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Mãe, enfermeira e empresária… Acima de tudo, Mulher

Nélia Sousa dá nome e cara a uma empresa de manutenção de transportes públicos e deseja inspirar outras mulheres a arriscar na sua vida pessoal e profissional, de modo a alcançarem os seus objetivos.

Enfermeira desde 1997, Nélia Sousa viu a sua vida tomar um rumo inesperado em 2013. Sem perspetivas de evolução da carreira em enfermagem, agarrou uma oportunidade de trabalho com a empresa Bombardier que, na altura, fazia a manutenção do Metro do Porto, e abriu a sua própria empresa na área de manutenção de transportes públicos. “Ser enfermeira dá-me um grande instinto de sobrevivência e reação ao inesperado e esta transição deu-se exatamente porque segui o meu instinto. Não tendo eu bases de gestão tive que adquirir conhecimento por pesquisa própria”, conta-nos.

Nélia Sousa revela que os primeiros anos do negócio não foram um mar de rosas, visto que tiveram um período de seis meses, após a saída da Bombardier do Metro do Porto, sem atividade por falta de Orçamento de Estado aprovado, o que impediu as empresas de contratar colaboradores. “Entretanto o trabalho foi surgindo e com o tempo realmente foi acontecendo este dito crescimento, até porque a nossa área de trabalho estava mais direcionada na zona do Porto, mas, entretanto, foi-nos sendo solicitada prestação de serviço em outras oficinas de outras localidades, como Contumil, Sernada do Vouga, Campolide, Oeiras, Barreiro, Santa Apolónia e Entroncamento”, revela a empreendedora. “O grande boom foi em 2018 com o facto de termos ganho alguns concursos que, embora com datas de terminus curtas, nos exigiu a contratação de mais mão-de-obra.” Segundo Nélia Sousa, um dos maiores desafios nesta área é mesmo a contratação de mão-de-obra qualificada para a execução destes trabalhos. Ao longo dos anos a empresa trabalhou para a EMEF e, agora, para a CP.

A empresa, com denominação oficial de “Nélia Sousa Unipessoal, lda” presta serviços em todas as áreas ligadas à manutenção e reparação de equipamentos ferroviários, sejam eles metros ou comboios, desde lavagem e limpeza dos mesmos, reparação mecânica e elétrica, impermeabilização de tejadilhos, recuperação de peças de museu, pintura exterior e interior de locomotivas, carruagens e outros equipamentos, trabalhos de soldadura e serralharia, remoção de grafitis, recuperação de interiores, substituição de vidros e aplicação de pavimento.

Em 2021, a Nélia Sousa Unipessoal, lda recebeu a segunda distinção consecutiva como empresa “Gazela”, algo que leva a sua gestora a não esquecer aqueles que têm trabalhado e crescido consigo. “Este prémio deve-se principalmente ao mérito dos meus colaboradores que ao prestarem um excelente serviço elevam o nome da empresa.”

“Cabe-nos a nós, mulheres, não ter medo de arriscar e assumir os lugares para os quais trabalhamos e damos muito de nós.”

“Focada, sonhadora, resiliente e consciente”

Quando questionada sobre o seu sentimento em relação ao facto de estar à frente de uma empresa cuja área de negócio é geralmente relacionada com o mundo masculino, Nélia Sousa afirma sentir-se muito orgulhosa de si mesma. “Primeiro por ser mulher; segundo porque sei que sou inspiração para algumas mulheres acreditarem no seu potencial, que todas temos, mas teimamos em mantê-lo fechado na gaveta, onde de certeza nunca terá a oportunidade de se desenvolver; terceiro por ser mãe e enfermeira e conseguir manter-me neste papel familiar e profissional, porque sou assim focada, sonhadora, resiliente e consciente de que sou o pilar do meu clã, como costumo dizer.”

Relativamente à sua opinião acerca da “posição da mulher”, Nélia Sousa é muito clara. “Sou da opinião que mulher pode-se posicionar onde ela quer, desde que se sinta merecedora desse lugar. Culturalmente, fomos educadas a aparecer pouco em papéis de destaque ou em lugares supostamente mais masculinos, no entanto, ao longo dos anos, há cada vez mais mulheres empoderadas, o que também vai destruindo esse culto à volta da imagem da mulher frágil e pouco capacitada. Cabe-nos a nós, mulheres, não ter medo de arriscar e assumir os lugares para os quais trabalhamos e damos muito de nós.”

“Ser enfermeira dá-me um grande instinto de sobrevivência e reação ao inesperado e esta transição deu-se exatamente porque segui o meu instinto.”

Um futuro familiar

No que diz respeito ao futuro, Nélia Sousa quer dar continuidade à empresa como projeto familiar com os seus descendentes, sendo que os seus filhos estão já ligados ao negócio. “O meu filho mais velho exerce funções de pintura no ramo ferroviário, formado em contexto de trabalho in loco por outro colaborador, área onde se verifica uma grande falta de formação. Já a minha filha mais nova está a iniciar faculdade na área de gestão de empresas.”

Além disso, a empresária revela também que pretende expandir a área de atuação da empresa, nomeadamente para a serralharia, soldadura, pintura de equipamentos e serviços gerais de manutenção e conservação, como limpeza, manutenção de espaços, limpeza de espaços verdes e pequenas obras em casa, como pintura de paredes, móveis, aplicação de pavimento, trabalhos de eletricidade e canalização, por exemplo.

“Uma empresa não pode só depender de um cliente, porque isso asfixia financeiramente o negócio”, começa por explicar. “Por esse motivo, o meu objetivo a curto prazo é alargar a prestação de serviços, que já estão contemplados no CAE secundário da empresa há alguns anos, mas por falta de disponibilidade de tempo não se tem investido nessa área, que requer prospeção de potenciais clientes e criação de equipas para o efeito, podendo assim dar oportunidade de emprego a mais pessoas e aumentar os clientes da empresa.”