Serpenteando junto à margem ou avistando da encosta o curso de água, a Estrada Nacional 108 entre o Porto e o Peso da Régua, não perde nunca de vista o Douro. A partir da capital do Norte de Portugal até à cidade central ribeirinha da mais antiga região demarcada vitivinícola do mundo, o rio serve de fio condutor ao seu percurso de 110 quilómetros, unindo sete concelhos e dois territórios classificados pela UNESCO, Património Mundial da Humanidade.
Integrando o Plano Rodoviário Nacional de 1945, este acesso ao interior pela margem norte do rio Douro foi desenhado para começar no Porto e terminar em Torre de Moncorvo, em pleno Douro Superior, totalizando cerca de 170 quilómetros. No entanto, desaires da História fizeram com que a sua construção nunca fosse terminada, ficando o troço rodoviário praticamente a meio do caminho. Para memória futura, existe ainda um marco icónico, ao quilómetro 90, que atesta a intenção inicial do projeto. A majestade das paisagens vinhateiras das Regiões Demarcadas dos Vinhos Verdes e do Douro, a plenitude das serras e montes sobranceiros, as praias fluviais e parques que acompanham o rio juntamente com as pitorescas aldeias circundantes sob a luz resplandecente do rio, fazem desta road trip por sete municípios – Porto, Gondomar, Penafiel, Marco de Canaveses, Baião, Mesão Frio e Peso da Régua – um segredo bem guardado de condutores, motards e ciclistas.
Miradouros de panorâmicas sublimes, pontes e barragens monumentais, um inestimável património conventual, ex-libris de uma enorme herança histórica, artística e cultural da região onde se inscrevem também lugares-berço de alguns dos maiores escritores nacionais; eventos e festividades religiosas sem paralelo; uma rota dedicada ao Românico; belíssimos museus temáticos e uma longa tradição gastronómica, recheada de pratos e doçaria irresistíveis, são alguns dos atributos incontornáveis da magnifica N108.
Uma estrada cheia de encantos, desbravada no século passado, encaixada estrategicamente em grande parte do percurso entre o rio e a histórica linha de caminho de ferro do Douro, numa partilha da margem ribeirinha feita muitas vezes em paralelo. A Nacional 108 é, pois, uma via que mantém vivas memórias importantíssimas de épocas passadas de um património imaterial que Portugal guarda como um tesouro intemporal. Quem, nos dias de hoje, circula pelo seu traçado ondulante ainda sente e respira a nostalgia das rotinas diárias de figuras incontornáveis dos lugares atravessados pela circulação do comboio, como o cantoneiro e o guarda de passagem de nível, que juntamente com a beleza dos painéis azulejares das antigas estações, constituem um legado incontornável que vale a pena conhecer, explorar e preservar!