Caminhando até Fátima e passando a etapa que atravessa Porto de Mós, o peregrino irá experienciar vivências únicas. Por aqui é tempo de abrandar o passo porque este traçado se transforma numa experiência altamente gratificante para quem o percorre. Para além do património natural, os peregrinos têm a oportunidade de fazer várias paragens em locais religiosos e culturais bem como nos vários serviços proporcionados pelas localidades que atravessam, tornando este percurso numa caminhada quase sem esforço. Eduardo Amaral, Vice-presidente e Vereador dos Pelouros de Desporto, Cultura, Turismo e Ambiente de Porto de Mós falou mais à IN sobre o Caminho que atravesse o concelho.
Como se caracteriza o caminho que atravessa Porto de Mós, em direção ao Santuário de Fátima?
A parte do itinerário que atravessa o concelho de Porto de Mós é um verdadeiro desafio à compreensão de todo o território por onde se desenvolve o Caminho da Nazaré. Vindo deste santuário, o peregrino entra no concelho pela zona de Juncal e Pedreiras, bem conhecida pelas suas produções cerâmicas. Mas o que mais se destaca é facto de, depois do percurso em cotas suaves, pelas terras de Alcobaça e pelo noroeste do concelho de Porto de Mós, se dar uma aproximação às Serras de Aire e Candeeiros, conhecidas pela aridez das suas encostas, as suas aldeias serranas e as suas arquiteturas de pedra seca.
Aqui, o peregrino deixa as paisagens de terras férteis e entra no domínio do calcário, onde as águas à superfície não existem e onde o aroma de plantas aromáticas, como o alecrim e o tomilho, são trazidos pela brisa. Para quem ousa fazer descobertas locais, as grutas de Mira de Aire, Santo António e Alvados permitem descobrir o rendilhado subterrâneo feito pela água. A Fórnea e o belíssimo Vale de Alvados atravessam-se ao peregrino. Isto, sem esquecer a pitoresca vila de matriz medieval, dominada pelo seu peculiar castelo apalaçado, testemunho da reconquista, mas também de um renascimento emergente. Porto de Mós é um território de contrastes, onde se dá a transição da paisagem litoral para a paisagem serrana e por onde se chega ao Planalto de Santo António que conduz a Fátima.
Até Fátima, o percurso está dividido em duas etapas, de Pedreiras a Alvados e de Alvados até Fátima.
A primeira etapa – Pedreiras, Alvados – deixa para trás as planícies e o litoral e contorna a Serra de Candeeiros a Norte, passando dentro do perímetro urbano de Porto de Mós e dirigindo-se depois para Sul. Deixa a zona urbana na Ribeira de Cima e sobe num caminho de montanha junto à 27
nascente do Rio Lena, passando perto de um dos locais de beleza natural mais icónicos do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, a depressão da Fórnea (anfiteatro natural com cerca de 1 km de diâmetro). Percorre depois o vale da Depressão de Alvados, chegando desta forma à aldeia que lhe dá o nome (Alvados).
A segunda etapa – Alvados, Fátima – é o culminar de um caminho com riqueza histórica, cultural e religiosa, que deixa a Aldeia de Alvados e segue em direção a Nordeste. Seguindo entre um misto de caminhos rurais e florestais, cruzando pequenas localidades que dão suporte à peregrinação com locais de apoio. No que diz respeito à qualidade dos recursos que atravessa, quer sejam naturais, quer sejam culturais, estes são de extrema importância para a valorização do percurso estando em excelente estado de conservação e preparados para receber visitas. Tendo em conta as várias experiências proporcionadas ao longo deste traçado, como o início junto ao mar, passagem por pinhais e outras zonas florestais, aldeias e localidades com história cultural e religiosa, passagem por zona de serra e chegada a Fátima, este percurso tem tudo o que se pode exigir a um percurso pedestre e de peregrinação de qualidade.
