adaptando-se às novas metodologias/tecnologias e às constantes exigências do mercado de trabalho. O ano de 2020 foi sinónimo de readaptação. A pandemia trouxe consigo novos desafios para a instituição, que hoje vai voltando à normalidade. “No início da pandemia foi complicado. Sendo a EPACSB uma instituição de ensino profissional, que pressupõe uma grande percentagem de aulas práticas, tivemos de readaptar formatos e metodologias à nova realidade”, assume Francisca Vasconcelos. Apesar do natural receio inicial, Francisca Vasconcelos ressalva que a nova realidade teve, em alguns casos, impacto positivo junto dos alunos. “Curiosamente, verificámos que, apesar desta mudança inesperada, alguns alunos tornaram-se mais empenhados e altruístas. O facto de estarem sozinhos e serem os únicos responsáveis pelo seu trabalho, tornou-os mais focados, empenhados e responsáveis”, sublinha Francisca Vasconcelos.
A formação para a vida ativa, qualificada, que dá resposta às crescentes necessidades das empresas da região, assume-se como uma das prioridades deste ensino através de uma oferta formativa abrangente que procura integrar os conhecimentos científicos com a sua aplicação nos sistemas produtivos. “O nosso principal objetivo é que os alunos tenham acesso à informação”, ressalva Carlos Frutuosa.
Valorizar as raças autóctones portuguesas
As raças autóctones portuguesas são a prova viva da grande biodiversidade, no que diz respeito a recursos genéticos no nosso país. Estas representam um património genético valioso e apresentam um grande potencial de valorização económica e conservação de usos e costumes, uma vez que fazem parte do património histórico e cultural do país representando-se como produtos tradicionais de qualidade. Consciente desta importância, a EPACSB vem apostando na produção e valorização de espécies de raças autóctones. “No plano curricular do curso de Produção Agropecuária, uma das unidades curriculares é “As Espécies Pecuárias”, que permite aos alunos inteirarem-se do que é a produção animal. Dentro dessa unidade, abordamos as espécies pecuárias de raças autóctones”, indica Francisca Vasconcelos. A instituição que já contou com a produção e criação de coelhos, porcos e aves (para carne e ovos), conta hoje com uma vacaria e com três raças autóctones: ovinos da raça Churra Galega Bragançana, e dois bandos de galinhas da raça Pedrês Portuguesa e raça Amarela, obtidas através de protocolos com o Instituto Politécnico de Bragança, e com a associação AMIBA. “Optamos por espécies de raça autóctone por serem mais rústicas, próprias do país e serem raças bem enraizadas. Para além disso, é através da sua produção que asseguramos a preservação genética da espécie e contribuímos para o aumento da biodiversidade”, esclarece Francisca Vasconcelos.
A instituição espera ainda este ano “montar mais dois galinheiros”, de forma assegurar a preservação da raça, manter as características genéticas puras e, simultaneamente, “fazer a incubação, criação dos pintos e, posterior, produção dos bandos”. Esta filosofia estende-se também à parte vegetal, onde são cultivadas espécies e variedades regionais. “No ano passado fizemos um novo pomar de macieiras e utilizamos três variedades regionais de maçã. Esta preocupação estende-se também à vinha, onde mantemos a produção de castas regionais de vinho verde”, sublinha a docente.
EPACSB: dinâmica e inovação
Longe vão os anos em que uma significativa percentagem da população portuguesa se dedicava ao setor primário. O setor da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca continua a decair e Carlos Frutuosa não tem dúvidas que de a “falta de investimento e de recursos humanos para a economia local” são um dos principais problemas que o setor enfrenta. “Apesar da inovação e dos grandes avanços tecnológicos que se têm registado neste setor, os apoios e valorização são mínimos. Por vezes, ainda surgem jovens que criam projetos agrícolas, mas que, infelizmente, não têm praticamente apoios da parte do Governo”. Apesar das dificuldades que o setor atravessa, a EPACSB vem fazendo um trabalho meritório na sua promoção. “A nossa prática e dinâmica são, sem dúvida, os nossos diferenciais. O nosso plano curricular permite que os alunos ganhem conhecimentos nas diferentes áreas”, afirma o diretor. Com uma infraestrutura que conta com adega, vacaria, queijaria, secador de ervas aromáticas e loja de venda ao público, a EPACSB pauta-se pela dinâmica, inovação e empreendedorismo. Prova disso é a abertura ao público do restaurante da instituição, prevista para novembro deste ano, a que se juntam também o lançamento de um novo rótulo para os vinhos verdes e para o espumante, de produção própria.