Com o passadiço de Serralves a marcar um dos momentos mais emblemáticos do seu percurso, a PORTILAME celebra já 20 anos de atividade. Embora transformar a madeira numa resposta “que promova o bem-estar coletivo” esteja longe de ser uma tarefa simples, David Simão, CEO, revela que a empresa tem vindo a destacar-se em vários projetos como o NOBILUS, em Vilamoura, um dos maiores empreendimentos em CLT (Cross-Laminated Timber) em Portugal.
A PORTILAME assinala duas décadas de atividade num setor altamente competitivo. Como descreve a evolução da empresa desde a sua fundação até à atualidade?
A PORTILAME surgiu da vontade dos seus dois fundadores em construir de forma diferente, recorrendo à industrialização e a materiais que promovem a neutralidade carbónica – neste caso, a madeira. Esta visão resultou, em parte, das suas experiências profissionais, tanto no ramo das carpintarias como na área de projeto, e da sua audácia e vontade de ir mais além, convergindo os seus conhecimentos e lançando-se num primeiro projeto, que consistiu na estrutura da cobertura de um edifício.

A partir deste primeiro projeto, e sempre com a devida proximidade, tanto ao dono de obra como à entidade responsável pela arquitetura, fomos alinhando ideias e superando desafios que, num primeiro momento, pareciam sempre impossíveis de alcançar. À medida que nos dávamos a conhecer no mercado, primeiramente com pequenos projetos – nomeadamente estruturas – e, posteriormente, moradias com uma forte componente em madeira, a PORTILAME começou também a reforçar as suas equipas e a melhorar as suas instalações, mantendo sempre a vontade de inovar através do investimento nos mais avançados equipamentos.
Esta vontade de inovar e de fazer algo diferente, exigiu recorrer à área da engenharia com madeira. Tendo a PORTILAME um sólido domínio da construção em madeira – um material nobre que proporciona ambientes acolhedores – fomos, ao longo do nosso percurso, acumulando conhecimento a partir das opiniões partilhadas por fornecedores, clientes, funcionários e, inclusive, criando parcerias estratégicas, como é o caso da colaboração com a UMINHO (Universidade do Minho).

Atualmente, a PORTILAME está capacitada com recursos tecnológicos que permitem uma construção cada vez mais offsite, possibilitando a execução de trabalhos das diferentes especialidades num ambiente mais apelativo para os trabalhadores, com mais rigor e maior controlo de qualidade.
O slogan da empresa “Wood power, pure living” revela uma identidade forte. Poderia descodificar que simbologia tem esta frase?
A nossa tagline “Wood power, pure living” está relacionada com os benefícios que podemos obter a partir de matérias-primas como a madeira, refletindo o profundo compromisso com o bem-estar e a sustentabilidade, que para nós não é apenas uma palavra bonita. É, sim, um conjunto de ações que temos a obrigação de ter presentes no nosso dia a dia, com o objetivo de produzir algo que promova o bem-estar coletivo – e, sobretudo, o das gerações futuras. Daí assumirmos que a madeira desempenha um papel preponderante, sendo, sem dúvida, um gerador de uma vida mais pura.
A madeira é o elemento central da atividade desta empresa. Como é garantida a qualidade da matéria-prima utilizada?
Durante o processo de aprovisionamento da madeira, questionamos a sua origem e todos os processos a que a matéria-prima foi sujeita até dar entrada na nossa fábrica. Para facilitar este trabalho, a seleção dos fornecedores é efetuada através de um processo que consiste na avaliação com base no cumprimento de uma série de requisitos, o que nos confere maior confiança quanto à qualidade e proveniência do material fornecido.

Além disso, são realizados ensaios de controlo de qualidade desde o momento da chegada da matéria-prima até à conclusão do fabrico dos diferentes componentes. Estes ensaios encontram- se registados em procedimentos que detalham todos os passos, exigindo o cumprimento de uma série de parâmetros com limites associados, garantindo assim a conformidade dos materiais. Por outro lado, temos uma política de gestão de stocks baseada no histórico da rotatividade das espécies de madeira solicitadas e no tempo médio de fornecimento.
Definimos um stock mínimo por espécie, o que permite uma política interna de compras mais eficiente, assegurando tempo suficiente para a correta avaliação da madeira. Desta forma, conseguimos diminuir significativamente o risco de aquisição de matéria-prima de qualidade inferior.
A empresa diversificou recentemente as suas áreas de negócio. Quais são os principais segmentos em expansão? Que oportunidades representam para o futuro?
A conhecida crise no setor da construção tem impulsionado o rápido crescimento das empresas que apostam na industrialização e em soluções que garantam um produto de qualidade no menor espaço de tempo. A PORTILAME, tendo boa aceitação no mercado, tem vindo a ser desafiada a participar em projetos cada vez mais ambiciosos.
Nesse sentido, foi realizada uma reestruturação interna, que consistiu na criação de diferentes unidades de negócio: Inovação, Conceção & Desenvolvimento, PORTILAME Construction e, por fim, a PORTILAME Industry.

