A BioMimetx foi fundada por Gonçalo Costa, Romana Santos e Patrick Freire e foi a startup vencedora do COHiTEC 2014 – programa de aceleração da Cotec com vista à comercialização de tecnologias e apoiando a valorização do conhecimento produzido em instituições nacionais de Investigação & Desenvolvimento. A empresa de biotecnologia azul está focada no desenvolvimento de revestimentos de proteção de superfícies e sustentáveis baseados em compostos ativos de origem natural.
Em que consistem as soluções tecnológicas desenvolvidas pela BioMimetx?
A BioMimetx SA é uma empresa portuguesa de biotecnologia azul que está focada no desenvolvimento de revestimentos de proteção de superfícies e sustentáveis baseados em compostos ativos de origem natural. A nossa tecnologia assenta na produção de novas moléculas – BMX-11 – com capacidade biocida, extraídas de bactérias, e que são incorporadas em revestimentos para proteção dos materiais do efeito de organismos nocivos. O BMX-11 é uma mistura de compostos (de proteínas a metabólitos) produzidos através de um processo de fermentação estabelecido, com alto rendimento e que possui uma patente Internacional pendente. Esta tecnologia verde tem uma primeira aplicação como agente antifouling para combater a bio-incrustação ou Biofouling, em aplicações marítimas como redes de aquacultura ou cascos de navios. É, no entanto, também adaptável a outras situações em que seja relevante o uso de superfícies para controlar o crescimento de organismos nocivos.
Em que circunstâncias a bactéria BMX-11 pode ser utilizada e implementada? Como chegaram à descoberta desta bactéria e as suas potenciais vantagens?
BMX-11 é o conjunto de novas moléculas que são extraídas de uma bactéria específica, que foi isolada por nós no desenvolvimento da pesquisa inicial e com nome de código PF-11. Esta bactéria é fruto de um programa de investigação no contexto de uma colaboração entre equipas de I&D do INIAV e da FCUL, lideradas por Patrick Freire e Gonçalo Costa, dois fundadores da BioMimetx, em que foi feita uma campanha de isolamentos de novas bactérias ambientais com potencial para produzir novas moléculas ativas no controlo da proliferação de outros microrganismos. A ideia inicial era detetar novos potenciais antibióticos, mas com a descoberta da bactéria PF-11, e perante o potencial que demonstrou, surgiram novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico. Depois de analisadas as necessidades de mercado e os sectores que seriam mais relevantes para lançar esta nova tecnologia, optámos pelo desenvolvimento de soluções para antifouling. No entanto, todos os sectores que necessitam de controlar o crescimento de organismos nocivos, da saúde à agricultura, são potenciais alvos de novos desenvolvimentos tecnológicos.
O primeiro produto da empresa vai ser incorporado em tintas náuticas, mas os compostos trabalhados pela BioMimetx podem ser aplicados em diversas indústrias, como a biotecnologia, a agricultura ou saúde. Como tem sido a evolução da empresa e em que tipo de indústrias já integraram a tecnologia da BioMimetx?
O principal foco desde o início da nossa atividade tem sido o controlo do biofouling marinho, integrando o BMX-11 em tintas para barcos ou redes de aquacultura. Prosseguimos essa linha, mais especificamente no desenvolvimento de novas tintas marítimas, em colaboração com produtores de tintas internacionais, que possuem o know-how técnico necessário. No que concerne soluções para a aquacultura, optámos por uma abordagem mais abrangente. Como se trata de tintas mais simples, desenvolvemos a solução completa, ou seja, a tinta com o BMX-11, o que nos permite ter hoje uma solução destinada diretamente às instalações de aquacultura, redes e jaulas, colocadas offshore.
Além destas soluções para antifouling no Mar, prosseguimos ativamente colaborações com parceiros interessados em usar o BMX-11 em diversas aplicações, desde o controlo de pragas em agricultura, até a de aditivo para alimento animal como preservante, ou ainda em diversas formas de desinfeção em meios aquosos. São, no entanto, desenvolvimentos que estão em fase embrionária ainda, embora alguns tenham um potencial muito interessante.
A vossa resposta vai claramente ‘colidir’ com a transformação que a indústria tem sofrido nos últimos anos. Produtos mais sustentáveis e uma economia mais verde. A empresa pretende precisamente abordar o mercado através de soluções mais ecológicas?
Estamos totalmente alinhados com uma economia mais verde, e no nosso caso, dado o foco no Mar, com a Economia Azul. A missão que assumimos com o desenvolvimento desta tecnologia foi a de contribuir fortemente para limpar o Mar de produtos tóxicos e mantê-lo limpo, apostando em soluções sustentáveis e sem impacto no ecossistema marinho. A nossa grande bandeira sempre foi a substituição dos aditivos sintéticos e persistentes que as tintas antifouling usam regularmente para garantir a sua eficácia, mostrando que é possível criar soluções baseadas na Natureza, que cumprem a mesma função, mas garantindo a manutenção dos recursos marinhos a longo prazo e evitando o acumular constante de produtos nocivos nos Oceanos.
Quem é o cliente da BioMimetx? O objetivo é adaptar a vossa oferta a uma necessidade específica?
