É bem conhecida a devoção das gentes de Barcelos a São Bento. Todos os anos, entre os meses de junho e de setembro, os romeiros cumprem os seus votos e promessas calcorreando os caminhos e estradas do concelho, atravessando-o desde as quatro partidas em direção ao santuário que se localiza em Rio Caldo, em plena serra do Gerês.
É impressionante o fervor da fé destas mulheres e homens que, desde Balugães ou Viatodos, Vila Seca ou Perelhal, saem às últimas horas do dia para chegar a São Bento da Porta Aberta às primeiras horas da manhã, partilhando conversas e orações, dores nos músculos e da vida, e bolhas nos pés, num misto de tradição, devoção e contemplação da paisagem.
Há peregrinos que fazem o trajeto há vinte, trinta, quarenta anos. A fé move-os sempre pelas mesmas paragens e já não se contam os sessenta quilómetros de distância pelos marcos das estradas: à meia-noite já andam perto de Prado ou de Braga; às duas da manhã passam por Amares; e às cinco, aproximam-se da Senhora da Abadia.
O Caminho de São Bento sinalizado entra em Barcelos por Perelhal, seguindo entre os núcleos rurais bem consolidados até à capela de São Cirilo, a uma centena de metros da igreja. Daqui segue ao largo da Capela de Nossa Senhora do Alívio, um dos locais mais emblemáticos da religiosidade desta região, com festividades em meados de setembro. Segue-se, então, em direção a Creixomil, num troço muito interessante entre campos agricultados do alvéolo do Reguengo. À entrada de Mariz, encontramos as Alminhas de Jesus Cristo, onde Nossa Senhora do Carmo e São Bento intercedem pelas almas do purgatório. Cruzando-se a estrada nacional, entra-se no traçado da estrada primitiva de Esposende para Barcelos, em terra batida, e pela zona de mata de grande frescura, a melhor forma de se entrar na parte urbana de Barcelos, pela zona industrial de São Pedro de Vila Frescainha. A passagem nas poldras do
Rio da Vila é um dos locais mais pitorescos do percurso, junto à azenha antiga e zona de lavadouros.
Entra-se, então, em Barcelos pelo Casal de Nil e Fonte de Baixo, junto ao paredão onde antigamente se cruzava o Cávado de barco. Subindo a Rua do Arco, vira-se para a ponte medieval, passando-se diante do Solar dos Pinheiros, da igreja Matriz de Barcelos, e do Paço dos Condes. A ponte medieval marca a coincidência do Caminho de São Bento com o Caminho de Santiago. Em Barcelos não deixe de visitar os painéis de azulejo da Igreja do Terço tematizados à vida de S. Bento.
Em Barcelinhos, junto à capela de Nossa Senhora da Ponte e do seu carvalho, vira-se para Vessadas, onde encontramos um parque de lazer junto aos muros da quinta, com uma fonte e as alminhas com painel de azulejo. Para trás, ficou a Casa do Egito, uma imponente construção do século XIX, com fachada de azulejo.
Junto à Capela de Santo António de Vessadas, o percurso vai abandonar a estrada nacional e segue para Rio Covo, por caminhos agrícolas entre os muros da Quinta da Tomadia, até se encontrar a estrada municipal que segue para Areias de Vilar. Em Rio Covo Santa Eugénia, encontra-se o nicho das Alminhas dos Carvalhos, numa zona ajardinada que funciona como centro cívico da freguesia e onde os peregrinos podem encontrar algum refrigério. Dali continua-se até ao Lugar da Madalena, em Areias de Vilar, que foi uma antiga paróquia, até se chegar ao parque de lazer do Senhor do Socorro, situado numa colina arborizada que convida ao descanso.
Mais adiante surge o imponente conjunto arquitetónico do Convento de Vilar de Frades, cuja igreja é Monumento Nacional e um dos melhores exemplares do gótico Manuelino. Vale bem uma visita.
O caminho segue então pela Veiga do Rio, junto ao Cávado, num cenário de rara beleza natural, passando junto às azenhas de Vilar e pelo parque das Lagoas de Caíde até se chegar junto à Barragem de Penide. Dali segue por uma mata com o sugestivo nome de Penedo da Moura, até se entrar na Pousa, e passando-se o Rio Labriosque, começa-se a subir o Monte da Graça para se entrar em Braga, em direção a Mire de Tibães.
São Bento
Barcelos tem um centro de devoção a São Bento na freguesia da Várzea. Os peregrinos da região afluem ali em grande número durante todo o ano, mas mais assíduos na proximidade da festa celebrada a 11 de julho, atraídos pela notoriedade do santo padroeiro. São Bento tem aqui boa fama de curar os cravos das mãos. No templo paroquial de traça recente, cujas origens estão bem documentadas desde o século XI, é venerada uma imagem de São Bento em pedra ançã de grande qualidade artística. Mas é na vizinha Capela da Tentação de São Bento onde se assiste ao aspeto mais curioso da devoção.
O conjunto escultórico representa o Santo diante de uma rapariga de boas cores, e entre eles a figura do diabo. Daí os populares chamarem à pequena construção a Capela do Diabo. Alguns devotos vão dando esmolas tanto ao santo, como ao demónio, e é frequente encontrarem-se maços de tabaco aos seus pés, para agradecer o abandono do hábito de fumar.