A grande maioria das fronteiras são apenas linhas imaginárias traçadas pelos povos para delimitar territórios, sem grande relação com obstáculos naturais. Mas há exceções, e o nosso país é fértil nessa matéria. É o que acontece com a nossa fronteira mais a norte, definida pelo recorte do leito do rio Minho, partilhado com a Galiza. Em Trás-os-Montes, é o rio Douro que marca a fronteira oriental com Castela e Leão, presenteando-nos com paisagens de cortar a respiração. Já na Beira Baixa, é a vez do rio Tejo delimitar uns quantos quilómetros com a Estremadura espanhola. Mais a sul, no Alentejo e no Algarve, o Guadiana deixa de um lado Portugal e do outro a Andaluzia.
Há ainda épicos e belos acidentes geográficos que se tornam, esses sim, fronteiras verdadeiramente naturais. É o que acontece, por exemplo, com os Pirenéus entre Espanha e França. Ou com os Alpes, que levaram a que chamemos transalpinos aos italianos.
A Europa, por toda a sua riqueza histórica e cultural, está recheada de fronteiras míticas. Habituámo-nos, ao longo dos últimos 30 anos, a circular livremente pelo Velho Continente e a ver esses locais como pontos de passagem que assinalam o tanto de comum que povos de um e do outro lado da fronteira partilham. Apesar do retrocesso provocado pelo Brexit e pela experiência traumática da pandemia em que várias fronteiras voltaram a estar fechadas, a integração europeia tem sido um sucesso no que à livre circulação de bens e pessoas diz respeito.
Mais de um terço dos europeus vive em zonas fronteiriças, o que justifica desde logo uma atenção particular a este tema. A cooperação transfronteiriça é essencial para a integração europeia e as populações que vivem e trabalham nessas zonas sabem bem do que estamos a falar. Para quem esteja mais afastado dessas zonas raianas esse trabalho passa mais despercebido, pelo que esperamos que esta nossa edição traga mais luz sobre o assunto aos nossos leitores.
De resto, voltamos a ter nesta nossa rentrée as rubricas habituais com novos rostos de liderança empresarial que damos a conhecer, com o habitual destaque às nossas gestoras, autênticas Mulheres Inspiradoras. Uma palavra ainda para as empresas detentoras de Certificação de Qualidade e para novas sugestões de espaços interessantes a visitar no nosso país.
Antes de terminar, e até porque a ideia de Europa perpassa por este texto, estamos ainda no mês em que nos despedimos de dois vultos do melhor que este continente produziu no último século. O escritor Javier Marías e o realizador Jean-Luc Godard deixaram-nos efetivamente mais pobres com o seu desaparecimento, apesar da imortalidade das suas maravilhosas obras. Que não nos esqueçamos destas referências e que possamos continuar a aprender com os melhores.