Na contagem decrescente para o novo ano lembramos acontecimentos que marcaram 2021 para além da pandemia COVID-19 que vão desde o ambiente, passando pela saúde (individual e do planeta) e política. O critério é o alcance no tempo para além do impacto imediato que tiveram.
Primeira vacina contra a malária
Pode não ter sido notícia de abertura dos telejornais, mas a aprovação por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS) da primeira vacina contra a malária para crianças é um dos destaques de 2021. “Um dia histórico”, como referiu a OMS na data do seu anúncio, a 6 de outubro. Esta doença mata cerca de 650 mil pessoas todos os anos – metade das quais são crianças com menos de cinco anos – e mantém-se como uma das principais causas de morte em países pobres. A vacina RTS,S conhecida como “Mosquirix”, foi desenvolvida originalmente pela farmacêutica GlaxoSmithKline, requer quatro inoculações, e contou com o apoio de organizações sem fins lucrativos como a Fundação Bill e Melinda Gates.
Tóquio 2020 e Simone Biles
A maior ginasta de todos os tempos lembrou-nos que às vezes não há problema em não estarmos bem. E que é mais do que os seus resultados desportivos. Palavras que desencadearam uma onda de apoio massiva e encorajaram outros atletas a dar o seu testemunho sobre como o desporto de alta competição pode prejudicar a saúde mental. Para os Olímpicos a fasquia de Simone Biles era alta: igualar ou ultrapassar as cinco medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro ou tornar-se na primeira ginasta a defender com sucesso o título olímpico no concurso completo em mais de 50 anos. Acabaria por retirar-se da final individual do “all-around” para se focar na sua saúde mental. “Às vezes sinto que carrego o peso do mundo nas minhas costas”, escreveu Biles na rede social Instagram. E quem nunca se identificou mesmo não sendo “a maior de todos os tempos”?
Tomada de posse de Joe Biden
Exceto se for um domingo, e então será no dia a seguinte, a cerimónia de tomada de posse do Presidente dos Estados Unidos no Capitólio, em Washington, é sempre no dia 20 de Janeiro e é conhecida como “Inauguration Day”. Joe Biden foi eleito a 11 de Novembro de 2020, derrotando assim o candidato do partido conservador Donald Trump que contestou a contagem de votos, mas sem sucesso. Kamala Harris também fez história sendo eleita a primeira mulher vice-presidente da América.
No primeiro discurso como presidente, Biden referiu “um novo dia” para a América, prometendo combater o extremismo político, a supremacia branca e o terror doméstico. A nível interno a profunda divisão entre os americanos é mesmo o principal desafio do presidente democrata. Aliás, duas semanas depois apoiantes de Trump invadiram precisamente o Capitólio, causando a morte a cinco pessoas.
Uma das primeiras ordens executivas do 46º presidente americano, assinada logo a 20 de Janeiro, foi a reentrada dos Estados Unidos nos Acordos de Paris.
COP26: acordo imperfeito
Com as alterações climáticas na ordem do dia, em Novembro os olhos do mundo estiveram postos em Glasgow. Mas as leituras sobre a cimeira estão longe de ser consensuais. Há quem tenha feito contas e concluído que a pegada de carbono gerada por esta conferência foi cerca do dobro da produzida há dois anos. Detalhes à parte, já que este é um pormenor no grande esquema das coisas, há aspetos positivos a destacar da COP26. Foi bem-vindo o acordo firmado entre mais de 100 países, incluindo Brasil, China, Rússia e Estados Unidos, que prometeram acabar com a desflorestação até 2030. Embora não vinculativo, o acordo abrange cerca de 85% das florestas do mundo cruciais em termos ambientais.
Biden levou à cimeira o Compromisso Global de Metano, no qual os signatários concordaram em reduzir as emissões de metano em 30% até ao final da década. O metano é um dos principais gases de estufa e é responsável por um terço do aquecimento global provocado por atividades humanas como a agricultura. Apesar do acordo, ficaram de fora os três principais poluentes – Rússia, Índia e China – sendo que estes dois últimos países acabaram por marcar a cimeira. A China porque comprometeu-se, em conjunto com os Estados Unidos, a reduzir as emissões nesta década e a Índia porque conseguiu adiar o fim do uso do carvão numa viragem de última hora.
A cimeira foi marcada também pelo forte ativismo nas ruas, com Greta Thunberg a declarar o seu fracasso ainda antes do seu fim, e por episódios como a comoção do presidente da conferência, Alok Sharma, enquanto se desculpava pela forma como decorreram as negociações de última hora. O texto final acabou por ser considerado genericamente “imperfeito”. Embora se tenha mantido a ambição de limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus celsius, as medidas para alcançar esta meta foram suavizadas.