Paulo Lousinha admite não existir “grande poesia” por de trás do surgimento da sua empresa, a qual assume meramente como um atelier de arquitetura. No entanto, não se trata de uma arte literária e mesmo não havendo rimas líricas que contem a história de Paulo Lousinha, existirão certamente, linhas concretas de projetos edificados que contam aquilo que diferencia os projetos assinados pela Lousinha Arquitectos.
O percurso profissional de Paulo Lousinha inicia-se no final do primeiro ano do curso de arquitetura, no Porto, quando começou a trabalhar com o arquiteto Fernando Távora e José Bernardo Távora. Este seria um desígnio importante, não apenas por conciliar a formação com a prática profissional, mas pelo privilégio de trabalhar com uma das maiores referências da arquitetura contemporânea portuguesa.
Refira-se que, ao lado de Eduardo Souto de Moura e de Álvaro Siza Vieira, Fernando Távora é um dos principais vértices do triângulo de destaque da Escola do Porto. Esta, constituindo uma geração sobejamente conhecida e ativa nacional e internacionalmente, é um dos principais ativos no meio arquitetónico e pedagógico, e Távora muito contribuiu para isso.
O ano de 1995 marca o início da atividade profissional de Paulo Lousinha, na altura como profissional liberal, em Vila Nova de Gaia. Anos mais tarde viria a mudar-se para Aveiro, e, numa necessidade de se adaptar às exigências financeiras e burocráticas, criou a empresa Lousinha Arquitectos, Arquitectura e Comunicação, Lda. Mais de duas décadas depois de iniciar a sua atividade, e apesar de ser o sócio maioritário da Lousinha Arquitectos sublinha que nunca se viu “como empresário, mas sim como arquiteto”.
A naturalidade como se distancia de um mundo empresarial e empreendedor é sinónimo da forma como centra toda a sua atividade na arquitetura. Se de elementos diferenciadores se definem as empresas, facilmente percebemos que a grande distinção do escritório de Paulo Lousinha é viver a arquitetura da sua forma mais natural, aclamando-a e concretizando-a como arte e tratando cada projeto com a essência e criatividade que lhe é devida. Entre obras e projetos, a lista de trabalhos do gabinete de Paulo Lousinha está muito perto dos trezentos registos, com intervenções espalhadas pelo território a norte do Mondego, mas com particular presença na área metropolitana do Porto.
A Escola do Porto
Formado na Escola do Porto, esta é uma das principais influências para Paulo Lousinha. Afirma ter tido a sorte de ser um dos últimos a beneficiar da formação académica feita em conciliação com a prática profissional, onde o escritório do professor era um prolongamento da sala de aula.
Hoje a designação “Escola do Porto” serve para identificar um modo de fazer e de pensar associado aos arquitetos formados no Porto. A designação, normalmente utilizada no discurso académico e arquitetónico, é também hoje amplamente adotada no discurso turístico, jornalístico e até político. Dentro e fora de Portugal, a Escola do Porto é reconhecida como uma das principais marcas distintivas da arquitetura contemporânea portuguesa, configurando um estilo próximo de um certo imaginário formal e linguístico. Com provas dadas, na prática profissional e académica, os arquitetos da Escola do Porto alcançaram um importante prestígio nacional e internacional, ganhando vários prémios, entre os quais o Prémio Pritzker de Arquitetura atribuído a Álvaro Siza em 1992 e a Eduardo Souto Moura, 20 anos depois, em 2011.
“Partilho da opinião de Kenneth Frampton que associa o sucesso da escola à estabilidade da sua liderança e didática após a reforma de 57. Promovida pelo arquiteto Carlos Ramos a transição do currículo Beaus-Arts para um currículo moderno, muda programas e professores, sob a liderança constante de Fernando Távora que se prolongou no tempo quase 50 anos”, explicou Paulo Lousinha.
A Arquitetura como arte
“A arquitetura é de todas as artes a mais política”, quem o diz é Paulo Lousinha, convicto de que arquitetura e arte são duas expressões que não se podem dissociar. “Encarar a arquitetura perdendo a visão desta componente artística é transformá-la numa resposta meramente formal. O processo criativo do arquiteto pode assemelhar-se ao do escultor mas com a diferença de que nós fazemos objectos habitáveis”, prosseguiu.
Se, de criatividade depende o processo de criar um espaço, também do momento se faz o desígnio da arquitetura: “Uma das coisas mais importantes na arquitetura é que ela seja a expressão da sua época. Até porque mudam contextos, tecnologias, materiais, entre outras coisas”.
Falando da arquitetura como uma arte ela deve ser concebida e contemplada no seu todo. A luz e o espaço são a matéria-prima principal de um arquiteto e, por isso, um projeto arquitetónico será sempre um “espaço vivido”, onde cada elemento se completa no seu meio envolvente. Mais do que viver da imagem a arquitetura deve ser experienciada, numa simbiose entre todos os elementos físicos, com a introdução da dimensão tempo. Apesar disso Paulo Lousinha considera que hoje a arquitetura está cada vez mais dependente da imagem e menos do espaço: “a fotografia revela um determinado olhar que pode manipular o objeto e se as pessoas se habituarem a só verem a arquitetura pela lente do fotógrafo começam a afastar-se da principal matéria prima desta arte, que é o espaço. Este culto exacerbado da imagem como suporte da divulgação do trabalho de um arquiteto, se não se souber ver no espaço, pode destruir a identidade da própria arquitetura”.