José Oliveira, Presidente do Conselho de Administração, Horácio Ferreira, Diretor Geral, e Ilídio Silva, Diretor Financeiro, dão o rosto à Cacial, a Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve, que há 56 anos mantém o compromisso de zelar pelos seus associados, sem descurar a sustentabilidade social, ambiental e económica. O estatuto de PME Líder e Excelência foi, uma vez mais, renovado.
Para começarmos, peço-lhe que apresente a Cacial aos nossos leitores.
José Oliveira – A Cacial foi fundada em 1964 e opera há mais de 50 anos. Surgiu com uma necessidade dos produtores agrícolas: a de criarem uma estrutura que pudesse comercializar as laranjas do Algarve – juntaram-se e formaram a Cacial. Atualmente, considerando todos os associados, pomares próprios e outros produtores, estamos a falar de uma área de cerca de 1200 hectares, em toda a região do Algarve. A Cacial opera, anualmente, mais de 35 milhões de quilos de citrinos.Trabalhamos com cerca de uma centena de produtores, associados e outros. Já tivemos mais associados, mas fizemos uma reorganização e agora só está na Cacial quem produz exclusivamente para nós, pois é um imperativo do código cooperativo – um membro tem que por toda a sua produção na respetiva Cooperativa.
Nos últimos 15 anos crescemos continuamente e, fruto também do contínuo investimento em tecnologia e na modernização das instalações mesmo nos anos de crise. Hoje, a Cacial tem uma equipa de cerca de 100 colaboradores na central de embalamento e apoio técnico aos produtores e quase outros tantos no trabalho de apanha de fruta.
A região do Algarve é muldialmente reconhecida, não só pelas suas praias, mas igualmente pelos seus citrinos. Como é que se explicam as diferenças que estes produtos apresentam quando provenientes desta região?
Horácio Ferreira – Começamos por dizer que temos uma exposição maior à influência dos ventos do Atlântico, o que para nós se caracteriza em ventos mais fortes e mais frios em comparação com outras regiões produtoras. Esta situação, aliada às restantes condições edafoclimáticas e do tipo de solo, conferem aos nossos citrinos, um equilíbrio entre os açucares (Brix) e a acidez, do qual resulta um índice de maturação (IM) equilibrado e sempre com uma sensação de frescura. Estas são as grandes diferenças da nossa laranja, conjuntamente com a sua cor intrínseca e maior percentagem de sumo.
Devemos à Cacial o reconhecimento da Indicação Geográfica Protegida para estes produtos. Foi um contributo inestimável para a região e seus prdutos!
JO – Em 1994, ‘Citrinos do Algarve’ foi reconhecido como indicação geográfica tendo sido definidas as condições em que o seu uso podia ser efetuado, cometendo à CACIAL, a sua gestão. Hoje o facto de um produto ter associado um certificado IGP confere-lhe perante o consumidor a garantia de qualidade e sustentabilidade de processos de produção.
Acreditamos cada vez mais que o reconhecimento da Indicação Geográfica Protegida será um grande fator de mais valia para o Algarve e particularmente para o setor citrícola.
São mais de 50 anos ao serviço dos produtores e a defender os seus melhores interesses em prol da sustentabilidade de todos. Que balanço fazem dos mesmos?
HF – Naturalmente que o balanço é positivo, caso contrário, não teríamos 56 anos de existência. Mas também o que tem vindo a acontecer, é que temos sabido ler a evolução dos tempos e temos acompanhado essa mesma evolução.
Há um acompanhamento muito próximo da Cooperativa aos seus associados, correto?
HF – Quando iniciámos o trabalho da nossa CACIAL, toda a responsabilidade de produzir era do produtor. Hoje cabe à CACIAL o acompanhamento técnico a todos os produtores que connosco trabalham. É da responsabilidade da CACIAL os amanhos culturais em número significativo de explorações, e também está a nosso cargo a colheita de quase toda a fruta que nos chega para laboração. Hoje prestamos ao produtor os serviços por ele solicitados.
