Sara Silva é a Presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) desde abril de 2019, mas já se encontra na Comissão desde 2010.Com grandes objetivos para a CVA e grandes expectativas para os Vinhos do Algarve, conta-nos como tem colocado em prática as suas ideias.
Foi no edifício onde se encontra a CVA, um edifício já antigo, que a parte mais institucional e organizacional do setor iniciou. Após a delimitação das denominações de origem protegida (Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira), nos anos 80, houve a necessidade de uma nova organização do setor e assim se caminhou para o perfil de Comissões Vitivinícolas Regionais. Este processo teve o objetivo de proteger, defender e certificar os produtos com Dimensão de Origem e Indicação Geográfica. A CVA foi estabelecida em 1994, com as mesmas intenções que as outras regiões.
Uma das mudanças mais importante desta Comissão foi a alteração da nomenclatura e imagem, em 2010, visando dar mais ênfase à região algarvia e ao nome Algarve.
Sara Silva faz referência ao foco principal da Comissão que considera ser a transparência e imparcialidade, “Nenhum dos nossos colaboradores tem qualquer negócio ou colabora com outro produto, temos que ter essa independência e este afastamento para realizarmos as nossas atividades de certificação e controlo com maior isenção e independência”. Outro dos focos da CVA é a colaboração e cooperação com os seus produtores em diversas áreas, ou seja, existe uma ajuda contínua que vai desde a divulgação de apoios até à formação, passando pelas dificuldades de cada um. Em outubro serão lançadas duas novas formações, uma relacionada com as vendas e outra sobre o enoturismo. A presidente adianta que também é essencial manter a inovação da Comissão, que tem passado pela certificação da gama de produtos e como exemplo, refere que foi recentemente lançada a creditação de espumantes, algo que era ansiado pelos produtores. Incentivam os parceiros a certificarem as colheitas tardias, o que enriquece a gama de produtos e fortalece a região, uma lacuna que a Comissão conseguiu combater nos últimos anos.
A casta Negra Mole que só existe no Algarve tem sido uma grande aposta por ser uma casta extremamente versátil, que valoriza e diferencia a região.
Para Sara Silva, a principal riqueza da CVA é a diversidade de origens dos produtores: neste momento, quase metade são estrangeiros e isso traduz-se na variedade e características dos próprios vinhos. Por outro lado, “temos uma região tão pequena com uma diversidade muito grande de solos, temos a costa com solos mais arenosos, a zona do Barrocal mais rica a nível do argilo-calcários e a zona mais a norte que está a ser mais explorada”, acrescenta a Presidente.
O foco da Comissão Vitivinícola do Algarve passa por atuar apenas na região, a maior parte dos seus produtores não têm quantidades suficientes para exportar o vinho para resto do território nacional, tornando assim o seu comércio maioritariamente regional. Felizmente há casos de produtores que têm capacidade para exportar os seus vinhos até mesmo a nível internacional. “Esta questão da pandemia veio abrir as mentalidades de alguns produtores que têm de fazer esse caminho e não ficarem totalmente dependentes da região”, refere Sara Silva. Como forma de ajudar neste salto para a internacionalização, a CVA tem parceria com o NERA (Associação Empresarial da Região do Algarve), que desenvolve projetos na área agroalimentar.
Uma das dificuldades que as pessoas apresentam é o facto de não encontrarem o vinho que provaram e gostaram nas suas localidades, até porque cerca de 80 por cento dos vinhos algarvios só se encontram nesta região.
A pandemia também trouxe desafios e instabilidade económica, mas os produtores perceberam que tinham de trabalhar e investir em lojas online, e também se tornaram mais ativos nas redes sociais, assim conseguiram dar a volta às condições impostas pela pandemia e entraram numa era de digitalização. No que toca à relação que existe entre os produtores e a Comissão é muito positiva, “ a porta está sempre aberta (…) A casa é dos produtores”, comenta a entrevistada.
Mais de metade dos produtores têm uma forma de oferta de enoturismo, desde provas de vinhos até à forma mais complexa de ter alojamento nas quintas. É um setor com grande potencial no Algarve e que se encontra em constante crescimento, mesmo com a quebra instalada pela pandemia. A CVA lançou em 2019 uma aplicação de apoio ao enoturismo algarvio: chama-se Algarve Wines, é gratuita e permite aceder à oferta que existe dentro das quintas, indica os restaurantes que incluem na carta vinhos algarvios e enumera os locais de venda dos produtos. Em 2020, a aplicação sofreu alterações, com uma imagem mais apelativa e disponível também para IOS, serve agora como ferramenta intemporal de comunicação.
À volta deste setor existe ainda uma esperança de combater a sazonalidade turística do Algarve, proporcionando uma oferta de experiências ao longo do ano.