A partir do passadiço da Ribeira das Quelhas, partimos à descoberta de tudo aquilo que Castanheira de Pera tem para oferecer. E não é pouco, como é demonstrado pela marca dinâmica do concelho – “Por entre a Serra”, a Aventura, os Sabores, o Passado, a Neve ou a Tradição, motivos não faltam para visitar esta bela terra ao longo de todo o ano.
Passadiço da Ribeira das Quelhas
A paisagem envolvente ao Passadiço da Ribeira das Quelhas assume o papel de tela mutável, preenchida por cores, sons e odores que variam ao compasso da cadência das estações do ano. A obra de arte poderia muito bem assumir o epíteto de “ribeira das quatro estações”. A primavera, marcada pela paleta multicolor de urzes e carquejas, pinta encostas de lilás e amarelo, emanando odores adocicados num extenso manto sobre o qual adejam borboletas. O verão faz sobressair os tons azuis, reduzindo a ribeira a um mero fio de água. No outono, as folhas rústicas revelam a sua metamorfose de tons quentes que se fundem com o cheiro da terra húmida antes da nudez completa no período frio. O inverno alimenta a voracidade das Quelhas, concebendo majestosidade às quedas de água retumbantes, num espetáculo visual e sonoro ímpar, podendo, nos dias de maior rigor, pintar de branco toda a serpente de madeira.
O passadiço serpenteia o vale, que se abre à nascente do Coentral Grande, no encaixe majestoso entre as serranias do Cabeço do Pereiro e da Safra, numa extensão de 1100 metros. Com uma duração aproximada de 30 minutos e grau de dificuldade de nível dois (fácil), o percurso vence o declive acumulado de 323 metros entre as cotas altimétricas de 715 e 959 metros. À medida que os degraus escalam as escarpas rochosas, mirando o precipício das quedas de águas e o espelho das pequenas alagoas, as espécies arbóreas e arbustivas de grande valor biogenético, como o azevinho, a azinheira, o castanheiro, o carvalho-alvarinho e o amieiro negro, vão dando lugar ao manto de ericáceas e carquejeiras. De tipologia linear, o Passadiço das Quelhas apresenta-se como uma variante ao percurso pedestre PR2 CPR – Rota da Água e da Pedra.
A ribeira das Quelhas apresenta condições adequadas para a iniciação no canyoning, dispondo de seis rapéis de 14 a 20 metros e possibilitando a prática de saltos para a água.
Por terras laneiras de neveiros, latiqueiros e barretins
Um território de sentidos. As urzes e as carquejas pintam de roxo e amarelo primaveril as serranias. Âmbar escuro, de aroma intenso e travo levemente adstringente, o Mel da Serra da Lousã incorpora, na denominação da origem, os aromas e sabores florais da natureza que sentem no palato a excecional qualidade do precioso néctar. Ecoa no cair das primeiras folhas de outono, no cimo da montanha, entre a Antiga, a Catraia e a Safra, o bramir dos machos cervídeos durante a época de acasalamento. Verdejantes são os soutos dos Coentrais e os carvalhais do Corga, na aura do manto protetor do arbóreo monumental, que sobressai nas paisagens do património natural delimitado na Rede Natura 2000. E refrescantes são as águas cristalinas da ribeira, tropeçando nas quelhas pedregosas de granito e dos xistos roliços, mergulhando e correndo nos açudes e nas levadas, e espraiando-se, para gozo de milhares de veraneantes, nas ondas das Rocas…
Um território de memórias. Transpunham este vale e as serras os neveiros do Coentral, carregando nas carroças o gelo das neves recolhidas e armazenadas nos sete poços existentes no ermo do Cabeço do Pereiro. Prioritária no trânsito e no embarque de mercadorias no porto da Barquinha, a efémera e valiosa carga seguia por via fluvial, Tejo abaixo, até ao Terreiro do Paço. E assim, dos nevões dos frios invernos se fabricava e transportava o gelo que abastecia, servido em sorvetes e refrescantes bebidas, a corte real e os botequins da capital. Ali, de onde se avista o monte gémeo do Trevim, elevando-se no horizonte a 1205 metros, mandara Julião Pereira de Castro, neveiro-mor de Sua Majestade e detentor de igual monopólio da Fábrica de Gelo de Montejunto, edificar, no ano de 1786, junto aos referidos poços, a capela da sua antonina devoção por que passaria o lugar a ser popularmente conhecido como Santo António da Neve.
Andarilhavam por estes e outros caminhos os mercadores de lanifícios. Traziam das altas terras beirãs e de arriba e além-Tejo, as lãs torcidas no giro da roda, da roca e do fuso, com que as fiandeiras fiavam as meadas desnoveladas nas tramas e urdiduras da tecelagem. Depois de apisoada, lavada e estendida nas râmolas de sol, seguia a fazenda as rotas da venda dos latiqueiros pelas feiras, mercados e grossistas de norte a sul do país. Latiqueiros eram os falantes de laínte – socioleto ou gíria profissional transmitida entre os negociantes ambulantes de lãs e tecidos de Castanheira de Pera e arredores – percebida a vantagem concorrencial do uso codificado da linguagem paralela na concertação dos preços e nos alertas dos perigos nas longas viagens. Desta tradição laneira, que marcou a pujança do progresso industrial de outrora, é herdeira a Albano Morgado S.A., levando aos mais prestigiados certames internacionais tecidos de lã cardada da melhor qualidade. Envoltas na luxuriante vegetação ripícola jazem as ruínas de antigas fábricas, pisões e moinhos, que se abrem ao traçado de novos trilhos, percursos pedestres e passadiços ao longo das margens da ribeira, partindo à redescoberta do património histórico e cultural na senda da arqueologia industrial.
