Gabinete de Felgueiras conseguiu criar uma igreja de raiz em pleno século XXI e ser falado no mundo, especialmente na área da arquitetura. Além do setor religioso, também se destaca na habitação, turismo e restauração.
Identificar o período em que uma igreja foi construída, através dos traços arquitetónicos característicos, é algo que conseguimos fazer facilmente se, por exemplo, estudámos História na escola. Mas ter um gabinete de arquitetura a fazer história, a nível mundial, por causa de uma igreja inaugurada em 2019, não é de facto para todos. Tanto não o é que a FCC Arquitetura foi falada em vários sites de arquitetura mundiais e um filme sobre essa Igreja de Lagares foi exibido no MAAT, em Lisboa.
Se lhe dissermos que o gabinete fica em Felgueiras, no distrito do Porto, mais impressionante é. Mas como foi isto possível? Fernando Coelho, um dos dois mentores da FCC, explicou tudo à IN.
“Quando nos pediram o projeto, tive a sorte de, nessa época, haver um curso de Arte e Liturgia na Faculdade de Letras do Porto e fui aí buscar várias linhas rígidas a ter em conta. E depois trabalhámos muito com conceitos e ideias”, contou.
O projeto foi feito em 2003, as obras começaram em 2005 e em maio de 2019 a Igreja de Lagares, em Felgueiras, foi inaugurada. Com capacidade para 400 pessoas sentadas, a “planta resulta de uma interseção de formas”: planta axial característica das igrejas clássicas cristãs; a forma da gota de água a simbolizar o batismo; a forma do peixe, símbolo de Jesus Cristo; duas paredes curvas que passam por cima do batistério, do sacrário e do altar e que direcionam as pessoas para a entrada principal, cuja estrutura metálica grossa, revestida de madeira e distribuída em duas folhas, tem 5 metros de altura e 3,8 metros de largura.
“Temos de deixar a nossa marca numa igreja no século XXI. Acredito que seja difícil as pessoas com mais idade entrarem na igreja e gostarem de ver algo diferente, mas não é esse o feedback que me é passado”, resumiu o arquiteto, continuando: “o interessante é ver o que cada um sente e vê. Não interessa se as pessoas percebem os símbolos mas que cheguem lá e digam: ‘Parecem braços a acolher'”.
Esta foi a primeira vez que fizeram uma igreja, ainda que já tivessem feito “reconstrução de igrejas antigas, casas mortuárias e centros paroquiais por todo o país”.
O projeto da Igreja de Lamares foi, literalmente, do papel até à chave na mão do cliente. A entrega das chaves foi feita pelo arquiteto e de forma simbólica, como mandam os ritos católicos nestas ocasiões, ao Bispo do Porto.
Apesar de grandioso, resumir o trabalho de Fernando Coelho e da sócia Ana Loureiro a templos é um pouco redutor. Até porque ‘templos’ já os criavam, desde o início. “Neste momento estamos com muitos hotéis, em projetos no Porto, Lisboa e Açores, de conceitos distintos. E continuamos a fazer as nossas moradias unifamiliares, que foi assim que começamos e que nos interessa”, revelou.
Depois de uma passagem por escritórios de arquitetos no Porto, Fernando decidiu convidar a sua colega de curso para abraçar um novo desafio. Estávamos em 2002. “Como sou de Felgueiras, decidi montar um atelier próprio e convidei a Ana”, recordou. De dois passaram para uma equipa de seis.
A marca FCC também se faz sentir no comércio, na restauração, nos serviços e no turismo. Dois projetos que tiveram igual destaque internacional a Lagares foram o bar/ restaurante Cella Bar, na ilha do Pico, nos Açores, e o hotel Monverde, na Quinta da Lixa, entre Amarante e Felgueiras.
Seguramente já viu em fotografia uma estrutura em madeira e basalto (rocha vulcânica), que parece um casulo e com uma vista privilegiada para o Atlântico. Pois esse é o Cella Bar, eleito “Building of the Year” (Edifício do Ano) pela ‘Archdaily’ em 2016.
Quanto ao hotel Monverde, primeiro hotel ligado ao vinho verde, arrecadou o prémio “Best of Wine Tourism”, em 2016, ou seja foi considerado um dos melhores hotéis vínicos a nível mundial. De 4 estrelas superior, começou com 30 quartos e já tem 46, estando inserido na vinha de 30 hectares. “É um sinal claro de sucesso”, assumiu Fernando Coelho. E nós concordamos.