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O mundo de Jane

Foto: Michael Neugebauer

Tinha apenas 26 anos quando o seu encontro com chimpanzés em África levou a comunidade científica a repensar o nosso lugar na Natureza. Seis décadas depois, a primatologista, humanista e mensageira da paz das Nações Unidas, Jane Goodall, continua a defender de forma incansável os seus primatas e a conservação das espécies.

Em 1960, sem preparação académica formal, e acompanhada pela mãe (requisito obrigatório), Jane Goodall viajou de Inglaterra para o que é hoje a Tanzânia e mergulhou no então pouco conhecido mundo dos chimpanzés selvagens. No Parque Nacional de Gombe desenvolveu uma abordagem pouco ortodoxa no seu trabalho de campo: em vez de ser apenas uma observadora distante, foi-se tornando vizinha daqueles primatas. Descobriu que eram omnívoros e não herbívoros, como até então se pensava, e que tinham interações sociais complexas.


Mas mais importante do que isso, observou que os chimpanzés eram capazes de fazer e usar ferramentas, uma característica atribuída à época apenas aos humanos. A sua descoberta tornou-se um dos grandes marcos da Academia no seculo XX, já que alterou a forma como era visto o nosso lugar na ordem natural. Ao mesmo tempo, Jane abria o caminho da ciência a outras mulheres.

Foto: The Jane Goodall Institute / By Bill Wallauer

Os chimpanzés partilham 98,7% do seu ADN com os humanos, daí a importância do seu estudo. Vivem
em grandes comunidades com uma hierarquia rígida e comunicam entre si utilizando sons, toque e linguagem corporal – “através de gestos que nos são familiares”, como a própria Jane Goodall documentou. Têm comportamentos agressivos, caçam mamíferos mais pequenos para comer e criam laços dentro da família e com a comunidade. São dotados de personalidade e emoções, defendeu Goodall na sua tese de doutoramento, em 1966.


O retrato da conservacionista lendária é apresentado no filme “Jane” (2017), do realizador Brett Morgen, com banda sonora de Philip Glass, e narrado pela própria. Criado a partir de mais de 100 horas de imagens confiadas aos arquivos da National Geographic, e que vão até aos anos 60 do século passado, é um tributo à carreira da cientista e ao seu amor pelos chimpanzés.

É que aos 88 anos Jane Goodall continua incansável na defesa destes nossos parentes próximos e da conservação das espécies. Antes da pandemia covid-19 viajava 300 dias por ano apoiada pelo trabalho da sua organização não governamental Jane Goodall Institute. A sua abordagem à conservação é muito direcionada aos mais novos, por isso criou em 1991 o Roots & Shoots, um programa educativo para crianças e jovens que está presente em mais de 60 países.

Hoje continua a comunicar sobretudo através de conversas, entrevistas e do seu podcast “Hopecast”. Com uma mensagem centrada na esperança, Jane Goodall convida-nos a agir em nome de todos os seres vivos e do planeta que partilhamos. Até porque, diz, “A principal ameaça ao futuro é a apatia”.

*A IN Corporate Magazine agradece ao Jane Goodall Institute a cedência de imagens