Com um sumário centrado no percurso dos últimos 20 anos da instituição, Amílcar Sousa, diretor do colégio A Torre dos Pequeninos, abordou também as metodologias de um ensino centrado no aluno, sempre com o objetivo de desenvolver competências e educar.
Vinte anos de existência, numa instituição privada como é A Torre dos Pequeninos, é um marco importante. Considera uma missão bem sucedida?
O Colégio A Torre dos Pequeninos é, desde há vinte anos, o único estabelecimento de ensino particular, não confessional do concelho de Santo Tirso, especializado na infância (Creche, Jardim de Infância e 1º CEB). Este é um marco histórico na vida da Torre dos Pequeninos e na de todos os que aqui cresceram, trabalham e ajudaram este projeto a concretizar-se.
Iniciámos a atividade apenas com 4 alunos, hoje temos cerca de 200 e geramos 30 postos de trabalho diretos, prestando um serviço público de qualidade! Naturalmente que, apesar de coincidir com um ano de grandes dificuldades externas, estamos muito felizes e com o sentimento de dever cumprido.
De resto, exemplo disso são todos os alunos e famílias que passaram por esta casa; são os melhores embaixadores do nosso trabalho.
Enquanto atividade humana, a educação assenta muito na capacidade e nas competências dos seus protagonistas, nomeadamente dos seus profissionais. Como é que A Torre dos Pequeninos olha para esta questão?
A equipa d’A Torre dos Pequeninos integra profissionais muito competentes e motivados para cada uma das áreas. A gestão do estabelecimento é totalmente profissional e especializada. Todos os serviços não dependem da Coordenação Pedagógica, mas sim da Direção Executiva, havendo uma responsabilização diferenciada em cada uma das áreas. Não concebemos a possibilidade de uma professora ou educadora passar grande parte do seu tempo com trabalho administrativo ou de coordenação logística.
A implementação e o bom funcionamento deste modelo de gestão constituem um fator crítico de diferenciação e sucesso. O trabalho dos profissionais do Colégio A Torre dos Pequeninos, sem prejuízo do respeito pelas orientações e programas oficiais para cada uma das valências que integra, carateriza-se pela prossecução dos seguintes objetivos específicos: desenvolver uma estreita articulação entre o Jardim de Infância e o 1º Ciclo; valorizar os diferentes meios de expressão – plástica, musical, dramática e corporal – em todo o currículo; desenvolver a capacidade de comunicação verbal: oral e escrita; valorizar o ensino das ciências naturais e exatas desde o Jardim de Infância; desenvolver as capacidades de pensamento das crianças e jovens, nomeadamente no domínio da resolução de problemas, do diálogo, do pensamento crítico e da criatividade; promover a comunicação e articulação entre a escola e a família em relação à educação e à aprendizagem das crianças.
Faz-me muita confusão ouvir pessoas com responsabilidades na gestão das escolas, das políticas educativas e cidadãos anónimos a atacar sistematicamente os profissionais da educação (na maioria dos casos revelando um vazio ideológico e intelectual gritante), contribuindo para uma constante perturbação e ruído à volta das instituições. Vivemos um tempo onde tudo desagua na escola; todos os problemas sociais e económicos acabam por influenciar o comportamento e a vida das comunidades escolares.
Ser educador não é uma mera profissão, é uma vocação! Os profissionais que vivem a escola com este espírito devem ser respeitados, dignificados e acarinhados pelos pais e alunos e pela sociedade em geral. Nunca como hoje a missão de educar foi tão complexa. Os desafios e as dificuldades são muitas e têm géneses diversas.
Para além dos alunos, as escolas têm hoje a difícil tarefa de ajudar os pais a desempenhar a sua função. O pior que pode acontecer é as escolas e as famílias ‘caminharem de costas voltadas’.
Quais os valores que incutem a toda a comunidade educativa?
As nossas prioridades educativas centram-se em dois valores essenciais e complementares: responsabilidade e liberdade. Responsabilidade, insistindo no facto de o aluno do século XXI ser um aprendiz ao longo de toda a vida. Por conseguinte, deverá adquirir ferramentas do saber e aprender a conduzir autonomamente a sua própria formação.
Por outro lado, consideramos os pais como os principais responsáveis pela educação dos filhos; o seu envolvimento e consequente responsabilização ativa são elementos fundamentais para o sucesso da ação educativa. Liberdade, num mundo cada vez mais dominador, em que as liberdades individuais e coletivas são permanentemente questionadas, é fundamental formar pessoas que não se limitem a olhar a realidade mas que a questionem agindo por si próprias, não esperando tudo da sociedade, e operando em sinergia com os outros. Só assim poderão fazer opções de
vida conscientes e verdadeiramente pessoais.
Penso que não há maior legado que uma escola possa deixar aos seus alunos do que o seu próprio exemplo de vida: um percurso de seriedade, de exigência e de muito trabalho! Temos que recuperar o trabalho e o esforço como valores essenciais no dia a dia das escolas. Os valores do esforço, da responsabilização, do mérito pelo trabalho são temas praticamente abolidos nas escolas. O nosso ‘eduquês’ tem de ser revisto à luz do enorme desafio que temos pela frente.
