Era uma vez o sonho de um clube… A história conta-se ao longo de 95 anos. No passado ficam as memórias das conquistas, entre elas o título europeu de hóquei patins: a Taça das Taças, na época de 1985/1986. No presente, a narrativa continua. Nas diversas modalidades, a Associação Desportiva de Sanjoanense ombreia com os melhores e a cidade de São João da Madeira une-se em volta de um clube que faz tanto pela região, quanto a região faz por ele.
Esta é a história de um clube com quase 100 anos. A histórica Sanjoanense é um dos míticos emblemas do distrito de Aveiro. Quem por ali passou, enquanto atleta, sabe que a paixão das bancadas se transfigura no campo, em qualquer modalidade, em qualquer escalão. É um clube movido por paixões e pela exigência de quererem estar entre os melhores.
Fundada em 1924, deu os seus primeiros passos, essencialmente, como clube de futebol, mas não foi preciso muito tempo para começarem a diversificar as suas atividades. Primeiro com a abertura da secção do atletismo e posteriormente com uma forte aposta no basquetebol.
Um dos pontos altos da história do clube não foi, no entanto, escrita com uma bola de futebol e chuteiras: em 1986, a Sanjoanense vencia a Taça das Taças em hóquei patins. Um resultado histórico que ganha uma nova dimensão com o regresso da equipa à primeira divisão.
Atualmente, o futebol, o hóquei, o andebol e o basquetebol são as figuras maiores das oito modalidades do clube. Mas destaca-se também a natação através da atleta olímpica, Ana Rodrigues, de 25 anos. Ao todo são mais de 1300 atletas, distribuídos em mais de 60 equipas, que todos os fins de semana entram em campo para representarem o brio da Sanjoanense, uma equipa de labor, que trabalha constantemente para superar a sua própria história.
Um novo fulgor
A última década não foi tão simpática para os cofres do clube quanto o desempenho entre linhas. A crise financeira também abalou a AD Sanjoanense. “A indústria, nos seus tempos áureos, deu um grande apoio ao clube, mas hoje em dia as empresas da região atravessam uma crise e por isso os apoios são escassos”, referiu o presidente do clube, Luís Vargas.
A história do clube teve quase o seu ponto final, mas a atual direção não baixou os braços. “Tivemos de apelar à nossa imaginação”, acrescentou. Dessa forma a direção optou por terminar com a profissionalização em todas as modalidades, deixando, assim, de ter atletas profissionais. Hoje, a saúde financeira está mais estável e o clube respira com um novo fulgor, como se vê pelos títulos alcançados: dos 42 títulos que o clube tem, 34 foram conquistados nos últimos 19 anos, uma clara mostra do crescimento do clube no novo milénio.
Contudo, Luís Vargas sublinha que o clube se mantém em contenção apesar do grande contributo “dos sócios e da Câmara Municipal. Trata-se de uma máquina muito grande, com quatro grandes modalidades muito pesadas, todas elas com grandes custos de inscrições, deslocações, arbitragens, segurança… necessitávamos de muito mais para ter mais equipas na primeira divisão”.
Hóquei Patins – o regresso à primeira divisão
O hóquei patins foi uma das modalidades que mais notoriedade deu à Sanjoanense. Entre várias presenças na primeira divisão salienta-se a conquista da Taça das Taças em 1986. Este ano, a equipa sénior regressou à primeira divisão, um patamar onde pretende manter-se durante os próximos anos.
A prata da casa enche as bancadas de orgulho, cada jogo é uma autêntica luta pela sobrevivência entre o escalão máximo do hóquei. “Depois de três anos de fora da primeira divisão, temos como objetivo a manutenção. Temos de nos empenhar todos em redor desta equipa porque é muito jovem e grande parte formada nos nossos escalões de formação”, vincou Luís Vargas.
Também o plantel feminino tem alcançado bons resultados, com o expoente máximo a ser alcançado em 2012 com a conquista da Taça de Portugal.
Futebol – o sonho da primeira divisão
Ainda que digam que alcançar a primeira divisão é praticamente impossível, não há impossíveis enquanto podermos acreditar, e é essa crença e essa paixão que faz encher o estádio Conde Dias Garcia, fazendo dele um castelo onde é difícil de se roubar pontos.
A disputar o Campeonato Portugal pelo quinto ano consecutivo, a Sanjoanense tem mantido um percurso discreto, embora existam objetivos ambiciosos. Após ultrapassar o grande desafio financeiro vivido durante a última década do clube, a ADS constituiu uma Sociedade Anónima Desportiva para o futebol sénior, apoiada por um investidor, que permite cobrir as principais despesas do futebol de alta competição. O objetivo é fazer regressar a ADS à segunda Liga dentro dos próximos cinco anos e reduzir os custos para o clube.