É imperativo falarmos da situação que o país atravessa. De que forma a pandemia afetou o setor agrícola, em particular a região do Algarve e a produção dos citrinos?
JO – Até agora podemos dizer que o setor da citricultura quase passou ao lado em relação às dificuldades que a pandemia apresentou à economia e à sociedade. A perceção de que a fruta fresca e particularmente os citrinos fazem bem à saúde levou a que a procura tenha apresentado valores crescentes.
No entanto a necessidade de adaptar as centrais e os procedimentos em relação às regras de segurança levou a maiores custos que também se fizeram sentir nos transportes afetos ao pessoal das centrais e do campo. Sabemos que o futuro próximo será difícil para as famílias e consumidores, e essa situação irá ter reflexos inevitáveis na comercialização e consequentemente em todo o setor.
Sentem que as medidas adotadas pelas entidades competentes têm sido suficientes para ajudar a alavancar novamente a economia e o país?
JO – Como foi dito o grande problema que poderá vir num futuro próximo prende-se com o agravamento da situação económica do país, das famílias e consumidores. É um problema que é transversal a todo as atividades e generalizado internacionalmente. As medidas adotadas serão certamente as possíveis, mas no setor esperamos maior atenção nos problemas relacionados com a mão de obra e com as ameaças fitossanitárias.
Na vossa perspetiva, o que ainda falta fazer?
HF – O homem é sempre um produto inacabado, mas sempre em progresso. As empresas são feitas e compostas por pessoas, logo devem saber ler os indicadores de mercado e agir em conformidade. A CACIAL não foge à regra e, por isso, enquanto líder no mercado citrícola nacional, está sempre preocupada em servir e bem servir os seus clientes e produtores. Nesta perspetiva, muita coisa falta fazer no sentido de estarmos sempre na vanguarda tecnológica deste sector. Porque o crescimento nos empurra para o desenvolvimento, falta-nos fazer em primeiro lugar uma nova central de primeira linha em consonância com o que de melhor existe no sector. Estamos a preparar novas áreas para o reforço de produção própria.
Não podemos deixar de referir que, uma vez mais, renovaram o estatuto de PME Líder. É o reconhecimento merecido pelo empenho, dedicação e trabalho desenvolvido?
Ilídio Silva – Sim, renovamos o estatuto de PME Líder pelo oitavo ano consecutivo, e pela primeira vez obtivemos a distinção de PME Excelência, algo que muito nos orgulha a todos. Este é um estatuto que ambicionávamos obter desde 2017, no entanto não logramos atingir nos dois anos anteriores, por poucas décimas.
Como sabemos, os critérios económico financeiros para atribuição do estatuto de PME Excelência, são extremamente exigentes e alteram de ano para ano, pelo que, só uma gestão rigorosa, focada na eficiência dos recursos, no investimento constante em inovação, mesmo quando as condições externas são mais adversas, e na credibilidade da marca “CACIAL”, nos permitiram conquistar esta distinção.
É de salientar que, a CACIAL tem vindo a apresentar nos últimos anos, e de forma consecutiva, taxas de crescimento do volume de negócios na ordem dos 30 por cento, o que demonstra a confiança que os nossos clientes depositam na nossa organização, tanto a nível nacional como internacional, mas também a capacidade revelada pela Cooperativa, para os novos desafios que lhe são apresentados.
Naturalmente que sermos PME Excelência, representa para todos nós uma responsabilidade acrescida, pois queremos manter nos próximos anos, a distinção alcançada.
Faltam poucos anos para a celebração dos 60 anos da Cacial. Onde espera que encontremos a cooperativa nessa altura?
JO – Temos nos nossos horizontes uma forte expectativa em continuar a crescer no mercado externo e para isso sentimos a necessidade de novas instalações. Necessitamos de uma central dotada de tecnologia de última geração onde a automatização e a inteligência artificial nos permitam aumentar a eficiência nos processos. Necessitamos também de um aumento significativo na capacidade de frio.
Com estas premissas queremos manter os níveis agora atingidos e continuar a merecer a distinção de PME Lider e PME Excelência.