O(s) cliente(s) da BioMimetx são numa primeira fase as grandes empresas de aquacultura a nível mundial, através das nossas soluções para proteção de redes e jaulas no mar. Mas também os produtores de tintas antifouling, com quem colaboramos para desenvolver novos revestimentos baseados na utilização de BMX-11. Com o desenvolvimento de novas aplicações, podemos traçar um perfil de cliente mais geral, que se traduz por quem precisa de proteger qualquer superfície da ação de organismos nocivos, mas que pretende fazê-lo com soluções que têm em conta o impacto no ambiente e que se apoiam em desenvolvimento sustentável e que esteja consciente das responsabilidades que todos devemos assumir em minimizar o nosso impacto diário no planeta.
Atuando no sector tecnológico, têm de virar a vossa oferta para o mercado externo. Em Portugal ainda não existe espaço no mercado para as empresas tecnológicas?
Para empresas tecnológicas como a BioMimetx, com um desenvolvimento mais longo e que necessita de investimento de risco e de apoio de fundos públicos, é mais apetecível apostar em mercados maiores e mais maduros em relação à integração de novas tecnologias. Quando o objetivo é introduzir novas tecnologia com potencial de disrupção a nível global, não nos podemos focar apenas num país com um mercado de pequena dimensão como Portugal. No entanto, apostamos também em parcerias técnicas e na consolidação de parcerias comerciais em Portugal.
De momento estão a desenvolver vários projetos. Quais os mais relevantes e em que consistem?
Como referimos, estamos fortemente empenhados no sector marítimo de revestimentos para antifouling, quer de barcos quer de redes em aquacultura, que se mantêm o projeto central da nossa atividade. Temos vários projetos em curso nesse âmbito, quer com parceiros europeus, quer com parceiros na América do Sul ou ainda com grandes multinacionais líderes do sector.
Em situação de pandemia, decidimos apoiar as iniciativas em curso para combater a disseminação viral e testar a nossa tecnologia nesse contexto. Além do efeito antimicrobiano já demonstrado, pudemos assim comprovar ume efeito de degradação das proteínas virais que entrem em contacto com revestimentos contendo BMX-11. Temos a decorrer um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia em colaboração com o grupo do Prof. Carlos Cordeiro da FCUL que nos apoia na validação dessas soluções, assim como várias parcerias com diversas instituições nacionais para o lançamento de testes piloto para avaliar o seu desempenho em situação real de utilização.
Em tempo de pandemia desenvolveram uma aplicação para o controlo da propagação de partículas virais. Em que consiste essa aplicação?
De forma muito simples, integramos o BMX-11 em diversos revestimentos para superfícies, tendo demonstrado o seu potencial antiviral. Isso levou-nos a desenvolver várias soluções para paredes, mobiliários, chão e para os mais diversos materiais, como plásticos, madeira ou metal. Apesar de grande parte da transmissão viral se propagar por via aérea, as superfícies partilhadas com contacto por vários utilizadores são uma via de transmissão relevante e obrigam a procedimentos de desinfeção regulares, mas que não garantem uma limpeza permanente. As soluções que estamos a desenvolver garantem que partículas virais que contactem com essas superfícies protegidas sejam degradadas, interrompendo a via de transmissão, com uma proteção permanente e compatível com os procedimentos obrigatórios de limpeza em curso. Fica assim aumentado fortemente o grau de proteção em ambientes partilhados, o que permite não só reduzir a transmissão viral, mas também reforçar a confiança na utilização desses mesmos espaços.
Além da relevância para o combate a esta pandemia, as novas soluções têm uma aplicação mais alargada, pois são relevantes também no combate à propagação de bactérias patogénicas ou de outros vírus que estejam disseminados, como o da gripe, ou de outros que venham a surgir no futuro.
A BioMimetx mantém alguma parceria com centro de investigação e universidades?
Neste momento mantemos uma parceria de longa data com a FCUL, quer pela ligação de origem da criação da empresa quer pela proximidade física, pois estamos incubados no Teclabs, a incubadora de tecnologia dessa faculdade. Temos também projetos financiados a decorrer em colaboração no contexto das soluções anti-COVID, como já referimos.
No entanto, temos tido colaborações com grande parte do tecido académico em Portugal, e estamos sempre abertos a novas parcerias, embora estejamos também muito virados para parcerias com instituições estrangeiras, essencialmente grandes empresas em sectores relevantes para a nossa atividade.
O futuro da BioMimetx é continuar com projetos de investigação. Podemos contar com alguma novidade ou mais um produto inovador e patenteado para um futuro próximo?
A BioMimetx aposta fortemente em investigação e em consolidar novos produtos, pelo que teremos sempre uma forte componente de I&D, embora sempre com foco na utilização de BMX-11 em revestimentos, com grande enfâse em aplicações marítimas.
Nesta fase, a principal novidade são as soluções com aplicação antiviral, dada a necessidade de combater a pandemia com todos os meios disponíveis. No entanto, estamos continuamente a explorar outras potencialidades com diversas parcerias em curso, e esperamos consolidar a informação técnica necessária para poder vir a lançar novas linhas de desenvolvimento de produto num futuro próximo.
Contactos:
Tec Labs Centro de Inovação, Campus da FCUL, Campo Grande, 1749-016 Lisboa