por Joana Mendonça, Presidente da Agência Nacional de Inovação
Comecei a estudar inovação há 20 anos, depois de um breve percurso de investigação em química e de ter passado dois anos em laboratório a sintetizar compostos, orgânicos e inorgânicos, na Suíça e em Portugal. Comecei com a voracidade com que se começa algo novo e, naqueles primeiros anos, li tudo o que consegui sobre teoria de inovação. A inovação não é apenas o desenvolvimento de novas soluções, mas, sobretudo, a sua entrada no mercado. Esse é o papel disruptivo da Inovação que o economista Schumpeter descreve na sua teoria de destruição criativa. É um fenómeno que acontece há muitos séculos. Em Portugal, podemos recuar aos descobrimentos e olhar para todos os desenvolvimentos tecnológicos, muitos dos quais alteraram radicalmente as formas de navegação, entre outras coisas.
Depois de ter estudado a inovação, comecei a interessar-me pelo processo de chegada da inovação ao mercado. Interessou-me sempre a ligação entre o conhecimento, que tipicamente é produzido nos centros de investigação, e a sua aplicação quando chega ao domínio das empresas, sejam elas grandes ou pequenas, start-ups ou incumbentes, a sua valorização económica. Com este estudo, fiz o mestrado e doutoramento.
Depois, comecei a ir para o terreno e ver como as empresas inovam. Espantou-me a forma como fui recebida nas empresas, que sempre me abriram as portas. Com estas visitas comecei a aprender como as equipas desenvolvem a tecnologia, que tipo de conhecimento procuram e como o internalizam. Consegui fazer a ligação entre todos os conceitos da teoria de inovação e a sua prática.
Esta ligação entre o conhecimento e a criação de valor, as instituições de ensino superior, centros de investigação e as empresas pode potenciar estes processos de inovação disruptiva. Muitos dos processos de inovação são colaborativos, pelo menos nalgumas das fases. Neste percurso, comecei ainda a interessar-me perceber a adoção da inovação. Compreender de que forma é que nós, indivíduos, adotamos a tecnologia, e como é que as empresas a adotam. Estudei os processos de diferentes tecnologias, nas quais é evidente que a adoção depende das características das próprias tecnologias, do contexto regulatório em que se inserem, dos mercados, dos setores que as integram. Depende de imensos fatores. Mas, acima de tudo, estes processos de adoção são marcados pelas decisões das suas pessoas.
Na verdade, o mais importante são as pessoas. São elas que desenvolvem o conhecimento, que pensam nas soluções, que as desenvolvem e as testam. Também são elas que fazem a colaboração e permitem a partilha e passagem de conhecimento.
Sem as pessoas nada é possível. Elas são a verdadeira inspiração.