O país não terá o futuro que todos desejamos enquanto não se
mudar radicalmente a forma de olhar a educação. Os nossos problemas estruturais derivam de políticas educativas erradas ao longo dos últimos 40 anos!
Ainda neste âmbito, qual o papel que está destinado aos pais em todo este processo?
O envolvimento e responsabilização ativa dos pais, da família e dos restantes educadores, é um dos nossos eixos fundamentais de atuação.
Um estabelecimento de ensino, em especial os que lidam com alunos de tenra idade, não deve nem pode ser um depósito de crianças. O exercício da maternidade e paternidade devem constituir projetos de vida de dedicação plena.
Não há escola, nem professor que substitua o papel da família como célula base da sociedade. A excelência e complexidade da missão a que nos propomos são de tal ordem que exigem a atenção e o envolvimento de todas as partes. A esse compromisso de envolvimento designamos por responsabilização ativa.
O que distingue o Colégio A Torre dos Pequeninos dos restantes estabelecimentos de ensino?
As diferenças são tantas e tão diversas que ultrapassam o domínio e o espaço desta entrevista. Tentando sintetizar, diria que começam logo pela visão e definição clara do nosso Projeto Educativo: pais e colaboradores são informados de Quem Somos, O que Pretendemos e Para Onde e Como Vamos! Sendo algo óbvio, não existem muitas escolas a valorizar essa definição e clarificação, simplesmente porque não são capazes de determinar qual o seu caminho, qual a sua proposta e projeto de educação.
Depois, há uma diferenciação clara em termos de liderança e modelo de gestão, em termos de competência e capacidade de trabalho dos recursos humanos. O sucesso não está ao alcance de todos. É preciso trabalhar muito e bem! A associação de todos estes fatores acaba por criar um serviço com um qualidade inigualável traduzida por um conjunto de práticas cujo mérito é amplamente reconhecido.
É com muita satisfação que vejo hoje escolas de maior dimensão e, supostamente com maior massa crítica a adoptar (ou será decalcar?) as nossas metodologias e projetos de trabalho. É um bom sinal. As boas práticas devem ser reproduzidas.
O colégio define-se como sendo “exclusivamente vocacionado para a infância”. Atualmente, essa aposta chega ao primeiro ciclo, é intenção da direção ficar por aqui ou alargar às fases posteriores de ensino?
Temos o objetivo de alargar a oferta. As organizações ou crescem ou morrem! Após um longo período de reflexão, observamos que as crianças e jovens ‘amadurecem’ cada vez mais tarde. Parece-nos fazer sentido alargar a nossa abordagem, pelo menos, até ao 2º Ciclo. Os pedidos dos pais têm sido muito claros nessa matéria.
O capital de confiança e reconhecimento obtido ao longo destes 20 anos é para nós motivo de orgulho mas também representa um acréscimo de responsabilidade perante todas as famílias que acreditam neste projeto.
Nos últimos anos, o ensino particular e cooperativo em geral, e na nossa região em particular, não tem estado à altura das suas responsabilidades históricas. O principal objetivo d’A Torre dos Pequeninos está cumprido: ser uma escola de referência especializada na infância!
Cumpre-nos, no entanto, estar atentos e não abdicaremos de intervir e de dar o nosso contributo, se assim o entendermos e se esse entendimento corresponder à vontade dos pais. Contudo, não nos revemos numa lógica mercantilista e em práticas comerciais agressivas no setor da educação, que
em nada dignificam o ensino particular e cooperativo, e são especialmente censuráveis quando se tratam de Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS’s) e ligadas a ordens religiosas cujo ideário defende o primado dos valores cristãos.
Apostando num ensino de diferenciado, em atividades e acompanhamento diferenciado, tudo isto não faz da Torre dos Pequeninos um projeto ‘caro’?
Essa questão é um embuste. Um aluno no ensino básico público custa aos contribuintes cerca de 4500 euros/ano, na Torre dos Pequeninos não chega a 2500 euros/ano. É urgente explicar aos portugueses, entre outros, que um aluno no ensino privado custa cerca de metade do que um aluno numa escola pública; que as IPSS’s são financiadas em cerca de 70 por cento pelo Estado (através de isenções e benefícios fiscais e dos Acordos de Cooperação) e que a grande maioria está longe de prestar um serviço público/social de qualidade.
Segundo um estudo que encomendamos, no início deste ano, de entre todos os colégios da região, A Torre dos Pequeninos é o que tem a anuidade média mais baixa não deixa de ser curioso…
É urgente criar a consciência cívica de que o nosso sistema de ensino não precisa de mais recursos, mas de mais e melhor organização e de modelos de gestão modernos, que introduzam dinâmicas de avaliação e concorrência entre os diferentes operadores (públicos e privados). O ensino é o único setor chave da sociedade portuguesa que não possui uma entidade reguladora, independente do Estado, visando a inspeção e fiscalização dos diversos operadores. Precisamos de um Estado menos prestador de serviços e mais fiscalizador e regulador. Há estabelecimentos de ensino a funcionar sem qualquer visão estratégica, é preciso pensar a 10/20 anos!
Uma sociedade que não trata bem os seus filhos (e têm sido escassos) é uma sociedade sem futuro. Temos que assumir as nossas responsabilidades lutando pelos princípios em que acreditamos!