Com um percurso enraizado no associativismo local e quase uma década à frente da Junta de Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação, Renato Alves faz um balanço da sua liderança, aponta desafios e enumera conquistas. A poucos meses das eleições autárquicas, confirma a recandidatura e defende o papel estratégico do território no desenvolvimento metropolitano, sublinhando a aposta no investimento público, na coesão social e na proximidade com os cidadãos.
Costuma dizer que “não nasceu em Camarate mas é de Camarate, com muito orgulho”. Como é que esta ligação pessoal e cívica ao território, onde vive desde os oito anos e onde sempre trabalhou e se envolveu em instituições como os Escuteiros, Bombeiros Voluntários e a Casa de Repouso dos Motoristas, influencia a sua visão da liderança local e as decisões que toma à frente da junta?
Bom, é verdade tudo o que acabou de afirmar. Reitero e reafirmo que tudo isso contribuiu para influenciar a minha maneira de pensar, ter uma visão da realidade do território e poder agir de conformidade. São ferramentas muito importantes que me deram muita experiência e me permitiram ter decisões assertivas sem andar a fazer experiências!

A sua vida tem sido marcada pelo serviço à comunidade. Como é que essa experiência se reflete na forma como gere a junta e como lida com os desafios do poder local?
Não foi fácil. Os desafios eram e continuam a ser muitos. A freguesia não estava preparada para os desafios que teríamos de ultrapassar. A Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação, dada a sua realidade social, carecia de avultados investimentos nas diversas áreas para ultrapassar o paradigma da pobreza social, da carência de equipamentos públicos e de forma especial no investimento nas pessoas. É que para nós, em primeiro, estão e sempre estiveram as pessoas, as associações e instituições!
A Junta de Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação é frequentemente apontada como um caso paradigmático de gestão local num território marcado pela diversidade e complexidade. Que balanço faz destes oito anos da sua liderança?
Balanço positivo sem sombra de dúvida. Apesar dos constrangimentos do COVID-19, mais tarde das cheias de 2021 e posteriormente da tempestade Martinho – situações terríveis que tivemos de enfrentar – apoiando intensamente as pessoas, as associações e instituições. Isto obrigou a Junta de Freguesia a direcionar grande parte dos seus recursos humanos e financeiros, tendo conseguido ultrapassar as situações muito, mas mesmo muito complicadas que daí advieram, e em conjunto com os nossos parceiros locais tudo se conseguiu ultrapassar.
A discussão sobre a eventual desagregação tem ganho fôlego. Que impacto tem tido na dinâmica da junta? Se a desagregação avançar, como antecipa a transição administrativa?
Em relação à hipotética desagregação das freguesias, eu tenho a minha opinião formada. É verdade que apoio desde o início a desagregação das freguesias. No entanto ao refletir sobre o assunto interrogo o seguinte: Já se fez a avaliação séria da agregação e das vantagens ou desvantagens que se obtiveram para a freguesia? Penso que não. Cada freguesia é uma realidade e no caso concreto desta União de Freguesias, tenho consciência de que o aumento da sua dimensão com a agregação trouxe muitas vantagens para as nossas populações. Permitiu mais poder reivindicativo. Obrigou o executivo da Junta de Freguesia a fazer os investimentos necessários à adaptação à nova realidade, ao nível dos recursos humanos, financeiros, materiais e equipamentos.

Ao contrário do anterior executivo, nestes dois últimos mandatos conseguimos modernizar todos os serviços administrativos, aumentou-se a oferta de novos serviços (Espaço Cidadão, CTT, Espaço Energia), criaram-se mais delegações da Junta de Freguesia no território, de entre muitas melhorias, permitindo uma maior proximidade e eficiência do serviço prestado aos cidadãos.
Apostou-se forte na qualificação e no aumento de funcionários com qualificações em todas as áreas. Apostou-se muito na aquisição de novos e modernos equipamentos para permitir aos trabalhadores melhores condições de trabalho e consequentes ganhos na segurança, eficiência e produtividade. Foram aproveitados recursos financeiros que foram colocados à disposição da Junta, através do PRR e outros.
Mas não só isso, a agregação das freguesias veio permitir que a Junta de Freguesia, com a sua nova dimensão, pudesse reunir condições para aceitar a Descentralização de Competências que ocorreu, bem como outras competências delegadas pela Câmara Municipal de Loures.