Um território de natureza vestida de cultura. Peça original de pura lã tecida no antigo tear circular de malhas, fazendo uso de maquinismos centenários e de técnicas artesanais que contam a singularidade da história dos lanifícios de Castanheira de Pera, o barretim preserva a autenticidade dos métodos de fabrico do barrete tradicional português. Especialmente concebido para os pedestrianistas e amantes da natureza, o barretim é o agasalho ideal para as caminhadas do outono à primavera
São múltiplos os atrativos e pontos de interesse proporcionados aos pedestrianistas e amantes da natureza, abertos a outras tantas atividades organizadas pela empresa municipal Prazilândia – turismo e ambiente.
Trilho do Neveiro (outono)
Combinando o turismo de natureza com o desporto e a aventura, participar no Trilho do Neveiro é o garantir do continuar de uma História, também ela de Conquistas e grandes feitos. Uma história de coragem e espírito de sacrifício de um povo na luta do dia-a-dia pela sobrevivência, em condições de extrema dureza: os Neveiros do Coentral. São 32 km no Trail Longo e 19 km no Trail Curto, com desníveis acumulados de cerca de 1600d+ e 900d+, respetivamente, que desafiam à conquista dos montes gémeos do Trevim (1204 metros) e do Santo António da Neve (1170 metros).
Herdeiros de um património histórico comum, que liga os poços da neve da Serra da Lousã à fábrica de gelo de Montejunto, na descoberta da Rota do Neveiro, os trilhos de outono em Castanheira de Pera prolongam-se na edição primaveril do trail do Cadaval.
Festival de Caminhadas (outono)
Outubro marca o regresso do outono, das cores quentes que pintam os vales das ribeiras, do odor a terra húmida e da água às cascatas. Por entre levadas, cumes, vales, carvalhais e soutos, é tempo de abrir a porta sul da Serra da Lousã e revelar os seus segredos. É tempo de viver a natureza em todo o seu esplendor, sentir a cultura entranhada na alma das nossas gentes e de se deixar encantar com paisagens arrebatadoras. É tempo de saborear a gastronomia regional, de provar a jeropiga e dar corda às botas de caminhada. Após o sucesso das caminhadas primaveris do Walking Weekend na Pampilhosa da Serra, trilhando a Serra do Açor, os pedestrianistas calcorrearam a primeira edição do Festival de Caminhadas da Serra da Lousã nos passados dias 6, 7 e 8 de outubro. Na agenda de outono, o festival promete continuar a dar a conhecer os recantos únicos de Castanheira de Pera, o seu património natural, saber-fazer, gastronomia e paisagens de cortar a respiração, com diversas caminhadas temáticas, repletas de experiências únicas e multissensoriais.
Doze meses, doze caminhadas (todo o ano)
Por todo o território do vale da Ribeira de Pera, abraçado pelas Serra da Lousã, todas as estações e todos os meses do ano proporcionam momentos únicos e experiências autênticas a desfrutar no tempo e a guardar na memória, que convidam a participar no programa de caminhadas organizado pela Prazilândia, Turismo e Ambiente E.M. Em 2023, os doze meses corresponderam a doze rotas temáticas: Rota das Levadas, Rota da Princesa Peralta, Rota dos Açudes, Rota Botânica (autóctones), Caminho dos Mortos, Lusco Fusco, Caminho do Tojeiro, Caminhada Aquática, Brama (ao amanhecer e entardecer), Trilho do Neveiro, Rota dos Castanheiros, Cãominhada. Mais informações sobre o programa em: www.dozemesesdozecaminhadas.praiadasrocas.com
Territórios 5 sentidos – Rota Botânica (todo o ano)
Toda a beleza do património natural e paisagístico da pitoresca vila de Castanheira de Pera é o que oferece a Rota Botânica, num circuito linear de 2400 metros, que parte do centro histórico, junto aos Paços do Concelho, passeia pelas modernas Avenidas Verdes, recorta o Jardim da Criança Rainha Dona Leonor e segue em direção à Praia das Rocas. São 12 espécies que exaltam os sentidos – cedro-do-atlas, liquidâmbar, ulmeiro, azevinho, falso cipreste, magnólia, castanheiro-da-índia, sabugueiro, bétula, ginkgo, tulipeiro, tília – no exotismo das origens e na exuberância da diversidade das cores, formas, texturas, aromas e até sabores. Territórios 5 sentidos é um projeto intermunicipal de divulgação que convida a explorar as rotas botânicas urbanas de Castanheira de Pera, Pombal e Sertã.
Região de Maravilhas
São quatro os percursos pedestres homologados integrantes na rede de rotas da Região de Maravilhas (CIMRL):
PR1 CPR Rota dos Coentrais. Coentral Grande, 3,7 km, circular
PR2 CPR Rota da Água e da Pedra. Coentral Grande / Passadiço das Quelhas, 15,4 km, circular
PR3 CPR Rota dos Neveiros. Coentral Grande, 3 km, linear
PR4 Rota Terras de Peralta. Pera, 2.6 km, linear
Para mais informações e organização de eventos: Prazilândia – Turismo e Ambiente, E.M. Edifício da Prazilândia, Praça Amarela • 3280-050 Castanheira de Pera • Tel.: 236 438 931 | E-mail: prazilandia@praiadasrocas.com