Em entrevista à IN Corporate Magazine, Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo, sublinha a importância estratégica do setor para a coesão territorial e para o futuro económico do país. É neste enquadramento que surgem projetos como as “Estradas com História”, expressão de uma ambição clara: descentralizar a oferta, valorizar os territórios de baixa densidade e promover um turismo sustentável, ancorado na identidade cultural das comunidades.
O lançamento das “Estradas com História EN16 e EN17” reforça a aposta em roteiros rodoviários como produtos turísticos diferenciadores. Que papel espera que esta iniciativa desempenhe na descentralização do turismo e na valorização das regiões envolvidas?
No domínio do Turismo, Portugal ostenta dez ativos primordiais, contudo, uma característica sobressai sempre: a sua invulgar capacidade de se reinventar. O projeto “Estradas com História”, designadamente a EN16 e a EN17, corrobora precisamente esta premissa, pois celebra a pujança dos territórios e concorre para a sua qualificação e competitividade acrescida.
Este projeto, que converte duas das mais emblemáticas vias rodoviárias do interior em eixos de descoberta cultural, patrimonial e gastronómica, traçando o caminho de desenvolvimento de um turismo sustentável e autêntico, que prestigia o legado cultural e natural, enquanto induz, em simultâneo, a desejada dinâmica socioeconómica nos territórios que percorre, está assim alinhado com a Estratégia Nacional de Turismo, documento que visa descentralizar a oferta turística, fomentando a procura em destinos menos densificados, qualificar e diversificar os produtos turísticos, estabelecendo horizontes mais alargados de uma oferta turística que não se cinja aos tradicionais segmentos de sol e praia.
O projeto prevê a criação de uma rede colaborativa que congrega operadores turísticos, municípios e agentes locais, no âmbito de uma estratégia integrada de valorização territorial cujo propósito reside em robustecer a atratividade do turismo no interior, promovendo a genuinidade das comunidades e dos seus recursos endógenos. O plano de ação contempla a implementação de diversas medidas estratégicas, que incluem a conceção de roteiros turísticos, o desenvolvimento de infraestruturas de sinalização e a capacitação de agentes.
“Os empresários têm desempenhado um papel determinante no êxito do turismo português”
Além do impacto económico, espera que iniciativas como esta ajudem a promover a identidade cultural e o envolvimento ativo das populações na experiência turística?
Sem dúvida. O objetivo principal destes projetos é a geração de valor para as comunidades, promovendo a sua identidade cultural através da valorização das tradições, da história e do seu património material e imaterial. Urge que os benefícios decorrentes da atividade turística sejam partilhados equitativamente, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Ao estimular o envolvimento proativo das populações na conceção e na oferta de experiências turísticas autênticas, pretende-se enriquecer o sentimento de pertença e enaltecer o saber-fazer endógeno. Este é o tipo de turismo que ambicionamos para o futuro, uma interação simbiótica que enriquece a experiência dos visitantes e, simultaneamente, estimula o desenvolvimento económico local, fortalece a perenidade do turismo e garante a conservação das tradições culturais para as próximas gerações.

O turismo rodoviário e o slow travel têm ganho destaque, com viajantes a procurarem rotas genuínas e mais tranquilas. A EN2 é já um caso de sucesso, e a EN222 é reconhecida como uma das mais belas do mundo, por exemplo. Acredita que a promoção destas estradas históricas ajuda a consolidar Portugal como um destino de referência neste segmento?
O sucesso de Portugal como destino de referência no turismo rodoviário e no slow travel depende de uma estratégia de crescimento sustentável, coerente e equilibrada em todas as suas dimensões. A promoção e valorização de estradas históricas, com forte identidade cultural e paisagística, é essencial para diversificar a oferta turística e estimular a visita a territórios de baixa densidade, fomentando uma distribuição mais equitativa dos fluxos turísticos ao longo do país e ao longo de todo o ano.
A autenticidade, a tranquilidade e a proximidade às comunidades são hoje atributos cada vez mais procurados pelos viajantes, e Portugal, pela sua dimensão geográfica à qual se aliam os recursos culturais e históricos, está particularmente bem posicionado para se afirmar no acolhimento e no saber-fazer.
Este enfoque no turismo rodoviário expande a atratividade do país e também concorre para o posicionamento de Portugal enquanto destino diversificado, inclusivo e de elevada qualidade, capaz de atender às motivações de distintos perfis de turistas e de promover um turismo mais sustentável, inclusivo e responsável.
A estabilidade e o planeamento a longo prazo são fundamentais para o setor. Este inesperado período eleitoral veio preocupar os empresários, que pedem, como o Sr. Secretário de Estado referiu numa entrevista recente, que os “deixem trabalhar”. Que garantias podem ser dadas ao setor para assegurar a continuidade das políticas estratégicas e evitar ruturas que comprometam o crescimento do turismo em Portugal?
O turismo configura-se, inequivocamente, como o setor que presentemente infunde na nação um sentimento de serenidade e confiança relativamente ao futuro imediato. No primeiro trimestre de 2025, o setor tem evidenciado resultados muito positivos. Assiste-se a uma crescente preocupação em acompanhar o desenvolvimento sustentável do turismo em Portugal, e persistem margens significativas para expansão. Esta é uma atividade que, felizmente, se mantém impulsionada pela sua capacidade intrínseca e iniciativa privada.
Os empresários têm desempenhado um papel determinante no êxito do turismo português, sendo essencial assegurar que possam prosseguir a sua atividade num ambiente de confiança e previsibilidade. Temos a convicção, fundamentada no contacto quotidiano que mantemos com as empresas e os empresários, de que esta trajetória de crescimento se manterá em 2025, alicerçada nos resultados favoráveis de 2024. Independentemente do contexto político vigente, existe uma estratégia consolidada e uma visão clara para o futuro do turismo em Portugal, que continuará a constituir um dos pilares da economia nacional.