A proximidade ao aeroporto e a forte presença industrial colocam Camarate numa posição estratégica na economia da região. Que políticas tem a junta para atrair investimento, estimular o emprego e apoiar o tecido empresarial local, especialmente as pequenas e médias empresas?
De facto, Camarate tem uma localização privilegiada, tem bons acessos rodoviários e uma forte presença industrial que tem tudo para ser potenciada e valorizada. Essa centralidade é uma mais-valia para a Freguesia e para a economia da região.
Do lado da Junta de Freguesia, apesar das nossas competências serem limitadas nesta matéria, temos procurado ser um parceiro ativo na criação de um ambiente favorável ao investimento e ao desenvolvimento económico local. Apostamos no diálogo constante com os empresários locais, promovemos redes de contacto e apoiamos iniciativas que valorizem o comércio e a indústria de proximidade.
Temos trabalhado com a Câmara Municipal de Loures para criar incentivos ao empreendedorismo, promover a reabilitação de zonas industriais degradadas e melhorar a mobilidade dentro da freguesia, o que é essencial para atrair e fixar empresas. É importante reforçar a ligação entre escolas, centros de formação e empresas, para preparar os nossos jovens para o mercado de trabalho local.
Para as pequenas e médias empresas, que são o motor da nossa economia, é importante simplificar processos, divulgar apoios disponíveis e criar espaços de encontro e partilha de experiências.
Acreditamos que, com uma visão integrada e colaborativa, esta União de Freguesias pode afirmar-se como um polo dinâmico e competitivo na Área Metropolitana de Lisboa.
Uma das marcas identitárias deste território é a sua multiculturalidade. Que estratégias têm surtido mais efeito na promoção da inclusão social e integração de comunidades migrantes, por exemplo?
A nível da multiculturalidade, desde sempre, e em especial, a partir do período em que os chamados “retornados” regressaram a Portugal e que houve grande dificuldade na sua integração no País, a freguesia de Camarate sofreu com essa pressão. Não havia habitação e trabalho disponível para acolher tanta gente e dentro dos limites e com muita dificuldade as coisas foram sendo resolvidas ao longo dos tempos.
Toda essa gente, engenhosa e trabalhadora, conseguiu criar melhores condições de vida, integraram-se na sociedade e muito contribuíram para o desenvolvimento integral do país.
Todos contribuíram em muito para o desenvolvimento social e económico de Portugal. No caso de Camarate, o conhecido “Lar Panorâmico” foi ocupado pelos “Retornados” durante vários anos até serem encontradas soluções para toda aquela gente. Tempos difíceis onde foi possível criar novas amizades, sociabilizar, todos estávamos comprometidos. Eram outros tempos e muito marcantes para aquelas gerações!
Nos dias de hoje as coisas são diferentes sendo praticamente iguais!

É importante salientar que a integração das pessoas precisa de soluções e de respeito, neste momento há falta de habitação e de condições de trabalho. Os técnicos que acompanham estas pessoas precisam de ter soluções efetivas para conseguir um trabalho mais eficiente no terreno sob pena de se perder tempo e gastar recursos do Estado sem que se consiga valorizar esse trabalho.
A pressão habitacional é um problema crescente na área metropolitana. Como está a freguesia a lidar com o crescimento urbano, a reabilitação do edificado e a criação de condições de habitação condigna para todos, em especial para os mais jovens e os mais vulneráveis?
Esta freguesia sofreu sempre do problema de falta de habitação, da existência de habitação precária e da proliferação de Bairros de génese ilegal e de bairros de barracas.
Ao longo dos anos, a Câmara Municipal de Loures tem investido muito, mas não o suficiente, para resolver estas questões. É preciso mais investimento por parte da Câmara e do Poder Central. A Junta de Freguesia tem estado ao lado da Câmara, acompanha os investimentos e opina sobre as políticas de habitação implementadas.
Por outro lado, nos últimos anos tem-se verificado aumento da construção por parte dos privados, tendo aumentado a oferta, mas ainda não chega, pois a procura de casa para aquisição como para aluguer é muita, não para de crescer! A questão da segurança e da convivência intercultural em zonas densamente povoadas tem sido um tema sensível.
