No Porto existe uma academia de taekwondo songahm que, em apenas cinco anos de existência, já formou campeões europeus de várias idades. Mas o foco é mesmo formar bons alunos e cidadãos.
Todos nós já ouvimos falar de taekwondo, a arte marcial tradicional coreana, cujo nome significa modo de pontapear e golpear, e que é uma modalidade olímpica. Mas talvez não conheçamos ainda muito bem o taekwondo songahm. Este estilo tem como objetivo o desenvolvimento físico e mental dos alunos e é a base da Academia Invicta, no Porto.
A academia, situada na rua de São Dinis, nasceu em setembro de 2014, mas a história do seu fundador e a ligação deste às artes marciais vem de longe. “Comecei nas artes marciais há mais de 20 anos. Morei em Lisboa até aos meus 30 anos e depois vim para o Porto. Mas fiz lá a minha formação até ser cinturão preto, já ajudava os meus instrutores a dar aulas e já tinha o bichinho de abrir uma academia”, contou Hugo Casimiro à revista IN Corporate Magazine.
Formado em Engenharia Informática, a paixão pelas artes marciais falou mais alto e, em 2011, deixou a sua atividade profissional para abraçar um novo desafio a tempo inteiro. “Ainda estive algum tempo, em Lisboa e no Porto, a sair do trabalho e ir para a academia dar aulas. Em 2011 entreguei a carta de demissão. Foi uma decisão repentina”, explicou Hugo Casimiro.
Para quem sempre gostou de filmes de artes marciais, mas nunca pensou em praticar, não deixa de ser uma mudança que aconteceu “por acaso. Experimentei uma aula e gostei”, frisou.
Entre 2011 e 2014 tirou o CAP (formação de formadores) e acumulou aulas de informática com aulas de artes marciais em infantários, colégios e clubes desportivos no Porto para “aumentar o número de alunos”. Quando teve um número suficiente, abriu o seu próprio espaço.
“Temos alunos que os pais trazem para ganhar confiança, disciplina, autoestima. Os adultos vêm pela componente física, outros pela defesa pessoal. Uns querem conhecer pessoas. Temos famílias inteiras aqui. Fomenta-se bem a parte familiar. Os pais assistem às aulas dos filhos. Os alunos conhecem-se todos”, resumiu o 5.o DAN e instrutor certificado pela ATA (American Taekwondo Association).
Assim se percebe porque é que a Academia Invicta, exclusiva de taekwondo songahm, se apresenta como “mais do que uma escola de artes marciais, somos uma escola de vida”.
Para tal é preciso entender este estilo de taekwondo. E quem melhor do que um 5.a DAN (existem 9 DAN’s, ou seja, graus) a fazer isso por nós? “É um estilo de taekwondo desenvolvido por um mestre coreano, Haeng Ung Lee, que se mudou para os EUA com a ideia de difundir a arte marcial, mas achando que esta não transmitia a beleza da arte acabou por criar um estilo próprio, visualmente mais apelativo e adequado aos tempos modernos. O taekwondo olímpico foca-se muito na parte competitiva. O nosso foco é o desenvolvimento emocional, físico e mental do aluno”, sintetizou o professor.
Dos mais de 100 alunos que a Academia Invicta tem atualmente, “15 competem com regularidade”, mas “a nossa missão é desenvolver líderes para a vida”. E isso é possível graças aos seis valores básicos reforçados na academia: disciplina, comunicação, convicção, respeito, honestidade e autoestima. “Nós funcionamos por ciclos aqui na academia. De dois em dois meses mudamos o ciclo e a forma como comunicamos os valores. As aulas são muito dinâmicas”.
O que marca mesmo a diferença é a forma como Hugo Casimiro e os outros instrutores (há outros dois certificados) passam isso para os alunos. “Ligamos sempre o que eles fazem aqui na academia ao que fazem na escola e em casa. Pais, professores e instrutores trabalham em equipa para o desenvolvimento emocional da criança”.
Por exemplo, os menores de idade só podem fazer o exame para subir de graduação se trouxerem uma ficha preenchida pelos pais a dizer que “mostraram disciplina em casa e se portaram bem. Depois têm outra ficha para levar para a escola e na escola é o mesmo procedimento, dependendo dos objetivos de cada um”, elucidou o criador da Academia Invicta.
O facto de ser tudo feito com seriedade q.b. também ajuda a esse método de ensino de sucesso. “Não somos instrutores muito sérios ou sisudos. Os alunos têm de se divertir, apesar de toda a estrutura nas aulas, como começar com pés juntos, as regras para entrar, arrumar os sapatos no sítio certo, etc.”.
Resultado? Apesar do número de alunos adultos ter subido bastante desde a abertura da academia, a maioria continua a ser criança. As inscrições são possíveis a partir dos 4 anos e a turma dos 4 aos 6 anos é a que tem maior número de alunos. “A nível de disciplina, todos conhecem as regras. Os pais assistem à aula, fazem o juramento com eles e seguram alvos e tábuas para eles partirem. Gostamos dessa interação”.
Aliás, além de realizarem ações de team building em empresas e workshops de artes marciais, também têm o Legacy, um programa de formação de instrutores para alunos a partir dos 9 anos e cujas aulas são focadas na liderança e comunicação com os outros. “Temos uma aluna com onze anos que já é cinturão preto e ajuda nas aulas. Foi campeã europeia em 2019 e campeã nacional em 2018. Temos alunos que quando vão às competições vêm carregados de medalhas. Não é o nosso foco. É consequência. Prefiro um pai vir ter comigo e dizer que o filho está mais confiante na escola”, lembrou.
A competição não é essencial, mas não podemos deixar de fazer referência a isso, até porque a Academia Invicta é a única no Porto que pertence à Federação Portuguesa de Songahm. Como tal, entra no circuito nacional de competição e no torneio europeu. Têm 17 títulos europeus, sendo que alguns são do mesmo aluno.
A preocupação, agora e para o futuro, passa por aumentar o número de alunos e expandir o espaço. “Queremos levar o Taekwondo Songahm a mais crianças, jovens e adultos. Queremos realizar a nossa missão de formar Líderes para a vida e contribuir desta forma para um mundo melhor, através das artes marciais, um cinto preto de cada vez.”