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EDITORIAL | EDIÇÃO 44 | MARÇO 2024

A primavera tem uma força iniciática febril, extremamente bela mas violenta, como a natureza afinal. Invariavelmente lembra-nos o amanhecer, o nascimento, o começo de algo, o desabrochar das plantas e das vidas. O “rosto” primaveril sorri com a chegada do sol, ao som de Here Comes the Sun dos Beatles (1969). As roupas ficam mais leves e mais claras, na esperança de que tenham igual resultado na inspiração das ideias.

É também uma das alturas do ano em que sentimos que o nosso corpo mais precisa de energia. A alteração horária e o aumento da luz solar traz consigo, por vezes, a Astenia da Primavera, o que obriga a cuidados redobrados e a arranques mais lentos para muitos.

Mas a primavera é sempre um amanhecer, desde que tenhamos a disposição adequada. Aquela que nos desperta a Morning Mood de Grieg (1875). E se há altura do dia em que precisamos de encontrar motivação que nos dê energia é mesma essa, o amanhecer.

Falando então de motivação, tema sempre muito caro para qualquer publicação que se dedique ao mundo empresarial e do trabalho, sabemos que há atividades que necessitam de mais resiliência do que outras. É uma das referências mais comuns, de cada vez que falamos no esforço empreendedor dos intervenientes da nossa revista. Como já referi aliás, num outro espaço, sabemos bem o que custa ter uma ideia original, defendê-la, a partir dela criar um produto ou serviço e depois vendê-lo. Depois, tantas vezes, quando resulta, alguns dirão que foi sorte. A esse respeito, o famoso Tio Olavo de Edson Athayde acredita “muito na sorte”, e diz: “tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte tenho.”

Permitam-me então que, uma vez mais, pegue no cinema e num punhado extraordinário de atores (Al Pacino, Ed Harris, Kevin Spacey, Alan Arkin, Alec Baldwin, Jack Lemmon…) e revisite o filme Glengarry Glen Ross (1992), que se baseia na peça de teatro com o mesmo nome e que valeu o Prémio Pulitzer a David Mamet em 1984. É um tratado sobre resiliência e pressão, recheado de diálogos e monólogos extraordinários, onde nos é mostrada a crueldade da competitividade de alguns meios corporativos. Uma luta constante pela sobrevivência, semelhante àquela que todos os dias ocorre na natureza, recuperando a ideia com que iniciei este texto.

Também por isso, mais do que nunca, mensagens como a que escolhi para terminar este editorial são necessárias – da psicóloga Edite Oliveira, que entrevistámos nesta edição: “É necessário cultivar as relações humanas baseadas no afeto e sobretudo na reciprocidade do Amor!”