Que trabalho tem sido feito em articulação com as forças de segurança e as associações locais para promover uma vivência segura e pacífica?
Penso que o sentimento de insegurança já foi pior no passado. Existe um excelente relacionamento entre a Junta de Freguesia, a PSP e todos os agentes envolvidos nesta área de segurança. Destaco para além da PSP, a Polícia Municipal, os Bombeiros de Camarate, a Proteção Civil de Loures e todas as restantes associações existentes.
A interação que existe entre todos tem dado resultados positivos e tem melhorado muito o sentimento de segurança na comunidade. Por parte da Junta de Freguesia há a consciência de que a segurança depende de todos, não é apenas da competência do Estado Central ou da Câmara Municipal. Nesse sentido a Junta de Freguesia tem apoiado a PSP na cedência de viaturas caracterizadas e não caracterizadas, na cedência de material informático, computador e impressora multifunções de entre outros apoios solicitados pela PSP.
O retorno dos apoios cedidos acontece nas ações promovias pela PSP na área territorial da freguesia que servem para manter a calma e segurança dos cidadãos e também nas ações que a Junta pede diretamente à PSP.

Que papel tem a junta na promoção de projetos educativos e de apoio aos jovens? Existem parcerias com escolas, IPSS ou coletividades que gostaria de destacar? Que impacto têm tido esses projetos?
A Junta de Freguesia tem protocolos estabelecidos com praticamente todas as associações ativas da freguesia, tendo em conta a cedência de apoios financeiros, materiais ou de outra ordem, por exemplo a cedência de espaços para sede das associações.
Os apoios financeiros são concedidos de forma anual, mensal ou esporadicamente, de acordo com o tipo de associação e da atividade que desenvolve. Há apoios materiais e financeiros que são concedidos conforme a natureza dos eventos. Destaco, para além dos apoios financeiros que acima referi, os apoios a associações para cofinanciar a construção de edifícios e os projetos de ampliação ou construção de novos equipamentos, o apoio para aquisição de ambulâncias totalmente equipadas para os Bombeiros de Sacavém (uma) e também de Camarate (duas), e muitos outros que não revelo agora por serem muitos.
A participação cívica, sobretudo dos mais jovens, continua a ser um desafio em todo o país. Que iniciativas têm contribuído para aproximar a população da vida política local? Sente que há, hoje, maior envolvimento nas decisões e nas dinâmicas da junta?
Sem sombra de dívida! Tive o privilégio de inaugurar a escola do fado da Junta de Freguesia “Escola de Fado Fora de Portas” que funciona diariamente e conta com o apoio integral da Junta de Freguesia. Em parceria e com o apoio da Junta de Freguesia foram constituídas uma série de novas associações, na área desportiva, na área dos idosos e noutras áreas que vieram complementar as já existentes e que funcionam muito bem. Todas elas a Junta de Freguesia apoia.
É nossa prática a Junta de freguesia não ter de fazer! A Junta aproveita as associações e instituições que existem e trabalham no terreno lança-lhes os desafios e apoia as iniciativas. Ou seja, ou é por convite da Junta ou é por iniciativa das associações que as coisas acontecem com naturalidade!
Curioso, foi por iniciativa da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Loures que neste ano de 2025 foram retomadas marchas populares para as quais foi envolvido um grande grupo de pessoas da freguesia e não só! É, para mim, um orgulho enorme ter sido retomado ao fim de mais de 50 anos “as marchas populares” da freguesia! São um sucesso!

O poder local vive sob pressão, entre constrangimentos financeiros e limitações de autonomia. Como avalia o atual contexto político para as freguesias? Que alterações considera imprescindíveis para reforçar a capacidade de atuação e a eficácia das juntas de freguesia?
As coisas no passado recente evoluíram no bom caminho: mais competências para as Juntas de Freguesia, e mais dinheiro para acompanhar o desempenho dessas competências. Ultimamente, a evolução não foi tão favorável!
O orçamento do estado não refletiu os aumentos dos custos de exploração que as Juntas sofreram nestes últimos anos, tendo estas tido uma vida menos desafogada para fazer face aos custos de exploração, o que inviabiliza investimento nas infraestruturas e consequentemente na melhoria das condições de vida das pessoas.
