Por: Roberto Gaspar, Secretário-Geral da ANECRA
Historicamente o sector automóvel sempre se caracterizou por ser uma actividade de homens. Os homens desenhavam, desenvolviam, criavam e fabricavam os automóveis e geriam as empresas do sector onde a esmagadora maioria dos trabalhadores eram homens: na produção, na comercialização, no marketing e nas oficinas. Os carros eram pensados por homens e para homens e o marketing apelava à potência e à performance da viatura ou ao sucesso do homem, junto do público feminino, se conduzisse determinada viatura.
Atualmente, este é um negócio onde as mulheres têm uma influência determinante (alguns
estudos de mercado apontam para o facto de as mulheres terem uma influência determinante na decisão de compra em mais de 80% dos casos). No entanto, há algumas décadas uma percentagem considerável de mulheres não tinha carta de condução ou, se a tinha, não conduziam no seu dia a dia. Atualmente, além de possuírem carta de condução, as mulheres conduzem, compram automóveis e têm um papel determinante na decisão de compra dos veículos, com base em critérios distintos daqueles que movem os homens: a
comodidade e funcionalidade.
Ao longo dos últimos anos, percebendo estes novos fenómenos, as marcas tiveram de se adaptar a uma nova realidade, passando a ajustar as campanhas de marketing a um novo target e a fabricar veículos claramente direccionados para o universo feminino. Lembro-me do bem-sucedido lançamento do Nissan Qashqai em 2006. De repente uma marca que não atravessava os seus melhores dias, descobriu uma fórmula mágica, um carro que todas as mulheres queriam ter: bonito, prático, funcional e cómodo. Assim apareceu um novo segmento, o Crossover, que até hoje se mantém como um dos mais importantes nas
vendas de automóveis.
Se numa primeira fase este novo fenómeno levou as marcas a contratarem mais mulheres para os departamentos de marketing e produto, hoje todo o sector automóvel tem uma influência absolutamente indelével da visão feminina: na estética e no design dos modelos, nas inovações tecnológicas e no marketing, entre outros factores, não só enquanto consumidoras mas, também, como agentes activas na transformação deste negócio. Se a nível Internacional a referência máxima é Mary Barra, CEO da General Motors, em Portugal existem excelentes exemplos como a Viktoria Kaufmann, Managing Director da SIVA,
a Marília Machado dos Santos, General Manager Volkswagen, ou a Susanne Hägglund, CEO da Volvo Portugal.
Também em sectores profundamente tradicionais como os do comércio de automóveis usados ou o pós-venda, se verifica a influência feminina. As mulheres ganharam um destaque e uma notoriedade assinaláveis fruto de iniciativas inovadoras no espaço público, assim como numa visão do negócio mais centrada no serviço, no cliente e no marketing, o que está claramente mais alinhado com as necessidades de um sector em profunda transformação e cuja capacidade de adaptação e de resposta, aos muitos desafios que vão surgindo, é fundamental para ter sucesso.
Nesse sentido não tenho dúvidas que o sector automóvel tende a ser cada vez mais também das mulheres, com a sua capacidade de adaptação às novas situações, ao poder da comunicação e a um pensamento e uma acção Multitasking.
*O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico