“A princípio é simples, anda-se sozinho”, como canta o Sérgio Godinho. Numa vida cheia há seguramente vários primeiros dias. Uns que nos dizem tanto, outros que são apenas mais um asterisco no calendário.
A IN Corporate Magazine chega hoje às 50 edições, cerca de cinco anos depois de ter começado, exatamente três anos depois deste vosso editor que vos escreve ter assumido este cargo. Quando aqui cheguei, em novembro de 2021, comecei por preparar com a minha equipa a edição de dezembro – era então a número 25 e saiu para as bancas na véspera de Natal desse ano. Nesse meu primeiro editorial, fazia referência de forma discreta à minha entrada, “respeitando sempre o legado do que foi deixado ao nosso cuidado”. E continuava afirmando que “o respeito pelas coisas, por todas as coisas, é antes de mais o respeito por quem as criou, por quem as fez crescer. As pessoas são tudo, afinal, e tantas vezes se definem por aquilo que fazem.”
Já nessa altura, continuando a citar o Sérgio Godinho, tinha passado há muito a fase das “certezas” que se bebem “num copo de vinho”, mais próximo seguramente da “coragem” que se bebe “até dum copo vazio”. Mas há sempre um nervo que salta cá dentro quando chega aquele verso dessa canção: “Luta-se por tudo o que se leva a peito”.
Chegar à 50ª edição de uma publicação como esta é um exercício de equilíbrio, permanentemente ténue. Há fatores que dificilmente se percebem quando se está fora da equação, e outros que talvez nem estando dentro. É necessário muito trabalho, muita perseverança e também confiança. Confiança essa que é conquistada não apenas pela qualidade e critério do conteúdo que publicamos, mas também pela ética com que escolhemos cada palavra, cada imagem, cada mensagem. A credibilidade de uma publicação constrói-se pelo seu rigor e também pelo respeito que demonstra pelo seu público, o qual acreditamos que seja exigente e bem informado.
Gostamos de pensar que as nossas páginas podem ser um espaço de ideias vivas, com algum significado para quem nos leia. Agradecemos profundamente a todos os intervenientes nestes milhares de páginas que já publicámos. Deixo ainda um agradecimento particular àqueles que, comigo, ao longo destes anos, produziram todos estes conteúdos.
E mesmo quando “vêm cansaços e o corpo fraqueja”, a música, a poesia, a arte, o humor e a boa companhia enviam-nos mensagens de esperança. Há uns dias, num programa que costumo ouvir nas viagens de carro, mais concretamente na parte final dedicada à sugestão de livros, o jornalista Carlos Vaz Marques citou uma anedota contada pelo escritor David Grossman, no seu livro ‘O Coração Pensante’ (do qual também falamos nesta edição). Era mais ou menos assim:
«Durante a guerra do Vietname, um homem ia, sozinho, todas as sextas-feiras, para a frente da Casa Branca empunhando um cartaz de protesto. Até que um dia, um jornalista repara nele e vai perguntar-lhe se ele achava mesmo que ao ir para ali com um cartaz, todas as semanas, ia conseguir mudar o mundo. À pergunta, o manifestante, surpreendido, responde: “mudar o mundo? Não, não tenho a menor ilusão de que vá mudar o mundo. Quero apenas certificar-me de que o mundo não me muda a mim”.»