Criada em 2009, como uma empresa de outsourcing de exportação, a Domus Capital alterou radicalmente o seu modelo de negócio há cinco anos. Nessa altura, lançaram uma linha de marcas próprias, onde se destaca a cerveja Quinas. O nome não engana e representa bem “o espírito português”, cá dentro e lá fora, como nos explica o CEO do grupo, Sérgio Duarte.
O que os levou a tomar esta decisão e apostar no lançamento das marcas próprias, desde logo num mercado dominado por dois grandes players, como é o das cervejas?
Esta decisão ocorre num contexto único no mercado português: uma das grandes marcas nacionais a operar no mercado nacional foi adquirida por um player internacional e a outra marca nacional estava prestes a ser, também ela, adquirida em grande parte por um outro player. Com estas aquisições deixaria de existir uma marca de cerveja portuguesa de grande dimensão sob o controlo de acionistas 100% nacionais. Sentimos que existia uma oportunidade única de lançar e relançar algumas marcas de bebidas que representassem bem o espírito português e que representasse Portugal internacionalmente. Criámos a cerveja QUINAS para disputar a posição das cervejas portuguesas no mercado internacional e com o crescimento da marca foi surgindo a possibilidade de desenvolver outras bebidas no panorama nacional e internacional, todas elas com capacidade de se destacar na sua categoria.
A primeira marca lançada foi a cerveja Quinas e é esta que mais tem crescido no mercado nacional e internacional. A Quinas é distribuída em mais de 30 países, patrocinou dois clubes da primeira liga portuguesa esta época, teve um crescimento de 115% em 2022 e venceu recentemente duas medalhas no Concours Internacional de Lyon 2023. Qual é a sensação de saber que a vossa primeira marca está a ter tanto sucesso? Existe uma prioridade no seu investimento?
Após a identificação da oportunidade e dos desafios da alteração do modelo de negócio da Domus, começámos a definir a estratégia. Antes da empresa ter começado o projeto da cerveja QUINAS, muitos dos nossos compradores internacionais questionavam-nos o porquê de só existirem duas marcas nacionais de relevo no setor e demonstravam interesse em alternativas. Foi então que nos apercebemos de um fenómeno que estava a ocorrer: os grandes grupos internacionais que adquiriram as duas grandes marcas nacionais, estavam a descuidar as exportações das marcas portuguesas, preferindo promover outras marcas do seu portfolio. Aproveitando esta circunstância e a nossa vasta experiência como exportadores, delineámos uma estratégia inovadora, ousada e corajosa, fazer crescer a marca de fora para dentro, e concentrámo-nos inicialmente nas comunidades de lusodescendentes que sentiam a falta das marcas tradicionais.
A portugalidade está profundamente enraizada no ADN da marca. Começando pelo nome, QUINAS, um dos símbolos que representa a nação, pretendemos ser, também nós, um dos símbolos de Portugal, fazendo chegar a nossa cultura e tradições a todos os cantos do mundo, aquilo que chamamos de “levar Portugal numa garrafa”. Tal como as quinas da bandeira representam todo o país, queremos que a QUINAS seja cerveja de todos os Portugueses.
A cerveja QUINAS está, atualmente, presente em mais de trinta mercados externos, com destaque para China, Macau, Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Costa do Marfim, França, Espanha, Suíça, Luxemburgo, Bélgica e Holanda e, também, Brasil. Nos mercados do Canadá, EUA, Cuba, Marrocos e Singapura a marca encontra-se já entre as cervejas portuguesas líderes.
É um orgulho ver o crescimento da marca QUINAS, porque representa aquilo pelo que trabalhamos na Domus Capital: promover o que de melhor Portugal tem. Os resultados falam por si. As vendas do grupo têm, desde 2018, duplicado de ano para ano, tendo em 2022 atingido os 5,5 milhões de euros. A cerveja QUINAS patrocinou dois clubes da primeira liga portuguesa na época 2022/23 e a sua qualidade tem vindo a ser reconhecida em prestigiadas competições de âmbito internacional como o Monde Selection 2021 e 2022, o International Beer Challenge 2021 e 2022, o Concours International de Lyon 2022 e os World Beer Awards 2022.
