O abacate é um fruto que está na moda. Seja num delicioso guacamole, numa tosta ou na salada, é um superalimento com uma grande versatilidade. Estivemos à conversa com Hugo Melita e João Bento, sócios na Global Avocados, uma empresa que se dedica à comercialização do abacate algarvio.
Além de serem muito nutritivos, os abacates podem ser um aliado da nossa saúde. Contribuem para baixar os níveis de colesterol, contêm antioxidantes, aliviam sintomas de artrite, podem ajudar na perda de peso, mas os benefícios não ficam por aqui. Para além destas qualidades, os abacates algarvios diferenciam-se pelo seu sabor mais intenso e pela sua textura mais cremosa e, para encontrá-los, a melhor solução é a Global Avocados. Uma empresa muito recente, fundada em 2020, mas que apresenta um arranque muito positivo e promissor.
Um início apelativo
A ideia partiu de três sócios produtores deste fruto que viram a necessidade de comercializar o abacate algarvio de forma independente face à vizinha Espanha. A Global Avocados solucionou alguns dos problemas dos produtores: estes vendem o abacate à empresa e esta trata de todo o procedimento que se segue à produção. “Comercializamos abacate do Algarve com boas condições, boas práticas, tanto no uso da água, como noutras preocupações ambientais”, afirmam os empresários, sublinhando a sua preocupação com a sustentabilidade do produto. A intenção é fazer a diferença em prol do ambiente, algo que se encontra num caminho bastante promissor. Em preparação estão diversas certificações destas boas práticas, mas também, no que toca à segurança alimentar, uma certificação de zero produtos químicos nos abacates. Um dos principais objetivos é “transformar todas as quintas em quintas Resíduo Zero, que é uma mais-valia para o consumidor e nós acreditamos que é possível de se fazer”, conta-nos João Bento. Algo que será exequível pelo facto de o abacate ser uma cultura sem muitas pragas e sem problemas fitossanitários.
Com apenas dois anos de atividade, a empresa já tem ao seu dispor cerca de 650 hectares de produção e uma das principais intenções dos empresários passa por converter parte desta área numa produção de abacate biológico. Outra grande prioridade do trio de sócios é a criação de uma marca “produto do Algarve” enquanto marca da Global Avocados, mas também de todas as outras empresas de todo o tipo de produções. Será algo para toda a região e para divulgar os produtos de grande qualidade que crescem no sul de Portugal.
Preocupações ambientais
Hugo Melita diz-nos que “os cuidados ambientais vão muito para além da produção de abacate” e não passam apenas pelo uso racional da água. Existe cuidado até na libertação de dióxido de carbono, algo que para o entrevistado é importantíssimo. A Global Avocados é produtora de abelhas, exatamente para que estas possam polinizar de forma natural as flores dos pomares: “São indispensáveis e, enquanto produtores, a sustentabilidade das terras é do nosso interesse”, justifica. Para os sócios, a agricultura está cada vez mais associada à tecnologia e é necessária uma constante monitorização da produção e, depois, do próprio produto. Esta monitorização é feita a cada mês e meio, com análises consecutivas, tudo para preservar a qualidade do abacate e atingir uma maior eficiência.
O problema da água
De acordo com os dados que João Bento partilhou com a IN, o Algarve já passou por secas piores do que a atual desde 1942. O que é preocupante, é que com as alterações climáticas os ciclos de seca poderão vir a ser mais prolongados e, para o empresário, tem de haver uma adaptação e procura de soluções por parte dos produtores. João Bento diz que uma das soluções passa pelas barragens e pelo armazenamento de água nessas barragens ou açudes, quando chove. Os aquíferos algarvios estão em grandes dificuldades, a água que é retirada não está a ser reposta pela chuva e é necessária uma intervenção humana. O entrevistado insiste que “era muito importante fazer o que os espanhóis fizeram às dezenas, os açudes de retenção de água, para que ela fosse retida durante mais tempo”. Na sua opinião, não seriam necessários grandes investimentos nem teriam um grande impacto ambiental, pelos que, nestes cenários, é sempre mais grave esperar pela chuva. Uma solução em desenvolvimento é a retirada de água do rio Guadiana para a barragem de Odeleite através de canais próprios que, de acordo com João Bento, “representaria um reforço de mais de 50% de água”. O plano está aprovado para projeto, diz, “mas será algo que ainda vai demorar muitos anos”.
A propósito surge o tema da comparação entre culturas em termos de rega, e o empresário aproveita para desfazer um mito. “O abacate não leva mais água em comparação aos citrinos. Por norma, aquilo que acontece é que o tempo de rega é distribuído ao longo do dia, enquanto os citrinos são regados apenas uma vez. O abacate é sensível à rega excessiva porque condiciona a sua qualidade”, explica.
Um início a pensar no futuro
Como já foi referido, esta empresa é muito recente, com apenas dois anos, no entanto “há uma grande economia associada à produção de abacate, e aqui, na Global Avocados, 98% das nossas vendas são para exportação”, partilha Hugo Melita. Os destinos passam por Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Suíça, Itália e Alemanha. Segundo os empresários, isto só é possível porque o produto que vendem é de elevada qualidade e tem, por isso, um grande reconhecimento. O desejo é ter mais mercado em Portugal “sobretudo por causa da pegada ecológica”, esclarecem os empresários.
A empresa tem em mente várias ideias e projetos. Uma delas passa pelo amadurecimento dos abacates, em armazém, para serem vendidos no ponto de consumo. Isto para dar resposta a uma necessidade do consumidor deste fruto. Outra ideia é a criação de uma unidade industrial para a produção de guacamole, algo que poderá ser uma realidade daqui a poucos anos. Mas o objetivo principal é o aumento da produção: a intenção é chegar às 10 mil toneladas e, para isso, vai ocorrer um aumento da área de produção. “Hoje o armazém está sobredimensionado, mas tudo o que foi feito, foi a olhar para o futuro”, diz Hugo Melita, lembrando o grande investimento feito nas instalações para que tudo isto fosse possível.
A agricultura é imprescindível, algo que necessita de ser valorizado pelos consumidores. Afinal, lembram os empresários, é graças a ela que em tempos de pandemia e de guerra as prateleiras dos supermercados estão cheias.