Isabel Cipriano é a primeira mulher e a mais jovem Presidente da APOTEC desde 1977. Acredita que 2022 foi um enorme desafio, este ano quer avançar com o projeto de um Museu da Contabilidade, mas não faz planos a longo prazo.
Isabel Maria Cipriano nasceu em 1973, estudou Contabilidade e Administração no ISCAL, passou pela indústria têxtil até integrar, na viragem do século, em 2000, a APOTEC como coordenadora do Jornal de Contabilidade. Em 2007 assumiu a direção executiva e em 2016 foi eleita Vice-Presidente. Vive em Lisboa, é casada e tem um filho adolescente. |
Nos seus quase 46 anos de existência, nunca a Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade – APOTEC – teve uma presidente mulher até que em janeiro de 2022 foi eleita. O que significa para si ter chegado até este lugar, quebrando um padrão?
Entrei para a APOTEC no ano 2000; desempenhei papéis diferentes no âmbito da dinâmica de uma organização sempre preocupada com a renovação dos seus órgãos estatuários e integração dos mais jovens. Foi um orgulho ter sido eleita, não apenas pelo facto de ser mulher e por ser a pessoa mais jovem a liderar a APOTEC desde 1977, mas sobretudo pelo apoio incondicional dos restantes membros da direção, dos órgãos sociais, e em especial, dos associados. Ser Presidente da APOTEC não foi planeado, precipitou-se pela pior razão (a morte do meu antecessor, ainda no decorrer do mandato anterior).
Consegue fazer um balanço do seu primeiro ano de mandato?
Tenho o privilégio de trabalhar com pessoas de extrema competência nas suas áreas e de existir um enorme espírito de equipa. Foi um ano extremamente desafiante mas com excelentes resultados. Feito o balanço, sinto-me realizada nesta associação.
Nesta época economicamente instável e tendo em conta que não recebem apoios do Estado ou de outros organismos públicos, como equilibram o vosso orçamento?
Somos uma associação de utilidade pública e sem fins lucrativos com 46 anos de vida mas que não são os suficientes para os governos olharem para este género de associações – essenciais aos profissionais e à sociedade civil – com o intuito de as apoiarem. O livre associativismo faz parte do código genético de qualquer Democracia. Vivemos de um orçamento limitado entre as quotas dos associados que são residuais e das variadas formações que proporcionamos, incluindo, por exemplo, a preparação para os exames de admissão à profissão de contabilista certificado, que já vai na sua 43ª edição.
Meta para 2023? O Museu da Contabilidade “Queremos criar o Museu da Contabilidade – repetimos este tema porque temos um espólio valioso e gostaríamos que este projeto nascesse fora de Lisboa porque acreditamos que é necessário descentralizar esta temática e a cultura”, diz Isabel Cipriano. E acrescenta: “para que seja possível, precisamos naturalmente de apoios a vários níveis e esta é a nossa meta para 2023”. |
As formações constantes e em áreas distintas são uma espécie de cartão de visita da APOTEC.
Proporcionamos variadas formações presenciais em vários locais do País e/ou online em matérias como contabilidade, fiscalidade, direito, economia, gestão ou finanças. Os nossos formandos são de diferentes áreas públicas e privadas – e com idades e habilitações académicas distintas que nos procuram pela especificidade e rigor formativo.
Em 1977 a APOTEC fundou o Jornal da Contabilidade, gratuito para todos os associados. De que forma é que o jornal contribui para o desenvolvimento da profissão e da relação entre a APOTEC e os associados?
Em 1977 foi constituída a normalização contabilística portuguesa porque até então pouco ou nada se falava de contabilidade. Era preciso informar com rigor sobre os novos temas na medida em que a contabilidade começou a ter destaque. Nasceu o Jornal da Contabilidade, um elo privilegiado entre a APOTEC, os associados e as instituições de ensino superior e classificado pela então designada Alta Autoridade para a Comunicação Social (atual ERC) como publicação técnico-científica. Hoje em dia, o jornal é digital e trimestral e continua a ter bastante adesão de ambos os lados: entre quem escreve e entre quem lê. Em Portugal, é uma referência no seio associativo, profissional e académico.
No início da carreira profissional ou quando se cria um negócio, o conceito de contabilidade é um terreno desconhecido. O contabilista aparece como um escriturário ou, acima de tudo, um conselheiro?
(risos) Um contabilista está presente em todas as áreas das nossas vidas, na esfera pública e na privada. Creio que é urgente desmistificar a ideia que um contabilista é um burocrata. Diria antes que é a pessoa certa para organizar a vida económica e financeira das empresas.
Em 2022 a inflação em Portugal registou uma média de 7,8%, o valor mais alto desde 1992. Quais as suas expetativas para 2023?
A pandemia evidenciou que tudo muda num instante, vivemos um contexto europeu extremamente incerto. Acredito que a inflação em Portugal volte a estabilizar, mas não nos tempos mais próximos.
Está há mais de duas décadas na APOTEC e alcançou a posição máxima. Onde é que se imagina daqui a cinco anos?
(risos) A vida tem a imensa capacidade de nos surpreender e não faço planos a longo prazo, no entanto, imagino-me a dar resposta a mais desafios profissionais, que me façam continuar a crescer enquanto pessoa, e em retribuição às necessidades da sociedade.
Ser associado da APOTEC Os membros têm idades distintas e estão espalhados pelo País, incluindo pelas regiões autónomas da Madeira e dos Açores. A diáspora portuguesa também integra a APOTEC com associados além-fronteiras, em Macau ou Moçambique, por exemplo. Os associados são pessoas que estudem ou que exerçam a sua profissão (incluindo professores) nas áreas da contabilidade, fiscalidade, finanças, direito, economia ou gestão e usufruem de uma série de benefícios, entre outros, protocolos, o jornal da contabilidade, formações gratuitas ou um consultório técnico. Os valores anuais (que podem ser pagos mensalmente) são: estudantes e desempregados €24 / singulares €48 /empresas €228. |