Ação Social

Aprender a ReViver com demência

Complexo Social Armando Soares da Associação de Solidariedade Social e Recreativa de Nespereira, em Cinfães

Em Cinfães, um concelho com uma dinâmica crescente, sobretudo na área social, mas que a estatística teima em considerar dos mais pobres do país, há uma associação de solidariedade social que ajuda a identificar casos de demência, a combater as carências dessas pessoas e a dar uma nova vida aos cuidadores.

A ideia partiu da Associação de Solidariedade Social e Recreativa de Nespereira (ASSRNespereira), situada nessa freguesia de Nespereira, Cinfães, no distrito de Viseu, e que foi criada inicialmente pela necessidade de ali se criar um lar de idosos.

O projeto chamado ReViver consiste em dar respostas sociais e, complementarmente, clínicas – com a colaboração de outras instituições do concelho e os diversos agentes da Rede Social local – às pessoas institucionalizadas e não institucionalizadas, com demência e idade igual ou superior a 55 anos, bem como aos cuidadores formais/informais.

A área de atuação é, desde que foi criado em 2016, o concelho de Cinfães, mas com os olhos postos na possibilidade de saltar fronteiras.

“ReViver já foi apresentado à própria comunidade intermunicipal. Quando apareceu, foi uma pedrada no charco. Passado um ano, saiu o primeiro relatório do grupo de trabalho que o governo criou, visando a criação da Estratégia da Saúde na área das Demências e com muitas das conclusões que também localmente tínhamos tirado”, exemplificou Cláudio Oliveira, presidente da direção da ASSRNespereira, nascida em 1995.

“Víamos mais pessoas com sintomas demenciais, umas diagnosticadas e outras, fruto do meio onde estamos, com algum receio em assumir as limitações e, conforme vimos, que não estavam diagnosticadas”, continuou.

Assim sendo, a direção considerou “útil criar uma equipa de intervenção social, numa primeira fase, na área das demências”. A tarefa não se avizinhava fácil e foi então proposto ao município que a equipa ReViver – constituída atualmente por um sociólogo, um psicólogo e um educador social (no início eram dois psicólogos e um educador social) – trabalhasse para a IPSS e para a rede social do concelho.

Partiu-se depois para a parte clínica. Ou seja, o diagnóstico teria também de ser feito “junto da Administração Regional de Saúde (ARS) e do Centro de Saúde de Cinfães, para consulta de diagnóstico e encaminhamento para consulta de especialidade”. “Recolhemos a sensibilidade da ARS, até porque, nestes anos viram que havia muitos casos, e passou a haver uma consulta semanal de duas horas dedicada à demência”, frisou Cláudio Oliveira.

O projeto ReViver também aposta na sensibilização e na melhoria de condições de vida, aproveitando as instalações do moderno Complexo Social Armando Soares (inaugurado em 2012 com as valências de lar, creche, apoio domiciliário e albergando uma equipa do RSI e outra do SAAS (RLIS)).

Com atividades formativas e informativas, como é exemplo o ciclo de conferências, cuja 4.ª edição será já a 15 de novembro, passam a informação de forma a chegar aos cuidadores informais.

O próximo grande projeto é a ampliação da estrutura residencial, com um espaço dedicado às pessoas com demência. Um sonho, que segundo o presidente, terá de ser realidade.

“Terá a zona comum com os outros utentes, mas os quartos e espaços de locomoção são equipados para facilitar a integração destes utentes, como por exemplo o uso de sinais ou objetos para lhes dar autonomia e para conseguirem identificar o seu quarto sozinhos”, explicou Cláudio.

A grande novidade é que também haverá “quartos para descanso do cuidador”. Ou seja, apenas sazonalmente, eventuais portadores de demência ficam alojados e acompanhados no Complexo “para que os cuidadores possam usufruir de um período de férias”.

No total, estão projetadas 20 camas novas, dedicadas ao público-alvo do ReViver. Para já, aguardam a possibilidade de candidatura ao programa PARES 2.0 para as obras de ampliação avançarem.

O Complexo Social Armando Soares tem taxas de ocupação a 100 por cento, com lista de espera sobretudo no lar de idosos. Já a creche tem 25 crianças. Além dos funcionários, conta ainda com um grupo de voluntários de cerca de 40 elementos que, entre outras atividades, entregam refeições ao fim-de-semana.

Desde 2007 tem uma equipa multidisciplinar do RSI (Rendimento Social de Inserção), responsável por acompanhar o programa em 10 das 14 freguesias de Cinfães. Desde 2016 ‘acumula’ isso com uma equipa do SAAS (Serviço de Acompanhamento e Atendimento Social) para substituir a presença da Segurança Social no concelho.

Teve já, enquanto a lei permitiu, uma empresa de inserção, de onde saíram alguns dos seus colaboradores atuais e foi também a instituição que acolheu o CLDS de 1.ª geração no concelho, em 2009.

Foi por essa dinâmica que, em 2017, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escolheu a ASSRNespereira para receber um donativo (excedente da sua campanha presidencial).

Nada mau para uma associação nascida oficialmente há quase 25 anos numa freguesia que, graças ao fluxo migratório interno e à emigração, tem diariamente pouco mais de mil habitantes.

Envolvendo a comunidade

Diariamente, a instituição desenvolve estratégias de aproximação entre a comunidade externa e interna. O Open Day leva anualmente ao Complexo Social familiares de utentes, de colaboradores, de voluntários e de diretores, com o propósito de passar um dia, da mesma forma que fazem os utentes, percebendo assim o quotidiano. Já a plataforma SiosLife, para além de inúmeras possibilidades lúdico-didáticas, confere ainda a possibilidade de contacto diário, à distância, entre utentes e familiares.

Associação de Solidariedade Social e Recreativa de Nespereira

Gestão moderna, diferenciada e funcional

Ao nível da administração, de entre os corpos sociais, ao presidente – gestor de formação, chefia da Autoridade Tributária de profissão e Coach, com certificação internacional, por iniciativa de desenvolvimento pessoal – juntam-se outros quatro elementos que constituem a denominada task force, onde impera a multidisciplinaridade e a simbiose entre diferentes competências e experiências.

Internamente, uma estruturação dos recursos humanos que foge ao tradicional com coordenações em áreas que refutam de importância capital, numa instituição que repetem ser de pessoas, por pessoas e para pessoas.

A interação, entre quem tem o papel dirigente, aos mais diversos níveis, é uma preocupação constante, como comprova a recém-realizada 3.ª edição do Dia de Campo, onde administração e técnicos se submetem a atividades de reforço da coesão, de estreitamento de laços e entreajuda.

No dia a dia, a formação e motivação são preocupações constantes, pois o grau de satisfação dos recursos humanos é um indexante direto da qualidade dos serviços prestados.

Associação de Solidariedade Social e Recreativa de Nespereira