Dentro de campo a resposta tem sido positiva, no entanto, o Campeonato Portugal é um desafio cada vez mais exigente, uma condição também salientada pelo presidente: “esta série é muito complicada. Tem fogo, tem fogo mesmo!”. Se é certo que existem equipas com orçamentos mais elevados que outras, menos certo será apontar os favoritos à subida.Além disso, em São João da Madeira o sonho da Taça prossegue. A ADS ainda se mantém como uma competição mágica, na qual os pequenos clubes, por vezes, se elevam ao patamar dos grandes emblemas nacionais. “Já no ano passado fizemos uma boa campanha”, recorda o presidente a época em que a ADS caiu nos oitavos de final, no campo do Estoril, após o período de prolongamento. “Mas demos muito que fazer!”, realçou.
Este ano há uma esperança em fazer ultrapassar o registo da época passada. “Apostamos bastante na Taça de Portugal. Na 3.ª ou 4.ª eliminatória o prémio já é considerável e estamos sujeitos a calhar com um grande e ter uma grande bilheteira e uma atribuição televisiva”.
É certo que os jogos da taça são sempre imprevisíveis e a atual edição da Taça de Portugal já assistiu a várias surpresas. O Boavista foi eliminado pelo Chaves, o Espinho eliminou o Nacional, o Guimarães perdeu com o Sintrense e o Sporting caiu em Alverca. Porém, estes resultados não surpreendem Luís Vargas: “o nível de futebol na divisão de Portugal já não é tão baixo, aliás, pelo contrário, há bons jogadores, bons treinadores, boas estruturas”.
Questionado sobre as preferências para a próxima eliminatória, o presidente revelou-se dividido: “neste momento, a nível financeiro gostaria que nos calhasse um dos grandes, mas a nível desportivo gostaria que nos calhasse uma equipa mais acessível para que pudéssemos chegar, mais uma vez, aos oitavos de final”.
Formação
Este é um dos pontos prioritários do clube. Para valorizar a formação houve já vários passos dados, entre eles a certificação da Academia de Formação pela Federação Portuguesa de Futebol. O futuro prepara-se no presente e é com esse pensamento que a ADS trabalha, em todas as modalidades.
Todavia, apesar de se pretender potenciar a formação, ela não é uma novidade. Sinónimo da qualidade de trabalho que a Sanjoanense realiza neste sentido são os vários craques que por ali foram formados. O exemplo maior será o histórico defesa do Benfica, António Veloso, que deu os seus primeiros passos no futebol com o equipamento da ADS vestida. Também Vermelhinho, António Sousa e Secretário são nomes sonantes de antigas ‘fornadas’ da formação sãojoanina. Numa longa lista destacam-se ainda Litos, Paulinho, Ricardo Tavares, Cândido Barbosa, João Alves, Gil Dias, Xadas, entre outros.
Também treinadores bem conhecidos do futebol português alcançaram as suas primeiras conquistas na Sanjoanense, como foi o caso de Vítor Pereira, Luís Castro, Adelino Teixeira e Pepa.
Modalidades e o décimo segundo jogador
Equipados de negro e munidos de coragem. Em qualquer modalidade e em todos os escalões, ‘ninguém faz farinha’ com a ADS. Para os levar de vencida é preciso serem melhores e suar muito a camisola. Estes são valores intrínsecos nas oito modalidades, uma realidade que torna a Sanjoanense um clube especial.
No andebol, o clube disputa a segunda divisão onde luta pela promoção que, nos últimos anos, lhes foi escapando por muito pouco. Já no basquetebol a ADS joga a ProLiga. Para além das principais modalidades também o bilhar, a ginástica, a patinagem artística e a natação incorporam o elenco desportivo do clube.
A aposta da direção é clara em tornar a Sanjoanense um clube competitivo em todas as frentes e, apesar das dificuldades e dos desafios, tem alcançado resultados positivos. Além disso, em todos os jogos, o clube conta com o apoio de uma bancada fervorosa. Não é comum encontrar adeptos tão apaixonados como os que apoiam, todos os fins de semana, a
Sanjoanense.
As bancadas bem constituídas são regulares e o apoio é constante. Aqueles que são apelidados como o décimo segundo jogador são na verdade, quem em muitos jogos faz a diferença. Seja nos campeonatos regionais ou em competições nacionais, a bancada é preenchida com uma atmosfera única e uma ‘força negra’ que faz de São João da Madeira um dos ambientes desportivos mais cativantes de Portugal.
“Os adeptos distribuem-se pelas várias modalidades e são três pavilhões e um campo de futebol, e, mesmo assim, os jogos têm sempre bancadas bem compostas. Há qualquer coisa neste clube e nesta cidade, é uma paixão difícil de explicar”.
Uma atleta olímpica
Ana Rodrigues é um dos principais nomes do emblema de São João da Madeira. A nadadora olímpica é uma referência nacional e só na última época foi vencedora de cinco títulos nacionais, com dois recordes nacionais.
Atualmente com 25 anos, é apontada como um dos exemplos a ser seguidos no clube. “Todos os dias ela acorda às cinco da manhã para vir treinar e de seguida vai para o Porto, onde está a tirar o mestrado em Psicologia, ao fim do dia regressa e volta a treinar. A sua dedicação faz com que continue a ser a portuguesa mais rápida e a bater recordes nacionais. É uma atleta impressionante”, manifestou o presidente.