Dário Guerreiro, conhecido entre os seus fãs como Môce dum Cabreste, ganhou notoriedade através do seu canal de youtube e, posteriormente, através do stand up comedy. A sua versatilidade é visível: canta, toca guitarra, escreve poesia humorística e séries… Todo um mundo de possibilidades a que vai recorrendo no dia-a-dia para fazer humor. Em entrevista à IN Corporate Magazine aborda o lado empresarial que existe por de trás de um criador de conteúdos.
De um curso de cozinha para os ecrãs e posteriormente, para os palcos de stand-up comedy. Comediante, youtuber, apresentador, poeta, como se caracteriza Dário Guerreiro, também conhecido no YouTube como Môce Dum Cabreste?
Demasiado versátil, pelos vistos.
Estando na frente de tantos projetos qual o segredo de uma fonte criativa, aparentemente, inesgotável?
Ser mais forte que a preguiça. E acreditem que é uma batalha árdua! Não há segredo nenhum além do trabalho.
‘Tique Tal’ e ‘Borbotos do Pensamento’ são duas obras de Dário Guerreiro que combinam o humor com a poesia e a ilustração. Como caracteriza este lado mais literário?
Sempre gostei de poesia, dos jogos de palavras e figuras de estilo que o género permite explorar. Acho que qualquer pessoa criativa acaba por replicar de alguma forma aquilo que consome. A poesia humorística é uma fusão de duas coisas que adoro consumir e criar: poesia e humor. Quanto à ilustração, não me considero minimamente competente nessa área e foi essa a razão de querer ilustrar os livros: como se tratam de livros de humor, é engraçado que os desenhos não sejam minimamente bonitos.
O segundo solo de stand-up comedy ‘Vou Ficar’ está a percorrer o país. O que se pode esperar deste espetáculo?
O ‘Vou Ficar’ revela o ponto da situação da minha vida. Aliás, diria que a maioria dos espectáculos de stand up cumprem essa premissa. É a forma como vejo hoje o mundo de hoje, aquilo que achei pertinente e, acima de tudo, engraçado dizer às pessoas. Mistura, mais uma vez, stand up comedy com música humorística (apesar do ‘Lendário’, o espectáculo anterior e este, ter mais duas canções) e é um bom pretexto para a malta se divertir.
Começou no YouTube em 2006 e em 2010 criou o canal do Môce Dum Cabréste, numa altura em que nem se imaginaria que poderia virar uma profissão, o que mudou desde então?
O que mudou foi a quantidade de pessoas novas que foram aparecendo na plataforma; a qualidade dos vídeos também aumentou, de um modo geral. O zelo do YouTube para com os conteúdos publicados também se alterou (muitos dirão que para pior), fruto da chegada das marcas e dos anúncios. Aquilo que era uma plataforma para divulgarmos os nossos hobbies e partilharmos experiências passou a ser, além disso, um negócio que, quando executado segundo certas matrizes, pode ser altamente lucrativo, o que atrai pessoas, nem sempre pelas melhores razões.
Recentemente lançou no YouTube a série ‘O que é que se faz aqui?’. Em que consiste este novo projeto? Este tipo de séries e de conteúdo mais elaborado e mais próximo de uma realidade cineasta são o futuro do YouTube?
Não necessariamente. É possível que haja mais projetos deste tipo no futuro, mas não diria que são necessariamente o futuro. Naturalmente, os criadores irão bascular para conteúdos que assegurem mais visualizações e, consequentemente, um maior retorno do investimento feito nesses conteúdos. Mas nunca deixará de haver aqueles que publicam conteúdo simplesmente porque gostam, sem ambições de chegar a um grande público.
Quais os desafios de um criador de conteúdos enquanto empreendedor?
Não gastar mais do que o orçamento que se tem disponível; fazer um produto com qualidade sem rebentar a carteira, diria eu. Mas também manter-se atento àquilo que o público procura para, de alguma forma, satisfazer as necessidades do mesmo sem comprometer demasiado aquilo que gosta. Sempre houve um certo braço de ferro, passe a expressão, por parte dos criadores entre aquilo que gostam de produzir e aquilo que o público gosta de consumir. O principal desafio está em encontrar esse balanço.
O que é mais relevante nesse lado empresarial?
Não sei. Talvez construir uma marca forte, com vários traços distintivos, para que o produto possa ser mais bem rentabilizado. Confesso que nunca fui muito estratega na forma de abordar o meu canal.
Um número tão elevado de seguidores coloca maior pressão sobre o seu trabalho. Que mais novidades podemos esperar de Dário Guerreiro?
Diria que não, porque o barómetro principal nunca deixou de ser as visualizações nos vídeos. É claro que é sempre bom ter um elevado número de seguidores, sobretudo para demarcar uma posição no mercado face às marcas, mas até as próprias marcas já vão tendo a noção de que de pouco ou nada serve termos milhares de seguidores quando apenas 20 por cento ou 30 por cento dos mesmos assiste, de facto, aos vídeos. Por essa razão, a pressão que existe não é oriunda do número de seguidores, mas sim em apresentar um conteúdo que vá ao encontro do compromisso antes referido: ir ao encontro daquilo que o público quer ver sem colocar de parte aquilo que o criador quer fazer.