O Padre Marçal da Silva Pereira é um missionário claretiano com décadas de experiência no acolhimento e apoio a crianças e jovens, no Lar Juvenil dos Carvalhos. É nesta instituição, a celebrar 38 anos dia 1 de julho, que lidera uma vasta equipa de educadores, ajudando estes jovens a crescerem em todas as suas dimensões. Neste artigo, ele partilha a sua experiência e visão sobre a importância do acolhimento institucional, refletindo sobre a necessidade de um olhar atento e sensível para a construção de um futuro digno para cada jovem aqui acolhido.
Com o olhar a realidade no “espaço” de 38 anos na Fundação Claret (suporte jurídico) do Lar Juvenil dos Carvalhos e com uma vasta equipa de educadores, liderada pelos Missionários Claretianos, ajudamos crianças, adolescentes e jovens a crescer em todas as dimensões: físico, afetivo, cristão, humano e intelectual. Muitos jovens com futuro aberto à realização pessoal, estando a viver nas suas próprias famílias que construíram e olhando para o seu início de vida e para o sucesso, que é sempre um desafio, vivem gratos pela estabilidade que lhes foi ampliando o caminho. Nos solavancos do tempo e da astúcia política dos legisladores que, de tempos em tempos, mudam o rumo das crianças que precisam de estabilidade nas suas vidas, acabando por ser entregues a famílias de acolhimento e, durante uns tempos, passando de família em família, para só depois serem conduzidos a uma casa de acolhimento, em estado de revolta. Nessa fase, já em “fim de linha”, com dificuldade de aderir a regras, comportamentos, motivações e a identificar valores para a vida.
Este “labirinto” preocupa a todos que lidam com estas situações e nós, que oferecemos a vida para dar dignidade às crianças que se tornam adolescentes e jovens, nunca fomos tidos nem achados para ajudar a elaborar leis e orientações para o mundo bonito das crianças nas casas de acolhimento onde, “como na tua casa valorizam a vida”, esse é o testemunho do nosso trabalho e dedicação.
Conhecemos muitas e belas teorias para oferecer àquelas crianças, que tenham a sorte de encontrar uma mão protetora para desenvolver as capacidades e possam oferecer à sociedade a bela aprendizagem que colocaram nos seus corações. Sentimos as dificuldades das famílias que se sentem incapazes de oferecer valores aos seus filhos, que amam de todo o coração e desejam que alguém tempere as suas vidas e as dignifiquem para o sucesso do viver em paz e aconchego com os pais. Sabemos que esperam qualquer mão amiga para dar rumo aos seus filhos que vivem numa revolta de andar de família em família e de casa de acolhimento até à comunidade terapêutica.
Temperar as mentalidades é uma Missão e precisamos com o testemunho de vida proclamar a Técnicos, Psicólogos, Educadores Sociais e Professores que estão em lugares privilegiados e de grande responsabilidade para a seu tempo abrir caminho para um futuro de dignidade e bem estar na realização pessoal.
Ao serviço do património humano… Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza num espaço tão reduzido… pessoas, toda a espécie de animais, plantas, árvores, montanha agreste, rochas , piscina, poços e minas… Um universo virginal, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o vento se atreve a quebrar. Tudo o que fazemos tem de ser com qualidade, responsabilidade, com respeito pelas pessoas e pelas coisas, que são o bonito do mundo e da vida. Apostamos na qualidade profissional e garantia de valores a semear nos campos sombrios das vidas daqueles que nos são confiados. Começamos a abrir as portas, para que possam conhecer a bonita paisagem deste lugar único, com uma história, um espaço de cultura, de solidariedade que alimenta a vida e abre horizontes. Movidos por um objetivo comum: total satisfação daqueles que encontram o lugar para consolidar as suas feridas e marcas profundas no caminhar no tempo. Pautando sempre por critérios de transparência de princípios e inovações. |
É confusa a mentalidade no conhecimento das capacidades das casas de acolhimento, porque a comunicação social desmorona a Missão pelas leituras aberrantes do sistema que queremos que possa dar a melhor resposta. Essa é a nossa preocupação. O “labirinto” apresenta um percurso com várias dúvidas, inquietações e incertezas de chegar a algum lado que faça valer todas as dificuldades percorridas, dando mais sentido ao trajeto do que ao destino. Na esperança de conseguir o que desejamos ou queremos, mas sobretudo aquilo em que realmente acreditamos, porque a vida é um caminho.
Proteger crianças compete a todos e para isso é preciso dignificar este serviço para que as comissões de proteção sejam eficazes nas soluções para promover um elegante futuro e possam sentir que o mundo dos desequilíbrios está diante de nós, nas famílias, nas escolas, nas ruas, na perturbação que causam e nos caminhos por onde anda a droga. E nós queremos um mundo curado com olhar meigo a sentir a mão amiga.
A Fundação Claret, através do Lar Juvenil, gere um Património da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, que antes de 2015 era da Assembleia Distrital do Porto. Tem um acordo de cooperação com o Instituto de Solidariedade da Segurança Social com o objetivo de “Proporcionar às crianças todas as necessidades básicas, reintegração na família e comunidade, valorização pessoal, social e profissional”.
Há jovens a ser integrados na Instituição cada vez mais tarde, já com idades muito avançadas. Isto provoca uma dificuldade de intervenção na correção de comportamentos na família do jovem, assim como dificuldade em corrigir comportamentos desadequados por parte dos professores nas várias instituições escolares.
Na busca pela defesa e promoção da vida, o diálogo é instrumento indispensável, com propriedades que permitem evitar as ruturas nos processos de reconstrução do que é essencial à sociedade. O diálogo é caminho e compromisso que não pode limitar-se a simples promoção de visitas de cortesia. Devem ser uma busca de conquistas urgentes para o tecido social, especialmente as destinadas aos mais pobres e indefesos que são as crianças. Onde estais? E como estais? E como sois amadas? Será o dinheiro que paga, por um tempo, o vosso futuro?…
Ao olhar a realidade não pode ser um exercício que leve a uma simples constatação, nem indicações insossas. Ao olhar para as realidades, é preciso tomar posição a partir dos compromissos que exigem pactos com a vida, capazes de inquietar o coração humano diante de situações de injustiça, inspirando mudanças necessárias a partir da dedicação e belas atitudes de elevação humana.
Agora que saíram novas orientações através de uma portaria de orientação para as casas de acolhimento, que as crianças e jovens sintam que os “senhores” responsáveis estão abertos a criar mentes abertas em que as crianças possam ver um novo futuro e que lhes “toca” sorrir no belo aconchego familiar, O mundo novo é uma nova criação onde todos queremos viver, porque nele servimos a vida em favor das crianças, dos adolescentes, jovens e famílias.
Pe. Marçal da Silva Pereira C.M.F