Num testemunho sincero e generoso, Natalina Correia fala-nos de si, do seu percurso e da profissão que abraçou nos últimos seis anos. A consultora imobiliária partilha connosco as suas reflexões sobre a dureza de um caminho que, embora bem sucedido, teve muitos momentos de insegurança. Uma visão lúcida e desempoeirada desta “viagem fascinante” do que é “perceber qual a razão de andar por cá”.
Quem é a Natalina?
O que a maioria das pessoas conhece sobre mim é que tirei Licenciatura em Línguas e Relações Internacionais na Faculdade de Letras do Porto e fiz Minor em Estudos Europeus em Maastricht. O que a maioria das pessoas não conhece é que aos dezoito anos emigrei para Inglaterra de forma a poder poupar para pagar a faculdade.
O que a maioria das pessoas sabe é que trabalho no Ramo Imobiliário há seis anos, que constituí a Equipa Tribo no terceiro ano, em plena pandemia, e que sou uma consultora de referência nesta indústria. O que a maioria das pessoas não vê é que durante os primeiros três anos trabalhava entre doze a catorze horas diárias e que esta caminhada tem sido uma montanha russa de emoções, nomeadamente ter estado bem próxima de uma depressão que levou a uma crise de identidade enorme. Coloquei tudo em causa. As minhas crenças, os meus valores, a forma como olhava para mim e para o mundo, tudo.
“Hoje sei quais são os meus talentos e quais são os meus desafios e uso isso da melhor forma possível”
O que a maioria das pessoas vê é uma Natalina empreendedora, com assistente administrativa, que criou uma Equipa. O que a maioria das pessoas não vê é que por detrás desse passo estava uma menina cheia de medo. Medo de falhar, de errar, de desiludir. De não conseguir ser um exemplo, uma líder. Que a verdadeira razão por trás da decisão de recrutar uma assistente não era faturar mais, nunca foi, mas sim libertar espaço para me poder conhecer. Sair do piloto automático e poder parar, ouvir-me. A Alexandra nunca foi uma assistente, a Alexandra foi a pessoa que me permitiu encontrar-me, curar-me.
O que a maioria das pessoas vê é que a Natalina é uma mulher confiante e segura de si. Com um grande poder de persuasão e influência, nos negócios e na vida. O que a maioria das pessoas não sabe é que na verdade tenho que trabalhar na minha autoestima todos os dias. Que por vezes ainda acredito que sou aquela menina do campo, pobre e insegura e sem moral para trabalhar com clientes milionários. As pessoas não vêm a quantidade de livros que leio sobre mindset, comportamento humano e neurociências.
O que a maioria das pessoas conhece é esta Natalina guerreira, destemida, aventureira que quando toma uma decisão não há nada nem ninguém que a possam abalar e que passa esta imagem de durona.
O que a maioria das pessoas não conhece é que por trás dessa guerreira há uma menina ainda a tentar encontrar a sua voz, a reconectar com a sua essência, com a sua verdade.
O que é que esta profissão e a KW lhe ensinaram?
Considero a profissão de consultor imobiliário das mais desafiantes que existem e poderia ficar eternamente a falar sobre isso. Vou simplesmente limitar-me a partilhar que esta profissão obrigou-me a crescer em todos os sentidos. A tornar-me mais confiante, mais resiliente, a lidar com a rejeição, a gerir emoções, a ter compaixão, a perdoar, a aceitar que somos todos diferentes e procuramos coisas diferentes. A cair e a levantar rápido. A lidar com a desilusão, com a traição, com a falta de compromisso, falta de profissionalismo. Ser consultora imobiliária fez-me querer ser líder, ser um exemplo, aprender a ouvir a opinião dos outros primeiro. Ensinou-me que quando somos líderes, a prioridade são as necessidades do outro, as nossas vêm por último, já dizia o Simon Sinek no seu livro Leaders Eat Last.
Levo imensas aprendizagens, suficientes para escrever um livro, mas acima de tudo, a KW fez-me ver a importância de saber o meu “Big Why”, o meu propósito. Não tinha noção da grandiosidade deste conceito quando o ouvi pela primeira vez em 2018 nem o papel que iria representar na minha vida. Desde então essa tem sido a minha obsessão: perceber qual a razão de andar por cá, e tem sido uma viagem fascinante.
E acha que já descobriu qual o seu propósito?
Sim e Não. Esta é uma questão que não tem uma resposta simples, basta termos em consideração que foi alvo de pesquisa de vidas inteiras de alguns dos maiores cientistas da história. Eu se calhar vou continuar esta procura eternamente. O que eu me fui apercebendo é que nesta área, onde se lida muito com pessoas e com muito dinheiro, foca-se muito pouco nas pessoas e muito no dinheiro. Fala-se muito que esta indústria é uma indústria de pessoas para pessoas, mas na realidade e infelizmente, não é bem assim.
Penso que o meu próximo projeto passará por trazer uma abordagem diferente ao mundo das vendas. Trazer esta consciência aos profissionais do setor imobiliário e a outros onde o foco é a venda, de que enquanto o foco forem os números, o sucesso será sempre muito limitado e pouco satisfatório. Pode ser compensador a curto-prazo, mas a verdade é que somos todos criados e munidos por esta necessidade de servir o outro. Não é por acaso que conhecemos imensas histórias de alguns dos maiores milionários da história que se aperceberam que mesmo possuindo todo aquele dinheiro, isso não os tornava mais felizes.
No fim de 2020, o meu melhor ano de sempre, tinha feito mais dinheiro do que algum dia pensava ser possível, e cada vez que recebia uma nova comissão, fosse de cinco mil euros ou de vinte, a sensação que eu sentia era sempre a mesma: vazio. Estava completamente apática, receber mais dinheiro não me estava a tornar mais feliz, muito pelo contrário. Não tinha tempo para fazer as coisas que gosto, para estar com as pessoas com quem gostava de estar nem para parar e processar os dias que passavam. Foi aí que decidi parar e reavaliar o que estava a acontecer e porquê.
Hoje tenho uma visão completamente diferente perante esta profissão, realmente focada nas pessoas e no valor que posso acrescentar, agora com um conhecimento muito mais aprofundado sobre mim, sobre o valor que acrescento aos meus clientes e a tudo a que me dedico. Hoje sei quais são os meus talentos e quais são os meus desafios e uso isso da melhor forma possível. Hoje tenho tempo para fazer tudo o que gosto, estar com as pessoas que gosto e trabalhar única e exclusivamente com as pessoas que gosto de trabalhar.
Se pudesse dar um conselho aos seus colegas de profissão, após essa caminhada, qual seria?
O mais importante nesta profissão, e na vida, é conhecermo-nos. Conheço tantas pessoas que são experts em vendas, em técnicas de fecho, em angariar, em fazer dinheiro. Mas depois quando se fala em inteligência emocional, valores, integridade, vulnerabilidade, sonhos, compaixão, servir, crescer, ficamos a falar sozinhos. Quando nos conhecemos um pouco melhor, a nossa vida muda, sempre para melhor. Convido todas as pessoas que se sentem a viver no piloto automático a pararem um pouco e observarem que pensamentos surgem com frequência, o que lhes está a dizer o seu corpo, como está o sono e o que lhe dizem as pessoas à sua volta. Por vezes estamos tão embrenhados nesta roda da vida que nos esquecemos de que cá dentro temos todas as respostas, se ao menos nos permitirmos parar.