A direção da Torre do Pequeninos sabe bem que sem o envolvimento lúcido e responsável das famílias não é possível “fazer caminho”. Responsabilização, envolvimento, confiança e comunicação são fatores críticos de sucesso segundo Amílcar Sousa, o Diretor do colégio. Com uma ideia muito clara de qual é o seu projeto educativo, centrado na exigência, na qualidade e na educação pelo exemplo, esta é uma instituição cujas metodologias inspiram todo o setor.
São já mais de duas décadas de atividade que comprovam a eficácia e sucesso desta instituição. Como resumiria quase vinte e cinco anos de existência da Torre dos Pequeninos?
A história da existência do Colégio “A Torre dos Pequeninos” é uma história simples de um grupo de pessoas que não esperou que o Estado lhes viesse resolver os problemas e, por sua conta e risco, converteu um edifício industrial desativado num colégio particular. Mas, a história das instituições confunde-se com as histórias das pessoas que “trazem dentro” e essas são bem mais ricas!
Iniciámos a atividade com apenas quatro alunos, hoje temos cerca de 200 e geramos 25 postos de trabalho diretos. A Torre dos Pequeninos orgulha-se de não receber qualquer subsídio, isenção, subvenção ou qualquer outro apoio público. Independentemente da nossa personalidade jurídica entendemos que prestamos um serviço público de qualidade às famílias, à região e ao país, ajudando a formar jovens capazes, competentes, saudáveis e a gerar riqueza.
Em termos operacionais é com muita satisfação que vemos reproduzidas muitas das nossas práticas em vários estabelecimentos de ensino (públicos e privados). Recordamos, por exemplo, que fomos o primeiro estabelecimento de ensino pré-escolar a falar em Sistema de Gestão da Qualidade, obtendo a primeira certificação nacional neste sector de atividade; nunca tivemos uma escola que não fosse “a tempo inteiro”; introduzimos o Inglês no Jardim de Infância desde sempre e uma classe de Estudo Orientais/Mandarim no 1º Ciclo. Temas como envolvimento e responsabilização ativa dos pais, exigência, rigor, valorização do esforço e do trabalho, dificuldades das transições, desenvolvimento do sentido crítico, fatores facilitadores da aprendizagem da leitura e da escrita, só para enumerar alguns, foram, desde sempre, áreas estruturais e sobre as quais trabalhamos todos os dias.
Mas, optar significa também renunciar. Nesse sentido e de acordo com o nosso Projeto de Escola existem práticas, princípios e valores mais importantes do que outros. O maior legado que uma escola pode deixar aos seus alunos é o seu próprio exemplo de vida. Um percurso de Seriedade, de Exigência e de muito Trabalho! Temos de recuperar o Trabalho e o Esforço como valores essenciais no dia-a-dia das escolas. Os valores do esforço, da responsabilização, do mérito pelo trabalho são temas que, na prática, estão abolidos da generalidade das escolas.
Estando implantado no concelho de Santo Tirso, é desta zona que provém a maioria de alunos ou esta influência ultrapassa os limites do concelho?
Sem dúvida que o nosso trabalho vai muito para além do nosso concelho! Naturalmente que a maioria é proveniente de Santo Tirso (60%). Mas como estamos numa localização privilegiada temos também muitos alunos do concelho da Trofa e V.N. Famalicão (temos inclusive transporte). Há um denominador comum no perfil dos nossos pais: são pessoas bem (in)formadas, exigentes, comprometidas e entendem a infância como um pilar essencial e estruturante na formação da pessoa.
O que distingue o Colégio da Torre dos Pequeninos dos restantes estabelecimentos de ensino?
As diferenças são tantas e tão diversas que ultrapassam o domínio e o espaço desta reportagem. Tentando sintetizar, diria que começam logo pela Visão e definição clara do nosso Projeto Educativo: pais e colaboradores são informados de Quem Somos, O que Pretendemos e Para Onde e Como Vamos! Sendo algo óbvio, não existem muitas escolas a valorizar essa definição e clarificação, simplesmente porque não são capazes de determinar qual o seu caminho, qual a sua proposta e projeto de educação. Depois, há uma diferenciação clara em termos de liderança e modelo de gestão, em termos de competência e capacidade de trabalho dos recursos humanos. O sucesso não está ao alcance de todos. É preciso trabalhar muito e bem! A associação de todos estes fatores acaba por criar um serviço com uma qualidade inigualável traduzida por um conjunto de práticas cujo mérito é amplamente reconhecido. É com muita satisfação que vejo hoje, escolas de maior dimensão e (supostamente) com maior massa crítica a adotar as nossas metodologias e projetos de trabalho. É um bom sinal. As boas práticas devem ser reproduzidas!
