Ação Social Poder local

Pela dignidade e participação ativa dos mais velhos

A Câmara Municipal (CM) de Coimbra continua a acumular distinções. Depois de na nossa última edição termos destacado o reconhecimento enquanto “Autarquia Mais Familiarmente Responsável”, agora é a CCDR Centro a atribuir o galardão de “Território da Longevidade”. A Vereadora Ana Cortez Vaz explica-nos o que tem sido feito em Coimbra por “um envelhecimento mais saudável, ativo e participativo”.

Ana Cortez Vaz – Vereadora da Ação Social CM Coimbra

Imagino que seja um orgulho para todo o executivo e, particularmente, para a vereadora da Ação Social?
Foi com enorme satisfação que o Município de Coimbra recebeu esta distinção de “Território da Longevidade” pela CCDR Centro. Esta distinção é o reconhecimento do trabalho, empenho e dedicação dos elementos do Gabinete de Gerontologia e Envelhecimento Ativo (GGEA) da CM de Coimbra que, através de diversos programas, projetos e atividades, procura promover um envelhecimento mais saudável, ativo e participativo.

É também o reconhecimento do trabalho de todas as Entidades, quer públicas quer privadas, que trabalham em prol das pessoas mais velhas, não só através da dinamização de respostas sociais, como também através da implementação e/ou criação de projetos, respostas e estratégias com vista ao prosseguimento de objetivos comuns: a melhoria do bem-estar biopsicossocial das pessoas mais velhas.

Algumas das medidas de que falámos na nossa última entrevista cruzam-se certamente também com este tema, já que o apoio à família se faz ao longo de toda a vida. Sendo assim, quais são as vossas principais iniciativas que tornam Coimbra mais segura, mais saudável e que convidam à participação da população mais idosa?

O Município de Coimbra, através do GGEA, no que diz respeito especificamente à população idosa, tem atualmente em vigor os seguintes programas e projetos:
Em matéria de implementação de medidas de prevenção e proteção à população mais velha, a Comissão Municipal de Proteção ao Idoso de Coimbra (CoMPIC), que foi criada no final de 2022. Como medidas de promoção do cuidado, o Município de Coimbra dispõe do Programa Municipal Voz Amiga – Serviço de Teleassistência para Idosos, que se baseia na prestação de serviços de teleassistência, de forma gratuita.

Existe também o projeto Uma Mesa para os Avós – Apoio Domiciliário, que assegura a distribuição gratuita de refeições ao domicílio aos fins de semana e feriados.

Como medidas de promoção do envelhecimento mais ativo e participativo, a CM de Coimbra dispõe do Programa Municipal Socioeducativo, Cultural e Intergeracional que tem sido implementado em parceria com a companhia “O Teatrão”, tendo como principal finalidade a descentralização da oferta educativa e cultural.

O envelhecimento da população é um dado adquirido, não só em Portugal, mas em todo o mundo mais desenvolvido. A realidade é que, felizmente, vivemos cada vez mais tempo, mas a demografia não tem permitido compensar com novos nascimentos essa longevidade. Uma das vossas preocupações fundamentais é garantir que, apesar do inevitável envelhecimento, seja possível manter a melhor qualidade de vida possível?

O envelhecimento da população, embora seja encarado como um triunfo, é igualmente um enorme desafio para as sociedades, impelindo à reflexão sobre temáticas, como a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas mais velhas, pelo que é fulcral preparar toda a sociedade para a longevidade. É neste propósito, que o Município de Coimbra trabalha diariamente.

Com o avançar da idade, o isolamento e a prevalência de demências são alguns dos problemas mais dramáticos. Sobretudo quando falamos de pessoas já aposentadas, em que deixam de ter as suas rotinas habituais, acredita que a sensibilização para a prevenção destas situações é particularmente importante?

Sim, de facto, o envelhecimento pode ser acompanhado por problemas de saúde, muitas vezes crónicos e incapacitantes, nos quais a qualidade de vida e o bem-estar biopsicossocial destas pessoas fica comprometido. A intervenção terá necessariamente de incidir na prevenção, por forma a que possamos ter pessoas que vivem mais, com saúde e que continuam a participar e a desempenhar um papel importante nas suas famílias e na sua comunidade.

Os mais idosos aderem com facilidade às vossas iniciativas e apelos? Qual é o retorno que têm recebido por parte da população?

A nossa experiência revela-nos que a adesão das pessoas mais velhas aos nossos programas, projetos e iniciativas está estritamente dependente, sobretudo, da articulação promovida, por exemplo, junto das famílias, IPSS e outras entidades: Universidades Séniores, Juntas de Freguesia, Centros de Saúde, etc.

Julgo que estão a elaborar, em articulação com o Grupo de Trabalho “Pessoas Idosas” da Rede Social de Coimbra, um documento que reúne precisamente as universidades seniores, serviços, programas e projetos existentes em Coimbra direcionados para a população sénior. Quando esperam ter essa listagem pronta e que sinergias serão desenvolvidas com as instituições que disponibilizem esses serviços, como as universidades seniores, por exemplo?

O Gabinete de Gerontologia e Envelhecimento Ativo da CM de Coimbra está a preparar um diagnóstico social do concelho em matéria de envelhecimento, até ao final do 1º semestre de 2024, e que servirá de base para a elaboração da Estratégia Municipal para o Envelhecimento Ativo, Saudável e Participativo do concelho, e para a georreferenciação das respostas e projetos existentes.

Permita-me só esta questão mais subjetiva. Tenho muitas vezes a sensação de que neste tempo em que já ultrapassámos tantos preconceitos, o do envelhecimento continua a ser dos mais difíceis. Há um constante fascínio pela juventude, na publicidade e nos media, e um tom algo condescendente com os mais velhos. Acha que distinções como esta da CCDR-C podem servir para dar mais visibilidade, e até dignidade, à nossa população mais idosa?

Este reconhecimento é, sem dúvida, essencial, dado que releva e dá importância ao envelhecimento e às suas repercussões a médio e longo prazo, conduzindo a uma reflexão sobre a integração e inclusão das pessoas mais velhas nos territórios, com vista a tornar os lugares age-friendly, com destaque para a dignidade e participação das pessoas e atentos às suas necessidades e expetativas.