A filigrana portuguesa, uma das expressões mais delicadas e complexas da ourivesaria tradicional, está oficialmente candidata a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. A proposta foi formalizada pelos municípios de Gondomar e da Póvoa de Lanhoso, únicos centros de produção deste tipo de joalharia em Portugal.
A candidatura, apresentada este mês, resulta de um protocolo assinado entre os dois municípios em 2016, que estabeleceu as bases para a promoção e salvaguarda da filigrana. Desde então, a técnica foi certificada oficialmente em 2018 e, no ano passado, integrou o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, reforçando o seu estatuto como património vivo e relevante para a cultura portuguesa.
A filigrana consiste na utilização de finos fios de ouro ou prata, trabalhados de forma minuciosa para criar peças de rendilhado de grande beleza e complexidade. Esta arte, transmitida de geração em geração, é mantida por mestres artesãos que preservam um saber-fazer ancestral, muitas vezes aprendido em contexto familiar e aperfeiçoado ao longo de décadas de prática. Entre as peças mais emblemáticas destacam-se os corações e as conta de Viana, os brincos de rainha e outras criações que simbolizam a excelência e a originalidade da ourivesaria portuguesa.
Os municípios de Gondomar e da Póvoa de Lanhoso destacam que o reconhecimento internacional da filigrana seria uma forma de valorizar o trabalho dos artesãos e de assegurar a transmissão deste património às próximas gerações. “A submissão da candidatura da Filigrana de Portugal à UNESCO constitui um compromisso com a salvaguarda e valorização de um legado cultural de excecional importância. É igualmente o reconhecimento do trabalho e do saber acumulado de gerações de mestres filigraneiros, cuja dedicação e excelência merecem ser preservadas, promovidas e transmitidas às futuras gerações”, referem em comunicado conjunto.
A filigrana é, de facto, um elemento identitário dos territórios de Gondomar e Póvoa de Lanhoso, mas também de Portugal como um todo. A sua presença em feiras, festivais e eventos culturais nacionais e internacionais tem contribuído para a projeção da imagem do país enquanto espaço de criatividade, tradição e inovação. Além disso, a filigrana integra coleções de museus e é procurada por colecionadores de todo o mundo, que reconhecem a sua qualidade e originalidade.
O processo de avaliação da candidatura pela UNESCO pode demorar vários anos, dependendo da análise dos documentos apresentados e das recomendações do organismo internacional. Durante este período, os municípios continuarão a promover a filigrana através de exposições, workshops e outras iniciativas que visam sensibilizar o público para a importância desta arte e incentivar a formação de novos artesãos.