A Almar é uma clínica médica e unidade de medicina física e de reabilitação, situada na Senhora da Hora, em Matosinhos. Este projeto nasceu da vontade de criar um espaço onde cada pessoa — desde os mais pequenos até aos mais maduros — pudesse encontrar cuidados de saúde integrados num único local, com qualidade, proximidade e confiança.
A Consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico, Uro-andrológica e de Disfunção Defecatória dirige-se a homens e mulheres com disfunções, muitas vezes subdiagnosticadas ou normalizadas. Qual é, na sua visão, a importância de uma abordagem médica especializada nestas condições? Que benefícios estas consultas podem trazer aos utentes?
Dr. Carlos Matos (CM): O facto desta consulta ser realizada por um médico especialista em medicina física e de reabilitação permite que a pessoa com qualquer tipo de disfunção ou incapacidade relacionada com o pavimento pélvico, se encontre no centro de uma abordagem multidisciplinar. Só assim se garante que a pessoa é capaz de realizar escolhas informadas quanto às diferentes modalidades terapêuticas. O programa integral de reabilitação que é proposto pelo médico especialista inclui, mas não se resume a: terapia manual do pavimento pélvico, biofeedback assistido, exercício físico terapêutico, utilização de agentes físicos, utilização de fármacos, terapia cognitivo-comportamental, modificação de estilos de vida e hábitos de sono.

Dra. Carolina Alves Marques
Durante a gravidez, no pós-parto e na menopausa, o corpo da mulher passa por alterações significativas na região pélvica. A preparação adequada pode prevenir complicações funcionais e estéticas a longo prazo?
CM: A mulher é particularmente suscetível às disfunções do pavimento pélvico devido às mudanças anatómicas, funcionais e hormonais a que os tecidos são submetidos. Numa fase inicial da gravidez a reabilitação precoce melhora a consciencialização da musculatura do períneo, melhora a dinâmica diafragmática e da força de contração da musculatura pélvica bem como a mobilidade lombopélvica. Com o aproximar da data do parto, o trabalho incide no relaxamento da musculatura e melhoria da mobilidade lombo-pélvica para facilitar o trabalho de parto e prevenir a necessidade de episiotomias ou, ainda com consequências mais imprevisíveis, as lacerações perineais espontâneas. No pós-parto o tratamento precoce da dor e o trabalho muscular precoce permitem recuperar mais rapidamente os níveis de atividade e qualidade de vida prévios. Na menopausa, urge prevenir as manifestações da redução progressiva dos estrogénios, os prolapsos de órgãos pélvicos, a dor nas relações sexuais e a incontinência urinária.

O envelhecimento, tal como os traumatismos ou cirurgias pélvicas, são fatores que podem comprometer significativamente a função do pavimento pélvico. Quais são os indícios mais comuns que indicam alterações no seu funcionamento?
CM: A colheita de uma história clínica completa permite ao médico especialista antever e estar particularmente atento a possíveis manifestações precoces de disfunção do pavimento pélvico. Se por um lado no processo natural de envelhecimento da mulher será primordial procurar os sinais de défice de estrogénios (atrofia muscular, défice de força de contração, diminuição da lubrificação vaginal e enfraquecimento dos ligamentos), perante um trauma prévio deve ser diagnosticada precocemente uma eventual lesão nervosa periférica ou vascular. A deteção precoce e tratamento atempado na maioria dos casos permitirá melhorar os resultados, diminuir os gastos em saúde e prevenir ou minimizar alterações do foro mental.

Apesar do impacto direto na qualidade de vida, muitas pessoas tendem a esconder ou minimizar sintomas como incontinência, dor pélvica ou disfunção sexual, por vergonha ou falta de informação. Como podemos contribuir para desmistificar estas disfunções e promover o acesso precoce à reabilitação do pavimento pélvico?
CM: Atualmente acreditamos que a procura de cuidados de reabilitação do pavimento pélvico seja limitada por vergonha essencialmente no sexo masculino. No homem o estigma associado à disfunção urinária, sexual ou intestinal são ainda barreiras significativas. Existe a ideia errada de que estes sintomas são sinal de fraqueza ou algo “pouco masculino”, o que faz com que muitos adiem a procura de ajuda médica até fases já muito avançadas Na mulher, por outro lado, é comum a normalização destes sintomas, muitas vezes vistos como um “preço a pagar” pela gravidez, parto ou menopausa. Soma-se a isso a baixa literacia em saúde. Na Clínica Almar acreditamos que a criação de um vale de reabilitação pélvica seria um passo transformador para facilitar o acesso a estes tratamentos, não apenas para tratar, mas sobretudo para legitimar estas condições como parte da saúde integral.

Apesar de a menopausa trazer alterações físicas e emocionais marcantes, muitas mulheres tendem a ignorar sinais de envelhecimento cutâneo, perda de volume facial ou alterações na autoestima, muitas vezes por considerarem que “faz parte da idade” ou por receio de recorrer a tratamentos estéticos. O que pode ser feito para quebrar o estigma em torno da medicina estética e reforçar que cuidar da imagem é também uma forma legítima de cuidar da saúde?
Dra. Catarina Miranda: A medicina estética, sobretudo na fase pré e pós-menopausa, não deve ser encarada como um mero capricho ou vaidade. É, acima de tudo, uma reconexão com a própria identidade, uma forma de autocuidado, confiança e bem- estar ao longo das diferentes fases da vida. No entanto, muitas mulheres ainda hesitam em procurar este tipo de cuidados, não por falta de vontade, mas por sentirem que não têm “permissão” para se priorizarem. Na Clínica Almar, procuramos desmistificar que os tratamentos estéticos, como a harmonização facial, não visam transformar, mas sim restaurar e equilibrar traços que foram sendo alterados com as mudanças hormonais, a perda de colagénio ou de densidade óssea e muscular, comuns nesta etapa. Trabalhamos em conjunto com a paciente de forma a desconstruir este preconceito. Mostramos que cuidar da imagem é, sim, cuidar da saúde, quando feito com consciência, acompanhamento médico e bom senso. Reforçamos que o bem-estar da mulher, em qualquer idade, deve ser respeitado, valorizado e validado.