Ainda neste âmbito, qual o papel que está destinado aos pais em todo este processo?
O envolvimento e responsabilização ativo dos pais, da família e dos restantes educadores, é um dos nossos eixos fundamentais de atuação. Um estabelecimento de ensino, em especial os que lidam com alunos de tenra idade, não deve nem pode ser um depósito de crianças. O exercício da maternidade e paternidade devem constituir projetos de vida de dedicação plena. Não há escola nem professor que substitua o papel da família como célula base da sociedade. A excelência e complexidade da missão a que nos propomos são de tal ordem que exigem a atenção e o envolvimento de todas as partes. A esse compromisso de envolvimento designamos por responsabilização ativa. Instrução obtém-se numa boa escola, educação só em escolas de excelência e com o envolvimento e exemplo dos pais. Só se educa com e pelo exemplo! Não tenhamos ilusões…
Apostando num ensino de excelência, na individualização, na avaliação sistemática dos processos, em profissionais competentes e atividades diferenciadoras… tudo isto não faz da Torre dos Pequeninos uma escola “cara”?
Essa questão é um embuste. Um aluno no ensino público custa, em média, 5.000 Euros/ano, na Torre dos Pequeninos não chega a 3.500 Euros. É urgente explicar aos portugueses, entre outros, que um aluno no ensino privado custa muito menos do que um aluno numa escola pública; que as Instituições Particulares de Solidariedade Social são financiadas em mais de 70% pelo estado (através de isenções e benefícios fiscais e dos Acordos de Cooperação) e que a grande maioria está longe de prestar um serviço público/ social de qualidade.
É urgente criar a consciência cívica de que o nosso sistema de ensino não precisa de mais recursos, mas de mais e melhor organização e de modelos de gestão modernos, que introduzam dinâmicas de avaliação e concorrência entre os diferentes operadores (públicos e privados). O ensino é o único sector chave da sociedade portuguesa que não possui uma entidade reguladora, independente do Estado, visando a inspeção e fiscalização dos diversos operadores. Precisamos de um estado menos prestador de serviços e mais fiscalizador e regulador. Há estabelecimentos de ensino a funcionar em circunstâncias de países em vias de desenvolvimento. Uma sociedade que não trata bem os seus filhos é uma sociedade sem futuro.
A Torre dos Pequeninos é inacessível a muitas pessoas porque não temos capacidade de acolher todos os que nos procuram.
Com os olhos no futuro, e quase a entrarmos em 2025, quais os planos da direção para o próximo ano? E que mensagem gostaria de deixar à comunidade educativa do Colégio e aos nossos leitores?
Os tempos são de enorme inquietação, mas temos que continuar a lutar por um mundo melhor para os nossos filhos. É fundamental que as famílias tenham uma visão pragmática do projeto de educação e de vida que pretendem para os seus filhos. Não podemos continuar a criar crianças que não sabem ler, escrever, discutir, refletir… é urgente recuperar conceitos tradicionais da educação e trazer de volta para as nossas salas de aula os valores do trabalho, do esforço, do rigor e da exigência.
Em termos estratégicos, temos como grande objetivo o alargamento a outros níveis de ensino, nomeadamente ao 2º ciclo do ensino básico. Não se trata de saber se vai acontecer, mas quando vai acontecer… Naturalmente que quero deixar uma palavra de reconhecimento e gratidão aos profissionais desta casa, é inequívoco o mérito da equipa, que tenho o privilégio de liderar há mais de vinte anos: a todos uma palavra de especial apreço e gratidão.
O mundo, tal como o conhecemos, não é um direito adquirido, absoluto e imutável; é preciso estar vigilante e atuar sem extremismos de qualquer espécie… Apesar de tudo, continuamos a acreditar que podemos fazer a diferença! Assim as famílias o pretendam, nos ajudem e se envolvam!
Continuamos a acreditar que ajudamos a formar seres humanos genuínos e embebidos pelos valores universais: Amor, Dignidade, Gratidão, Humildade, Generosidade e Coragem, muita Coragem com espírito de sacrifício! Que todos continuemos a estar à altura das nossas responsabilidades, ajudando a formar jovens Livres, Competentes, Responsáveis e Felizes!
Termino com um agradecimento a todas as famílias que por aqui passaram ao longo destas duas décadas e que são a primeira e única razão da nossa existência: muito obrigado a todos por estes anos de confiança!