Neste mês em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, partimos numa viagem pelas memórias de Manuel Alegre, escritor e político português que viveu a transição da ditadura para a democracia na primeira pessoa.
Uma das obras mais aguardadas dos últimos tempos foi lançada no início do mês, como um dos ‘Livros de Abril’. Trata-se de “Memórias Minhas”, de Manuel Alegre, que reúne um vasto conjunto de pequenas histórias que pretendem proporcionar ao leitor uma dupla viagem, dado que percorre os inúmeros capítulos da vida do escritor e a História recente de Portugal. O tio-trisavô decapitado na sequência das lutas entre liberais e miguelistas, a infância em Águeda e o assobio que usava para comunicar com o melhor amigo, os colegas que iam descalços para escola, a tia que se referia ao sobrinho como “o nosso poeta” sem ele ter escrito ainda qualquer verso, a eterna e dedicada proteção da avó, a sistemática presença próxima da PIDE, as ligações que criou com o comunismo e com o socialismo, bem como o tão desejado regresso a Portugal, já em liberdade, são alguns dos muitos episódios narrados pelo autor neste livro. As memórias de Manuel Alegre não são exclusivamente dele, são também as memórias de várias gerações de portugueses, que vão desde o tempo do Portugal triste e cinzento dos anos 50, reescrito em muita da sua poesia, até ao Portugal radiante e luminoso, o que surgiu com o 25 de Abril, o da liberdade.
A editora Dom Quixote também lançou este mês, numa edição especial, dois livros num só. É o caso de “Praça da Canção” (1965) e “O Canto e as Armas” (1967), as duas primeiras obras de Manuel Alegre, grande parte delas escritas no exílio, que contribuíram de forma perentória para derrubar a ditadura de Salazar, sendo consideradas, por isso, símbolos da luta pela liberdade. Se os poemas de “Praça da Canção”, após terem sido apreendidos pela censura, circularam de mão em mão em cópias manuscritas e dactilografadas, tal era o desejo de as pessoas os lerem, e inspiraram gravações musicais históricas que ainda hoje permanecem na memória coletiva, os poemas de “O Canto e as Armas” são, quiçá, os mais cantados e musicados de todos os livros de poesia, que começou a evocar Abril antes de o ser.