A idade certa para nos fazerem uma visita guiada, pela primeira vez, a uma fábrica, um estaleiro, uma oficina, é a infância. O cheiro a ferro e a ferrugem entranham-se na memória e de lá não saem mais. Assim como os sons, em cadência perfeita: o metálico da maquinaria, o frenético da soldadura, o ritmado do martelo, o contínuo da turbina, o zumbido elétrico da subestação ou o explosivo do motor de arranque.
Percebemos aí rapidamente o que faz andar o mundo. De onde vem a energia que ilumina as nossas noites, como são os braços e as mãos que criam e produzem tudo aquilo que nos dá conforto e que permitem que a civilização não seja “só” uma ideia, mas exista de facto.
São as mãos de trabalhadores, sejam eles e elas operários, mecânicos, mineiros, agricultores ou artesãos. Os guias certos para mostrarem a quem queira conhecer e visitar estes templos de trabalho. Ninguém revelará melhor do que eles o orgulho de fazer ou ter feito parte desta engrenagem incessante que começou com a invenção da roda e a descoberta do fogo.
Talvez nem precisem de palavras, bastará aquele olhar facilmente reconhecível, quando focam uma máquina parada que volta a ganhar vida, e as suas mãos calejadas começam a querer mover-se sozinhas. Elas que repetiriam sem esforço, de olhos fechados, os movimentos técnicos apurados necessários para que aquele torno mecânico voltasse a produzir um parafuso, ou saísse mais uma malha perfeita daquele tear.
O Turismo Industrial pode permitir-nos todas estas sensações, perpassando gerações, desde que o denominador comum esteja presente nos visitantes – a insaciável curiosidade pelo conhecimento.
Volto ao início, à “idade certa”, porque essas visitas precoces educam de uma maneira que nada substitui. Incutem o respeito pelo trabalho, pelo trabalho dos outros, dos mais velhos, que dominavam tecnologias, que hoje parecem obsoletas, mas onde era preciso saber fazer e não bastava carregar num botão. Eles tiveram de inventar o botão!
E que bem que o fizeram, porque a vida foi sempre melhorando nas gerações seguintes, e hoje vivemos sentados confortavelmente naquilo que os filhos da Revolução Industrial criaram. Esses filhos são os nossos pais, os nossos avós. É justo e sabe bem dizer: obrigado!
Nota: em 2024 completam-se os 50 anos do 25 de Abril, facto que assinalamos nesta edição e esperamos continuar a fazê-lo ao longo das próximas. Uma celebração que é também uma forma de agradecimento a quem nos permitiu nascer num país livre.