Nas Avenidas Novas estão sediadas muitas das mais importantes empresas nacionais e internacionais, que dão à freguesia uma vitalidade económica assinalável, para a qual a restauração contribui de forma visível. É que alguns dos melhores restaurantes da cidade estão por aqui. Ana Gaspar é a presidente da Junta de Freguesia de Avenidas Novas e o rosto de um executivo que se quer manter próximo dos seus ‘vizinhos’. A simpatia e a naturalidade como recebeu a IN é a sua forma de estar e de honrar a confiança depositada pela população de Avenidas Novas.
A Em 24 freguesias, Lisboa é um território de muitas semelhanças e, também, de muitas diferenças. Qual o papel de Avenidas Novas no conjunto de todas as freguesias que compõem a capital?
As Avenidas Novas são de facto uma formidável freguesia e não o digo por sempre ter morado aqui, mas porque de facto é um espaço interessante em termos de território pela sua variedade. Temos muitas unidades hoteleiras, muitos equipamentos culturais, muitas empresas e muitos cidadãos que optaram por residir aqui, portanto aqui só nos falta o rio, mas já estou a tratar disso (conta-nos Ana Gaspar de forma humorada). Do comércio local aos parques verdes, esta é uma freguesia onde se pode passear e até provar os sabores de todo o mundo – a Freguesia de Avenidas Novas é um verdadeiro mundo. Há restaurantes de Chefs reconhecidos e tascos mais modestos que nos servem pequenas maravilhas, ou seja, há excelente comida e de todo o mundo e isso é uma importante marca distintiva das Avenidas Novas. É uma zona centralíssima da cidade de Lisboa, por isso tem todos os meios de transporte.
É inegável que estamos perante uma “Freguesia Capital”, onde encontramos vários ícones associados a Lisboa (como o Fundação Calouste Gulbenkian, a Praça de Touros do Campo Pequeno, o Palácio Mendonça, o Parque Eduardo XVII entre muitos outros), assim como a sede de importantes empresas. A sua centralidade é um dos trunfos de Avenidas Novas? Que outros elementos diferenciadores podemos destacar?
Em Avenidas Novas, como já referi anteriormente, temos tudo exceto o rio (risos). Temos espaços culturais, espaços hoteleiros de excelência, temos jardins deslumbrantes – que estão todos a ser recuperados e valorizado -, temos comércio local. Temos reunidas na nossa freguesia, todas as condições para quem queira apenas dar um passeio ou ir a uma esplanada. É muito bom viver aqui.
Tendo em conta a riqueza do património e, por outro lado, as necessidades da população e dos visitantes, quais as principais obras e iniciativas empreendidas pela Junta de Freguesia para promover a atratividade do território e a qualidade de vida de quem aqui vive e de quem por aqui passa?
A Baixa de Lisboa é um sítio extremamente notável em Portugal, por isso existe uma forte preocupação em que tudo se mantenha devidamente cuidado. De referir que o comércio local tem, da parte da Junta, uma grande atenção, pois é parte da dinâmica de Avenidas Novas. Exemplo disso é a nossa proximidade com a rede hoteleira que tem contado com o nosso apoio, seja em relação ao lixo ou a pequenas obras, como a reabilitação dos passeios, por exemplo. Estamos de momento também a requalificar a praça Nuno Gonçalves, no Bairro do Rego, uma obra que ficará notável.
No comércio local desenvolvemos o ‘Cartão do Freguês’, um programa que reúne lojas e cidadãos. As lojas ficam favorecidas por ter mais movimento e os fregueses têm acesso a descontos, o que lhes permite uma maior poupança nas suas compras. Herdamos ainda alguns problemas de sinalização a qual tivemos de reordenar.
