Depois de dez anos a desempenhar funções como assessora jurídica e de recursos humanos num grande grupo empresarial, Diana Reis decidiu que era altura de “ter um projeto próprio e de concretizar uma aspiração pessoal.” Foi assim que fundou o escritório de advocacia “Reis & Associados”, há quase quatro anos, em Coimbra. A diferença que um advogado pode fazer na vida de uma pessoa, essa descobriu-a há bem mais tempo, ainda na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi uma brilhante aluna.
O que mais a atraiu no mundo da Justiça e do Direito e quando decidiu que seria esta a sua vida profissional?
Curiosa e caricatamente, apesar de ter nascido e crescido numa família que nada tem que ver com a área, desde muito pequena que o Direito e a Justiça me fascinavam. Sempre fui muito atraída pelo pensamento e atuação humana. O que as pessoas pensam e fazem e por que o fazem. Desde a complexidade das questões, em que uma mesma situação se pode materializar de diversas formas, todas elas válidas e juridicamente admissíveis, perspetiváveis sob diferentes pontos de vista, todos eles também defensáveis, onde ganha a maior capacidade de convencimento (e não a verdade, que chega a ser múltipla – cada um tem a sua), bem como a capacidade criativa do ser humano na conceção das mais inusitadas situações e a ideia de perceber como é que a vida é regulada, foi sem dúvida o que mais me atraiu. Foi na adolescência que decidi que seguiria Direito, mas foi já no decurso da licenciatura que decidi que seria advogada. Foi aí que percebi a importância e diferença que um advogado pode verdadeiramente fazer na vida de uma pessoa. “
Na jornada podemos não saber com o que contar, mas devemos saber com quem contar”, é uma frase que nos recebe quando entramos no site da Reis & Associados. É desta forma que encara a sua profissão? Como alguém com quem se pode sempre contar?
Tem de ser, não consigo sequer perspetivar de outra forma. Começa logo na relação de confiança que estabelecemos com o cliente e vice-versa, pelo que nem sequer faz sentido que seja de outra forma.
Quais são as caraterísticas que considera fundamentais para se ser um bom advogado?
A qualificação de bom ou mau é um juízo valorativo que não me cabe a mim fazer. Temos uma Ordem profissional que nos regula e um leque de clientes que nos avalia. Acrescidamente, é um conceito altamente subjetivo, e como tal, variável. Enquanto advogada tomo em consideração (e peço à equipa que o faça também) seis características: comunicação fluída e efetiva; empatia; visão estratégica; comportamento ético; paixão pelo que se faz e capacidade para reinventar e se reinventar. Nem sempre é possível aplicar todas elas (somos humanos), mas esforçamo-nos.
“Ao unirmos esforços, crescemos juntos e resolvemos desafios profissionais, tornando-nos mais competitivos”
Para além das muito abrangentes áreas de atuação destacam também o facto de terem mais de 50 por cento de mulheres no escritório. De que forma é que essa preponderância feminina influencia o vosso trabalho?
O Direito não tem género, a Advocacia menos ainda. Reconheço, contudo, que há diferenças na forma como sentimos, olhamos e abordamos algumas realidades, da mesma forma que com isso influenciamos de forma diferente o modo como se decide. Julgo mesmo que há uma sensibilidade diferenciada. Por outro lado, partilhamos em grande medida das mesmas dificuldades diárias, sobretudo no que concerne à compatibilização da vida profissional com a vida familiar (aquele assoberbado conjunto de tarefas de organização da vida doméstica que continua a pesar na vida de muitas, a que acrescem filhos/enteados e até os mais idosos, dado o tendencial envelhecimento da população). Tudo isso conjugado influencia o nosso desempenho e a predisposição com que assumimos os desafios, dentro e fora do contexto de trabalho.
Outro ponto que parece evidente, para quem espreite as vossas redes sociais, é o bom ambiente que se vive na vossa equipa. Entende que este é um fator fundamental para conseguir os melhores resultados, seja em que área for?
Sem dúvida. À semelhança da generalidade das pessoas, passamos muito mais tempo no escritório do que em casa. É natural e normal que, ainda que instintivamente, nos tendamos a relacionar de forma mais próxima com os colegas de trabalho. Por via disso é fundamental potenciarmos e alimentarmos um bom ambiente de trabalho, onde todos se sintam realizados e reconhecidos. Por outro lado e considerando que acabamos também por gerir partes da vida de outras pessoas, é essencial que estejamos bem para podermos ajudar os outros a, na medida do possível, também ficarem bem. O bom ambiente que refere nasce também da circunstância de sermos muito responsivos e empáticos uns com os outros, mesmo nos dias mais cinzentos, e de termos muito claras as funções e responsabilidades de cada um, para as quais todos contribuímos. Equilibra a balança haver sempre um elemento que esteja sempre alegre (que no nosso caso é o Dr. Eduardo Montanhini e a Dra. Carolina Salgueiro), a par de um elemento mais crente (que no nosso caso é a Dra. Marta Ramos), e de um elemento mais cauteloso (que no nosso caso é a Dra. Elsa Gonçalves).
Pelo que pude perceber, para além da Diana Reis e restantes associados, trabalham também com uma rede de parceiros que acrescentam experiência internacional. Como é que desenvolveu estas parecerias e qual a sua importância para o funcionamento da sociedade de advogados?
As parcerias nasceram das amizades e, por via delas, dos contactos que se foram estabelecendo. Acrescidamente, integrando a nossa equipa elementos com dupla nacionalidade, o desenvolvimento das parcerias foi quase que natural. Procuramos conjugar o know-how, as vontades e meios humanos, num projeto conjunto, otimizando processos e procedimentos, alavancando resultados através de sinergias. Ao unirmos esforços, crescemos juntos e resolvemos desafios profissionais, tornando-nos mais competitivos, e esta é a grande mais-valia que as parcerias trouxeram para a estrutura.
A Justiça é, naturalmente, um dos grandes pilares de uma sociedade. Aproveito esta oportunidade, atendendo à sua experiência enquanto advogada e também gestora, para lhe pedir que nos diga, na sua opinião, uma medida que lhe pareça particularmente relevante para o desenvolvimento do país.
Vou cingir-me à área em que atuo e embora possa parecer “mais do mesmo”, a verdade é que o sistema judicial necessita de uma rápida e profunda intervenção, pois que a Justiça é, como bem disse, um pilar e absolutamente essencial à vida em sociedade. Decisões que tardam e que acabam por ser tornar inexequíveis, Magistrados a quem são entregues centenas de milhares de processos para gerir, funcionários envelhecidos, cansados e assoberbados, instalações precárias ou provisórias por décadas, tabelas de honorários, no âmbito da proteção jurídica, atualizadas em cêntimos em quase vinte anos de existência, entre inúmeros outros aspetos que lhe poderia referir, seriam, em medicina, sintomas de doença muito grave e incapacitante para um “doente”, imagine o que são para o sistema judicial. Mais do que meios tecnológicos, com que o sistema foi sendo dotado, com maior ou menor expressão, a Justiça neste momento precisa de meios humanos (muitos) e precisa de dar reconhecimento aos que até ao momento têm conseguido levar, às costas e com muito esforço e sacrifício, o sistema judicial tal como ele se encontra. Uma Justiça célere, responsiva e atual, desburocratizada e rejuvenescida, é o que se impõe.