A fortaleza de Almeida é uma lição em pedra da arquitetura militar barroca e é também um espaço de imensa evocação histórica. Na região há um imenso Património, aldeias históricas, sabores tradicionais e percursos na natureza. Estes são só alguns sítios que se cruzam com o Caminho de Santiago. José Alberto Morgado, vice-presidente de Almeida, respondeu a algumas questões sobre os mais recentes esforços para requalificar e promover o caminho.
Este é essencialmente um caminho que se faz numa peregrinação de fé – o que não exclui que também possa ser desfrutado como experiência turística. O objetivo do Município de Almeida é precisamente aliar o lado mais humano do caminho a uma vertente mais turística?
Sim. Numa altura difícil para o ser humano, pelo período de pandemia que vivemos, a vivência e a descoberta dos valores humanos faz ainda mais sentido. Esta iniciativa insere-se nos Caminhos da Fé que visa proporcionar aos territórios que têm o percurso do Caminho de Santiago, um destino com emoções espirituais e culturais.
Pretende-se com esta Rota aumentar os fluxos de turistas que viajam para o nosso interior, motivados pelo desejo de vivenciar experiências turísticas associadas a este caminho de Fé. Trata-se de uma oferta cultural que abrange grande parte do País e que pode ser usufruída durante todo o ano.
Vindos de Salamanca, é em Almeida que os peregrinos pisam, pela primeira vez, terras Lusitanas. O facto de serem a primeira região portuguesa deste caminho acarreta mais responsabilidades ao Município?
Naturalmente. O facto de sermos o primeiro Concelho em Portugal para aqueles transeuntes oriundos de Salamanca, pode trazer-nos muitas vantagens, pela motivação de poder ser a primeira paragem em solo Lusitano e conhecer a nossa gastronomia, como a caldeira de borrego, o cabrito assado na brasa, os enchidos, os pratos de caça, a truta e o barbo do rio Côa, o bacalhau assado na brasa ou no forno, a ginjinha, a nossa cultura, o património, a etnografia, as nossas aldeias rurais e o património natural.
O Caminho das Torres destaca-se muito pelo Património. Como se cruzam as tradições e o Património de Almeida com o Caminho de Santiago?
A Fortaleza Abaluartada de Almeida, em forma de estrela, é um expoente máximo da Arquitetura Militar do sec. XVI/XVII, composta por seis baluartes e seis revelins, todos eles associados a Santos.
Após a Restauração, a decisão de fortificar a Raia com novas estratégias, veio fazer com que os castelos antigos da raia fossem atualizados com novas e melhores condições militares.
A Praça Forte de Almeida é um museu aberto, apresentando vários recursos de conteúdos militares: Um belo património edificado com casas brasonadas, o Castelo,
inicialmente medieval e depois oitocentista, as Portas magistrais de S. Francisco onde está instalada a Área de Turismo Municipal e num futuro próximo o Centro de Interpretação das Fortalezas Abaluartadas da Raia, as Portas magistrais de S. António, instalado o CEAMA – espaço de investigação e estudo sobre a arquitetura militar abaluartada, o Quartel das Esquadras de características barrocas, o Picadeiro D´ El Rey, o Museu Histórico Militar localizado nas Casamatas com 20 salas abaluartadas, 7 delas musealizadas, a Roda dos Expostos com janela Rodeira – local onde recebia as crianças abandonadas desde 1843, “O Campo de Batalha” na ponte do Côa, a 24 de Julho de 1810, sendo a 1ª. Batalha em território português durante a 3ª. Invasão francesa, O GRHMA – Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida, as Termas de Almeida – Fonte Santa com águas minerais sulfúreas para prevenção e tratamento de doenças respiratórias, reumáticas e músculo-esqueléticas. Todo este património cruza-se com o Caminho de Santiago que faz com que este trajeto em Almeida seja atrativo, apelativo e contemplativo.
Esta é uma oportunidade de contar a história de Almeida de uma forma diferente?
Sem dúvida. Percorrer o Caminho de Santiago um percurso de fé e de espiritualidade, aliado ao património ímpar que Almeida tem, também ele associado aos Santos de Portugal e ao culto militar, faz uma simbiose perfeita que leva o turista à inspiração, ao conhecimento e à vivência histórico-cultural.
Que atividades têm concretizado no que diz respeito à requalificação, dinamização e promoção do Caminho de Santiago, em Almeida? E o que ainda falta fazer?
Temos uma candidatura aprovada ao programa “Renovação de Aldeias” onde perspetivamos investir brevemente na aldeia de Valverde (local que integra o Caminho de Santiago com destino a Pinhel), na requalificação da antiga escola primária, transformando-a num local de abrigo para os caminhantes. Há necessidade de criação de Flyers promocionais, definir a rota desde Salamanca, Ciudad Rodrigo e Almeida, integrando a plataforma online do Turismo de Portugal, ainda em fase de construção. O Município de Almeida irá empenhar-se no desenvolvimento e na manutenção da rota, criando uma alternativa a outras rotas já implementadas e certificadas como é o caso da GR 22 das Aldeias Históricas de Portugal.