No entanto, os nossos fregueses serão sempre o motivo de todos os esforços do atual executivo e por isso terão sempre a nossa entrega total. A pandemia trouxe-nos uma preocupação extra, a de dar o apoio às famílias mais carenciadas que, de outra maneira, passariam muitas dificuldades. Neste âmbito ajudamos as famílias que precisam realmente de apoio, e que aqui também existem, através da distribuição de kits de refeição e de outras iniciativas. Apoiamos também as pessoas mais velhas que por vicissitudes da vida enfrentam a solidão e se encontram sem qualquer ajuda. Distribuímos kits de refeição. Temos a preocupação de estar presente quando os nossos fregueses precisam de nós. Há pequenos passos e grandes passos, mas todos eles têm de ser seguros e realizados através de um contacto com os ‘vizinhos’ (forma carinhosa como Ana Gaspar designa os fregueses) e de outras partes do mundo com as quais estamos em contacto. Vivo aqui, obviamente frequento o mercado, a escola, portanto é fácil abordarem-me de uma forma menos formal, mas é assim que me sinto bem, faz parte da minha maneira de ser ouvir as outras pessoas e estar atenta a todos os problemas que possam surgir.
Podemos dizer que a valorização do património histórico e cultural são prioridades? Que outras áreas consideram prioritárias?
Sem dúvida, Avenidas Novas é riquíssima em Património, mas não só. A arquitetura está presente de várias formas e é representativa de várias épocas da História de Portugal. A cultura está também muito presente através da Fundação Calouste Gulbenkian, um dos principais polos da valorização da cultura em Portugal, mas não só.
No entanto a nossa prioridade são as questões sociais e a proximidade com os nossos fregueses. Com a questão da pandemia e mais recentemente da vacinação, a Câmara instalou, na cidade universitária, um centro de vacinação onde temos uma equipa da Junta sempre presente para ajudar as pessoas. Destaco ainda os problemas de saúde mental, alguns agravados pelo isolamento a que a pandemia nos forçou. Para colmatar esta problemática temos consultas diárias das nossas psicólogas. Inovamos também naquilo a que normalmente é designado de academia sénior. Fui professora muitos anos, portanto custa-me que se encarem as academias seniores, por alguns, como um espaço para entreter os mais velhos. Mas não é assim, uma academia deve servir para estimular o cérebro e foi isso que fizemos. Incluímos uma psicóloga clínica e reformulamos esta iniciativa de tal forma que a Gulbenkian se interessou por este projeto.
Com a impossibilidade e a suspensão de atividades da academia, utilizamos a internet para criar um serviço fundamental para quem, com a pandemia, ficou ainda mais isolado. De referir que a internet foi uma ferramenta para nos mantermos presentes juntos dos nossos ‘vizinhos’, em diversas iniciativas, da cultura até á atividade física. Todos os dias os nossos professores de educação física promoviam a atividade física para quem estava em casa. Acho que tem corrido bem, como professora acredito que o ser humano tem uma enorme capacidade de resiliência para ultrapassar qualquer problema.
Que obras ou projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento para a Freguesia de Avenidas Novas gostaria de destacar?
Este foi um mandato direcionado para os meus ‘vizinhos’. Bairro a bairro, rua a rua, eu conheço esta freguesia e estas gentes. Tenho por isso uma grande competência de olhar atentamente para os problemas que vão surgindo e os que poderão surgir. Foi algo que me enriqueceu, é um olhar para o lado, perceber quem precisa da nossa ajuda e como podemos contribuir. A solidariedade humana faz parte da minha história de vida. Não conseguindo chegar a todos, mas fazemos de tudo para chegar a todos essencialmente aos que mais precisam de nós.
Para mim o que é fundamental é trazer para a freguesia um executivo que seja capaz de qualquer desafio. Trouxe para a gestão, um ex-gestor que passou por várias multinacionais, para o espaço público arquitetos, para a comunicação, alguém de comunicação… ou seja, foi importante trazer técnicos especializados para os vários gabinetes da Junta. Hoje em dia para se exercer políticas ao nível das Juntas de Freguesias, é necessário um grande profissionalismo, portanto foi fundamental reunir as pessoas certas para criar um executivo altamente competente.
Que balanço faz deste mandato, tendo em conta que houve uma pandemia que certamente, trouxe uma necessidade de rápida adaptação e de readaptação do orçamento da Junta de Freguesia?
Temos um orçamento que é gerido de forma muito rigorosa. Com o estado de emergência tivemos naturalmente de fazer um esforço para reforçar o Fundo de Emergência Social. De destacar que fomos das primeiras freguesias a ter um plano de emergência.