Ao dividirmos as áreas de atuação, o processo tornou-se mais célere, através de uma triagem inicial das consultas recebidas, reencaminhando-as para a unidade mais adequada.
Sempre que o pedido incide sobre carpintarias de limpos ou pequenas estruturas em madeira, é a PORTILAME Industry que assume o processo. Esta unidade encontra-se na fase final de ampliação e iniciará, a partir de setembro, a comercialização de casas de tipologia T1 e T2, com previsão de entrega no primeiro trimestre de 2026.
Por outro lado, a PORTILAME Construction mantém o segmento de origem, com um sistema construtivo também offsite, mas mais flexível e sempre com uma estreita relação com a arquitetura.
Esta unidade está dividida em dois segmentos: estruturas de madeira e grandes projetos de habitação.
Por fim, a unidade de negócio Inovação, Concepção & Desenvolvimento tem como objetivo a procura constante de melhorias nos nossos sistemas construtivos, bem como a otimização dos que nos chegam, indo ao encontro da vertente financeira do cliente – que é, e será sempre, um fator determinante.

A PORTILAME opera em cinco pavilhões e aposta continuamente em tecnologia. Como é que este investimento se reflete na qualidade final dos produtos e nos serviços oferecidos? Que papel desempenha a tecnologia no processo de fabrico da madeira e na diferenciação dos vossos produtos?
O facto de se trabalhar num ambiente controlado, onde as diferentes fases de fabrico passam por processos de controlo de qualidade, garante um resultado final superior. Por serem, na sua maioria, fases automatizadas – e face à grande proximidade entre quem desenvolve o projeto e o submete para execução nos equipamentos – o risco de erro é muito menor e o resultado obtido acaba, por vezes, por superar as expetativas do cliente.
A forte aposta na tecnologia reflete-se também na precisão com que os diferentes componentes são fabricados. Aliada à vertente tecnológica dos equipamentos, o facto de ser possível trabalhar numa plataforma digital, onde todos os responsáveis pelas diferentes especialidades podem colaborar, permite antecipar potenciais dificuldades que possam surgir durante a execução, evitando mal-entendidos e, sobretudo, ineficiências.

Por fim, a tecnologia também contribui para tornar o setor mais atrativo para captar mão de obra, proporcionando melhores condições de trabalho e evitando tarefas mais exaustivas e com maior risco para os trabalhadores.
A última participação na Construmat 2025 reforça o posicionamento internacional da marca. Quais foram os principais objetivos da vossa participação?
Precisamente, a consolidação da nossa aposta na área internacional. A PORTILAME tem vindo a ser consultada para projetos noutros países, para além da Europa. A participação na Construmat, em Barcelona, está alinhada com a nossa vontade de crescer em Espanha, onde percebemos que a procura pela construção em madeira já é significativa.

Felizmente, temos sido recomendados pelos nossos clientes, o que nos permitiu avançar com os primeiros desafios internacionais. Foi precisamente isso que impulsionou a nossa entrada em Espanha, iniciando com um pequeno projeto e, mais recentemente, com a adjudicação de um projeto para a execução de 50 moradias.
Para concluir, a madeira da PORTILAME está presente em projetos de referência, como o Treetop Walk Serralves. Que desafios e exigências implicou esse projeto? Existem outros projetos em curso que gostaria de destacar?
Sem dúvida, a principal exigência foi garantir a execução deste projeto em apenas quatro meses, com a qualidade pretendida. Importa referir que o projeto foi concebido pelo Arquiteto Carlos Castanheira, em colaboração com o Arquiteto Álvaro Siza. No momento em que fomos desafiados a participar, mesmo conscientes do elevado risco, decidimos avançar.

Na altura, tivemos de recorrer a ferramentas digitais – algo ainda pouco comum – mas foi isso que nos permitiu integrar as diferentes estruturas compostas por materiais distintos, como as fundações em betão e toda a estrutura superior em madeira. Estas ferramentas permitiram-nos planear a execução dos diferentes trabalhos de forma integrada, com monotorização diária.
Contudo, destaco um projeto em particular – o NOBILUS – não apenas pela sua localização privilegiada em Vilamoura ou pela aposta arrojada em aliar design contemporâneo à responsabilidade ambiental, mas sobretudo por se tratar do maior empreendimento em CLT (Cross-Laminated Timber) atualmente em execução em Portugal. Um projeto que se distingue pela escala e complexidade técnica associadas ao uso de madeira laminada cruzada, aliando sustentabilidade, elevado desempenho energético e uma experiência habitacional de excelência.