A maioria das vossas marcas são do setor alimentar e das bebidas. O que os levou a investir neste mercado?
O sucesso alcançado pela cerveja QUINAS levou-nos a lançar outras marcas dentro do setor das bebidas de forma a complementar a nossa oferta, como o café Portucale, os refrigerantes Sumovite, a água tónica INDIAN 98, a cola UMA COLA, a amêndoa amarga SOGRA, a vodka NAU PURA, os ice teas BOA VIDA, o gin RGP entre muitas outras. Dada a diversidade de marcas cada uma segue uma estratégia diferente. Este alargamento ocorreu de forma natural pois são produtos que se complementam.
A vossa presença internacional está a crescer. De que forma olham para esta evolução? Era um objetivo primordial vosso ou surgiu mais pela necessidade de abrir a mercados maiores do que o nosso?
A QUINAS cresceu exponencialmente nos anos de pandemia, encontrámos uma oportunidade de dar resposta ao que sentimos que seria uma necessidade do consumidor fora de Portugal e, em três anos, impulsionada pelas vendas nos mercados internacionais, a QUINAS é, hoje, uma alternativa no setor das cervejas. Neste momento, contamos com 65% da nossa produção para exportação e 35% para consumo nacional. É uma marca muito bem considerada no exterior, onde faz mais sentido estar presente. O grupo orgulha-se de contribuir para as exportações portuguesas e pelo sucesso alcançado graças à sua dinâmica empresarial e decisão rápida na resposta às necessidades dos seus clientes e escolha dos consumidores.
Foi recentemente anunciado que irão investir numa unidade produtiva, em Aveiro, em que esta irá contar com três unidades: refrigerantes, saúde e cerveja. Pode explicar-nos mais aprofundadamente este projeto? Irão entrar mais marcas? Pretendem expandir-se para o setor da saúde?
A Domus Capital espera manter o ritmo de crescimento atual. Demos muito recentemente um novo passo na nossa estratégia de expansão com a aquisição de duas unidades produtivas históricas no distrito de Aveiro, uma em Ílhavo e mais recentemente em Estarreja. Um investimento superior a seis milhões de euros, enquadrado no projeto SI Inovação Produtiva. As novas unidades produtivas contam com três unidades distintas, que se desdobram no segmento de refrigerantes, no segmento de saúde e na unidade produtiva de cerveja.
Estes novos projetos representam uma mudança de paradigma na nossa produção, entrando desta forma no domínio industrial. Este projeto assenta na Indústria 4.0, promovendo a conectividade entre sistemas, equipamentos, produtos e pessoas, permitindo à empresa ficar integrada nas tecnologias core da I4.0, para além da aposta nas energias renováveis e processos que incorporem a valorização de subprodutos. Está também projetada uma aquisição de uma terceira unidade produtiva no Arquipélago dos Açores no próximo ano. Este é um grande passo para a DOMUS pois consolida e impulsiona o nosso posicionamento no mercado no sentido de atingir objetivos estratégicos que permitem um crescimento sustentado e sustentável. Prevemos que estes projetos tragam um crescimento do volume de 226% face ao volume de negócios pré-projecto em apenas três anos.
Por fim, quais são as perspetivas de crescimento da Domus Capital?
A Domus Capital tem como objetivo continuar a crescer nos mercados nacional e internacional. Em Portugal, queremos ver a Quinas entrar no pódio das cervejas mais vendidas. A longo prazo acreditamos que a QUINAS tem potencial para ser uma love brand da cerveja em Portugal. Ao nível internacional o nosso objetivo é cimentar a nossa posição enquanto cerveja nacional número dois nos mercados onde operamos.