Os kits de refeição são um desses esforços, além disso temos o nosso serviço porta a porta. Tenho a sorte de ter uma equipa incrivelmente competente, neste caso, foi essencial o trabalho de um dos nossos vogais que trabalha também na proteção civil de Lisboa, e temos também um engenheiro com essas funções, portanto tínhamos tudo para dar uma resposta o mais breve possível e avançar para o terreno, assim como fizemos.
O balanço é por isso positivo. Conseguimos cumprir aquilo a que nos propusemos em termos dos contratos de delegação de competências. Tivemos ainda um olhar sobre o nosso território que nos fez perceber as lacunas para as quais precisaríamos de criar respostas. Naturalmente que houve coisas que se atrasaram, mas são projetos e obras que iremos fazer. Quisemos alargar a presença da Junta de Freguesia a todo o território, nesse sentido temos uma instalação no Bairro do Rego que está dotada com um gabinete de enfermagem e um posto de serviço do espaço cidadão. Os vários bairros, todos eles distintos entre si, têm a nossa proximidade. Recentemente tive uns ‘vizinhos’ que se juntaram para plantar um jardim, esta ação de responsabilidade social e de cidadania não podia deixar de merecer todo o nosso apoio e assim nos juntamos para auxiliar na criação desse jardim. É certo que temos um olhar atento sobre a freguesia, mas também daquilo que os ‘vizinhos’ podem fazer, e há cada vez mais vizinhos que dão ideias e que querem participar nas nossas ações.
O cargo de presidente da Junta continua a ser um desafio?
Continua a ser nitidamente um desafio. Não encaro as coisas como ganhar ou perder, este é um jogo democrático e tanto eu como a minha geração se debateu muito pela democracia, portanto este é um cargo que me honra e que eu espero continuar a honrar, se a minha gente quiser. Gosto da política por gosto da polis. Sou professora, fui sindicalista, fiz muita coisa, não só em Portugal, mas noutras regiões do mundo também. De facto, o meu olhar sobre a polis faz-me acreditar em fazer algo que fizesse a diferença, porque temos o dever de ajudar os outros e a isso eu chamo de dar mimo as pessoas. Quando tenho uma equipa de cantoneiros que colocam uma calçada de forma perfeita sem buracos, estamos a dar o mimo, por exemplo a alguém que não vai cair. São pequenas coisas que fazem a diferença.
Os moradores de Avenidas Novas têm a possibilidade de fazer o cartão freguês? Como surgiu esta iniciativa e que tipo de vantagens oferece ao freguês?
Este é um cartão que serve as várias lojas da freguesia e os fregueses – neste momento temos a adesão de mais de 100 lojas. Este cartão oferece um desconto estipulado pela loja aderente. Além deste cartão temos também duas feirinhas que têm sido um sucesso estrondoso. Temos artesãos locais e muitas pessoas da cidade que vendem aqui, portanto há muita coisa que podemos fazer. O cartão freguês favorece tudo isto. Algumas lojas estão a tentar sobreviver e a passar por um período muito delicado, portanto é uma forma de promover a filosofia de se comprar local.
Como vê o papel das Freguesias na gestão da Cidade?
São fundamentais, sem dúvida nenhuma. A Câmara de Lisboa é um Mundo e as Juntas de Freguesia são fundamentais para aproximar esse Mundo do Mundo real e das suas gentes. Através da delegação de novas competências é dado às Juntas de Lisboa meios para agir melhor, de forma mais célere, e com melhores respostas. As Juntas de freguesia são por isso essenciais para a melhoria da vivência de todos os fregueses.
A descentralização de competências trouxe uma maior autonomia às Freguesias de Lisboa. Isso reflete-se numa Capital melhor e mais próxima das suas gentes?
A verdade é que devido ao trabalho desempenhado pelas Juntas de Freguesia, bem como a dimensão das diversas freguesias, acabamos por ser pequenas Câmaras Municipais. De facto, cada Junta de Freguesia, seja através do seu orçamento ou através através das competências que lhes são asseguradas, fez com que Lisboa se tornasse uma cidade mais próxima das suas gentes. É importante por isso analisar não só à escala da freguesia, mas à escala da cidade.