A CASAPARASI é um nome já bem conhecido dos nossos leitores. Depois de termos falado pela última vez com Sandra Lopes, em finais do ano passado, chegou o momento de fazer um balanço a meio de 2023. O saldo é positivo, segundo a CEO, apesar de toda a variabilidade sentida no mercado nos últimos anos. Nesta edição de verão, a caminho das férias, Sandra Lopes diz-nos ainda que tenta “não deixar que a parte profissional tome conta” do seu todo e, com otimismo, até nos cita António Variações.
Sandra, falámos pela última vez em novembro do ano passado. Na altura falámos já da subida das taxas de juro, que continua, sem fim à vista. Que impacto tem sentido junto dos clientes e que alternativas tem conseguido encontrar?
O que sinto junto dos clientes é, principalmente, o medo de recorrer a um empréstimo com um pagamento mensal de um valor e daqui por uns tempos esse mesmo valor duplicar ou triplicar… há também muito “ruído” que a maior parte das pessoas não consegue filtrar e, a acrescentar, um “aproveitamento” enorme por parte das entidades bancárias, na minha opinião.
A habitação tem estado no “olho do furacão” da atenção política e mediática. Qual é a sua opinião sobre o programa “Mais Habitação” do Governo? Acredita que irá resolver algum problema?
Sou otimista, quero acreditar que sim. O programa tem alguns pontos que podem ser benéficos para zonas de interior do país. Claro que acontecendo isso tem de haver uma redução nas grandes zonas onde até agora a procura tem sido intensiva, levando na maior parte dos casos ao afastamento do cliente português, que não tem, na sua maioria, a capacidade financeira que a maior parte dos compradores estrangeiros tem.
O imobiliário continua a ser uma boa opção para quem tenha algum capital para investir? Seja para que fim for: revenda, arrendamento…
Sim, não tenho dúvida sobre isso. Continua a ser um dos investimentos, na minha opinião, claro, mais seguros num mundo cheio de inseguranças.
Esta é uma boa altura para quem esteja a pensar vender ou comprar casa? Porquê?
Aqui nesta pergunta tenho respostas diferentes… parece-me ser uma melhor altura para comprar do que para vender. Por outro lado, não deixa de ser uma boa altura para vender, e aqui vou buscar como exemplo a zona onde estamos sediados (Alto Alentejo, Ponte de Sor) onde a procura subiu bastante e, no caso de imóveis característicos da zona, esta é uma boa altura também para vender.
Portugal continua a ser um país com uma grande carga fiscal, apesar dos rendimentos médios da população serem baixos. Esta é uma realidade que afeta também as Micro, Pequenas e Médias Empresas. Neste contexto e aproveitando a sua experiência empreendedora, pergunto-lhe: é preciso muita capacidade de gestão para manter uma empresa viável em Portugal?
Sem hesitar, a resposta é mesmo afirmativa. O nosso país, e concordando com a sua introdução à questão, tem mesmo uma carga fiscal enorme, por vezes em conversas com clientes estrangeiros eles perguntam, após perceberem os impostos que temos, “como conseguimos viver?” Eu costumo dizer que um bom gestor não é o que gere uma casa com dinheiro, é aquele que gere uma casa sem dinheiro, e a maior parte de nós, pequenas e microempresas tem essa capacidade de gerir.
A caminho das férias para muitos, o verão é um tempo para retemperar forças. Onde é que a Sandra vai buscar a energia para fazer face a todo um ano de trabalho? Quais são as suas principais fontes de inspiração profissional e pessoal?
Esta é uma questão mesmo muito pessoal. Além da motivação para ter força e energia para poder ir pagando impostos… vou buscar à minha parte familiar, mas sobretudo e principalmente a mim mesma. Sempre acreditei que a força tem de vir de dentro de mim, nem sempre as horas e os minutos são fáceis, por vezes apetece deitar a toalha ao chão, mas quando vou “abaixo” venho acima com mais força ainda. “O que não nos mata torna-nos mais fortes”. Se não formos nós a lutar por nós não será mais ninguém. A música, momentos com amigos, alguma leitura, já não é a que desejaria devido ao cansaço, e os momentos só para mim, gosto de estar comigo. E tentar não deixar que a parte profissional tome conta do meu todo… “a vida não é como um castigo que tu terás que viver”, já dizia António Joaquim Rodrigues Ribeiro, mais conhecido como António Variações.