A chegada é feita pela estrada asfaltada da Moita do Martinho até cruzar a Avenida Papa João XXII e contornando o edifício do Centro Pastoral Paulo VI chega à Basílica da Santíssima Trindade e ao Santuário de Fátima.
Porto de Mós integra a rota Finisterra (também conhecida como Rota da Nazaré) e a rota, recém-criada dos Candeeiros. Que projetos tem desenvolvido o município de Porto de Mós para a valorização destas rotas que atravessam o concelho?
Neste momento existem vários projetos que se encontram em curso. O Posto avançado de Turismo, no coração da Serra, em Alvados, já se encontra em fase de finalização. Trata-se de um equipamento que irá permitir o apoio a peregrinos, visitantes e amantes do ar livre e dos desportos associados.
A rede de percursos pedestres, clicáveis e equestres foi, em si mesma, uma estratégia de valorização que dará os seus frutos, oferecendo uma multiplicidade de trilhos que levam à descoberta do território.
O castelo de Porto de Mós sofreu melhorias substanciais, ao nível das acessibilidades, mas também na forma de comunicar com o visitante, tendo-se encetado uma oferta cada vez mais diversa.
O posto de turismo da vila, em requalificação, irá assumir um conceito de maior proximidade ao visitante, alargando a sua oferta e procurando atrair públicos.
Por outro lado, o novo Caminho dos Candeeiros percorre o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, nos municípios de Rio Maior, onde inicia; Porto de Mós, onde entronca com o Caminho da Nazaré (Alvados), antes de chegar ao Santuário de Fátima. Esta travessia da Serra dos Candeeiros remonta, pelo menos, a 1942. O Caminho é marcado por valores naturais e culturais de beleza ímpar. Aqui, o património natural e a adaptação das comunidades ao meio surpreendem e maravilham a cada passo. Terá oportunidade de conhecer locais únicos, como as Salinas; a disjunção colunar prismática de Portela de Teira e a Anta-capela de Alcobertas.
A segunda tem início em Casais Monizes, limite Norte do município de Rio Maior, onde encontra vestígios de arquitetura rural em pedra seca. As principais fontes de rendimento são a agricultura, a criação de animais e a extração de pedra. Mais à frente, em Vale de Ventos, entrando no concelho de Porto de Mós com céu limpo, é possível ver o mar até às ilhas Berlengas, ao largo de Peniche, e boa parte da costa Oeste. Desce-se até Arrimal, onde irá encontrar a igreja de Stº. António. O caminho passa pela lagoa grande e segue até à aldeia de Mendiga. Aqui vale a pena fazer um desvio até ao parque temático sobre a captação natural e o armazenamento de água. A partir daqui, inicia o troço mais exigente. Em Chão das Pias, antes de descer para Alvados, não perca a vista da Fórnea.
Que património é cruzado por este caminho e que merece que o peregrino pare para contemplar e conhecer mais de Porto de Mós?
– O Maciço Calcário Estremenho em todo o seu esplendor, nos vários aspetos já mencionados;
– A fauna e flora local, com espécies únicas descanando-se as orquídeas selvagens e a gralha de bico vermelho;
– Os muros de pedra seca do concelho de Porto de Mós são mais do que uma obra humana. Revelam, de forma exemplar, a capacidade dos serranos na construção duma paisagem harmoniosa e rica em biodiversidade. Antes de domesticarem a serra agreste, a gente teve primeiro de aprender a viver com a pedra. Como se arruma uma pedra ao alto ou de lado? A terra de cultivo era escassa ou inexistente e semeada de pedregulhos. Em todo lado sobressaia a ossada calcária;
– O parque de campismo do Arrimal em meio natural junto a lagoa pequena;
– As lagoas que resultam da formação de pequenas depressões superficiais que deixam acumular as águas pluviais. Ao longo da sua extensão, e por toda a rua principal da freguesia, encontram-se pequenos poços em pedra calcária;
– O Castelo de Porto de Mós.