Ligada à missão social da Medicina e à disciplina militar desde os 19 anos, Joana Paula é uma profissional de referência na área da Medicina Física e de Reabilitação. Hoje, à frente das quatro unidades da Saúde Sul, garante que o objetivo é “tornar a Medicina mais acessível”, promovendo uma “verdadeira transformação criativa num país envelhecido”.
O que a motivou a iniciar carreira na Academia Militar e de que forma essa experiência moldou a sua trajetória profissional?
Entrar na Academia Militar no curso de Medicina foi, sem dúvida, um dos maiores desafios da minha vida e uma decisão que me transformou profundamente. Naquele ano, enquanto frequentava a Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa, conheci estudantes de Medicina das Forças Armadas e, de forma quase inexplicável, identifiquei-me, profundamente, com eles e com o que representavam. Senti que aquele era o meu caminho. Treinei e estudei, intensamente, para passar nas inúmeras provas de admissão e, quando finalmente entrei, senti um enorme orgulho por parte da minha família e amigos, mas rapidamente percebi que estava apenas no início de um longo e difícil percurso.
Na Academia Militar vivi seis anos de internato, com uma rotina bastante rigorosa. Fui constantemente desafiada a superar limites físicos, mentais e emocionais. Ao estar sempre rodeada de pessoas resilientes, disciplinadas e com um espírito de sacrifício admirável, aprendi o verdadeiro valor do trabalho em equipa, da liderança e da superação. Havia momentos de exaustão, medo e dúvida, mas a união e o apoio tornavam possível enfrentar qualquer obstáculo.
Como é que uma Médica Fisiatra, especialista em Medicina Física e de Reabilitação, sócia e diretora clínica do Grupo Saúde Sul, sente que inspira as mulheres da sua profissão?
Sempre acreditei que liderar, através do exemplo, é a forma mais poderosa de inspirar os outros. Ao longo da minha vida, tive muitas pessoas que me inspiraram a fazer mais e melhor. Ocupo uma posição desafiante e muito exigente, mas não estou sozinha. Tenho uma equipa. Acredito que é possível conciliar a família, conhecimento técnico, visão estratégica e valores humanos. Temos de acreditar nas nossas capacidades e assumir o risco, seguindo sempre a nossa intuição e valores.
No seu Linkedin revela que, na sua profissão, existem muitas decisões tomadas sob pressão. Quais foram as maiores dificuldades que já sentiu enquanto médica?
As dificuldades variam de acordo com a especialidade médica e já trabalhei em diversos contextos. Contudo, em Medicina Física e de Reabilitação, uma das maiores dificuldades é equilibrar as expectativas dos doentes e dos seus familiares em casos de doenças com graves incapacidades. É preciso transformar o ambiente, a comunidade, as pessoas e as famílias. É um verdadeiro trabalho de equipa em que todos os profissionais são essenciais e indispensáveis.
“Sempre acreditei que liderar, através do exemplo, é a forma mais poderosa de inspirar os outros”
Atualmente, encontra-se a aprofundar aprendizagens, através de um Mestrado em Gestão da Transformação Digital, no Setor da Saúde. O que falta à Joana Paula conquistar?
Pessoalmente, há muito que me sinto realizada. No entanto, o mundo está em constante evolução e tenho a responsabilidade de dirigir e orientar, o melhor possível, o nosso grupo de empresas e as carreiras das pessoas que nele trabalham diariamente. Visando o futuro da área da saúde, atualmente, estou focada em explorar e aprender sobre gestão e transformação digital, com o objetivo de melhorar a experiência das pessoas que necessitam de cuidados de reabilitação e a eficiência dos processos. O meu objetivo é criar impacto e contribuir para que a Medicina Física e de Reabilitação se torne mais acessível, integrada e inovadora, promovendo uma verdadeira transformação criativa num país envelhecido. Terei de selecionar, formar e dirigir uma equipa que cumpra este desafio.
Como é que os seus estudos têm moldado a sua abordagem profissional?
Já fiz outras pós-graduações e mestrados, mas a primeira edição do Mestrado em Gestão e Transformação Digital no Setor da Saúde (ManagiDiTH) é uma experiência internacional, inovadora e que me tem ajudado a perceber como a tecnologia é essencial para respondermos aos desafios do presente e do futuro. Nunca o ser humano viveu tantos anos. A tecnologia e a Reabilitação sempre me fascinaram, creio que todo o ecossistema de saúde deve trabalhar em conjunto para melhorar a qualidade de vida das pessoas com doenças crónicas e incapacidade.
O percurso da Saúde Sul tem sido exemplar. Em 2023, obteve o Prémio de Excelência de PME e o Prémio Cinco Estrelas Regiões; em 2024 recebeu o Prémio Cinco Estrelas Regiões e o Quality award e, este ano, o Quality Award by Consumer Choice. O que diferencia o Grupo Saúde Sul de outras Clínicas e hospitais da região, especialmente no que diz respeito ao cuidado, à atuação e ao fortalecimento do atendimento multidisciplinar que promove a saúde integral do paciente?
O que nos diferencia é a nossa história, missão, visão e valores e, acima de tudo, o trabalho da nossa equipa multidisciplinar. Temos profissionais altamente capacitados e motivados para oferecer um serviço de excelência. A Saúde Sul investe em formação, inovação, excelência clínica e num atendimento multidisciplinar, que coloca o doente no centro de tudo. Atendemos as necessidades de toda a população e prestamos, igualmente, cuidados aos que mais necessitam.
O reconhecimento é o fruto do trabalho de todas as nossas equipas e deixa-nos verdadeiramente orgulhosos, mas aumenta a nossa responsabilidade. Um dos momentos recentes mais marcantes foi a nossa unidade da Moita receber o estatuto PME Excelência e sermos distinguidos entre as PME com melhores resultados, na categoria mais emprego.
Quais são as vantagens da integração de médicas ucranianas no processo de reabilitação dos pacientes?
Nós integramos uma médica e uma enfermeira ucraniana nas nossas equipas, mas elas não podem ainda exercer essas funções. Estão em processo de requalificação profissional e assumem outras funções na nossa equipa. No que respeita à história da Anastasiia Zapotichna e da Olga Didenko só posso dizer que elas são verdadeiras “guerreiras” e que me têm inspirado a mim e à nossa equipa. Elas são o exemplo prático de que não reabilitamos apenas pessoas com doenças e incapacidades, mas também somos capazes de deixar a nossa marca positiva no mundo. Transformamos pessoas, equipas e projetos com elevado potencial. A presença desta médica e desta enfermeira nas nossas equipas enriquece-nos cultural e moralmente. Relembra-nos que existem pessoas que, apesar de terem vivido situações de elevada complexidade e dificuldade, continuam a lutar por desempenhar de forma exemplar as suas funções.