Essencialmente, o Governo terá de avaliar melhor a situação do financiamento das freguesias e ter um olhar diferente para as freguesias mais desfavorecidas e com maiores problemas sociais. Nós queremos e almejamos um País equilibrado onde haja menos desigualdades sociais e de outra ordem!
Como descreve a relação com a Câmara Municipal de Loures e outras entidades públicas? Sente que há articulação eficaz entre os diferentes níveis de governação local?
As relações entre a Junta de Freguesia, a Câmara Municipal de Loures e as outras entidades públicas são excelentes. Isto não quer dizer que tudo corra bem ou está bem! A Câmara Municipal e até outras entidades públicas reconhecem que pela proximidade, as Junta de Freguesia têm um olhar mais próximo e mais atento ao que se passa no seu território e atuam com maior eficiência e rapidez.
Esta é uma das razões que levou a Câmara Municipal de Loures e os SIMAR a celebrar Protocolos de Colaboração com as Juntas de Freguesia para o desempenho de funções em áreas como a recolha de monos, gestão do arvoredo e até na gestão de equipamentos.
Que mensagem gostaria de deixar aos cidadãos da União de Freguesias de Camarate, Unhos e Apelação? Que prioridades e compromissos pretende assumir para o próximo mandato, e como vê o papel do poder local no desenvolvimento sustentável e inclusivo do território?
Acho que todos me conhecem bem e sabem que sou homem de palavra, que cumpro sempre a palavra dada. O que prometi nas campanhas eleitorais, a Junta de Freguesia cumpriu! Todos tinham perfeito conhecimento das carências e das lacunas existentes na nossa freguesia.
Para cumprir as promessas e suprir lacunas com décadas de existência, a Junta de Freguesia por minha Ação ou através da pressão que fui exercendo perante os organismos competentes conseguiu:
A construção do Centro de Saúde do Catujal, a construção de dois bunkers para colocação de caixas ATM, a construção do espaço adaptado a festas junto ao multiusos de Unhos e a construção de edifício com casas de banho e balneários de apoio as variadíssimas atividades e a construção da escola nº3 de Unhos.
“Nos últimos anos tem-se verificado aumento da construção por parte dos privados, mas ainda não chega, pois a procura de casa para aquisição como para aluguer é muita, não para de crescer!”
O início da construção do Centro de Saúde de Camarate que se prevê estar concluída no último trimestre de 2025. O início da construção da escola EB nº 5 de Camarate que se prevê estar concluída no mês de setembro 2025. Diversas e avultadas requalificações em praticamente todas as escolas da freguesia. Realça-se a requalificação de variadíssimos passeios e o asfaltamento de variadíssimas ruas.
A reparação e manutenção do moinho de vento da Apelação, a recuperação da nora do Jardim da Nora bem como de edifícios da junta. Aproveitou-se a possibilidade de recorrer ao PRR para apoios financeiros na área das acessibilidades em espaços públicos, na área da sustentabilidade energética etc.
Poderia indicar agora um rol de obras ou ações executadas ou em curso, que decerto não merece aqui relevar mas que tiveram grande importância e criaram grande impacto na vida das pessoas ou a quem se destinaram. Importa sim olhar para trás e perspetivar o futuro!
Como já é do vosso conhecimento, vou apresentar a minha recandidatura à Junta de Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação para o quadriénio 2025–2028. Esta minha intenção é motivada, em primeiro lugar, por ter a consciência de que fiz tudo o que estava ao meu alcance para cumprir o prometido sempre com seriedade e empenho!
Depois porque estão em curso muitas obras para serem concluídas no ano corrente e, mais importante que isso, é a implementação de algumas ações e obras relevantes para o desenvolvimento futuro da freguesia. Passo a citar: A construção da nova escola Mário Sá Carneiro; a construção do pavilhão gimnodesportivo de Camarate, a construção do novo jardim de infância dos Fetais; a construção de uma escola nova que venha substituir a escola do Campo do Rio e a escola do Bairro de Santo António; a reconstrução da escola nº1 de Apelação e por fim dar os primeiros passos para a construção de um LAR (ERPI) no Catujal.
“O que prometi nas campanhas eleitorais, a Junta de Freguesia cumpriu!”