Gastronomia | Vinhos

Uma casa secular num cantinho de Lisboa

Entrecopos reina sempre a boa disposição. Mário Reis é o anfitrião de serviço todos os dias, numa casa cuja história remonta a 1893, data que coincide com a abertura do Campo Pequeno, em Lisboa. Se está por Lisboa e pretende degustar os melhores grelhados da capital, acompanhado de uma boa dose de alegria e boa disposição, não deixe de visitar nestes dias a casa Entrecopos, na rua de Entrecampos.

Ao entrar no Entrecopos é fácil perceber que se trata de uma casa para amigos, para comer e beber, como um bom português. Mário Reis e a esposa Andrea Carla são os responsáveis pelo atendimento e pela cozinha, de um restaurante que hoje já é secular. “O nosso estabelecimento tem uma história riquíssima”, introduz rapidamente Mário Reis, em conversa com a nossa revista. “Este espaço remonta às cavalariças do palácio de Isidoro Viana, transformadas em adega em 1893, no mesmo ano em que o Campo Pequeno abriu portas. Era a chamada Adega do Arco Cego, sendo que o Arco Cego vinha até à estrada de entrecampos, uma das dez entradas e saídas de Lisboa que existiam na altura. Em 1939 surgiu uma nova figura na adega, uma viúva judia holandesa, que transformou a adega, numa casa de pasto, aproveitando a grande concentração de operariado que existia nas redondezas”.

Foi como casa de pasto que o estabelecimento começou a ganhar nome até que a viúva holandesa se afastou do negócio e a casa de pasto ficaria com a empresa Garcia & Martins, pertencente a um merceeiro local, em sociedade com o seu contabilista. Nos anos 50 um antigo funcionário ficaria com a casa de pasto e com a empresa Garcia & Martins e seria o seu último proprietário, até Mário Reis abrir o Entrecopos. “Durante o período em que a casa pertencia ao antigo funcionário, Sr. Joaquim, as pessoas chamavam o estabelecimento de Parreirinha e mais tarde nos anos 60, era o chamado primeiro de maio, porque os tipógrafos vinham cá festejar a data. Eu, por minha vez, tinha uma livraria aqui perto e por brincadeira dizia muitas vezes ao senhor Joaquim, que um dia ficaria com o estabelecimento. Em 2004 ele quis passar o negócio e eu fiquei com a casa e dei-lhe o nome de Entrecopos”.

“O conceito de restauração vai muito além do prato”

De casa cheia todos os dias, quem vem ao Entrecopos, vem para comer bem, vendo traduzindo no prato, aquilo que em Portugal se faz de melhor. Da feijoada à transmontana, ao cozido à portuguesa aos domingos, há comida para todos os gostos, mas são os grelhados que fazem a diferença e que a IN Corporate aconselha ao nosso leitor. “A nossa grelha está sempre a trabalhar e o nosso peixe sai muito bem, alias temos mais peixe do que carne na nossa carta. A nossa ementa varia conforme o peixe que vamos recebendo, sendo que apenas trabalhamos com peixe fresco. Por exemplo, no início do verão, não há um dia em que não vendemos menos de 30 quilos de sardinha”. Em janeiro começa a época da lampreia, um dos pratos mais característicos do Entrecopos, que pode e dever ser acompanhado por um bom vinho da garrafeira do restaurante, que faz questão de apresentar algumas das melhores marcas de cada região do nosso país.

Aliado a uma boa refeição, existe sempre um bom serviço de atendimento, uma vez que para Mário Reis, “o conceito de restauração vai muito além do prato, é toda uma relação entre a casa e o cliente. Tenho colegas que são prejudicados porque não sabem bem servir o cliente e não o deixam confortável nos seus estabelecimentos. Eu gosto que as pessoas se sintam à vontade, gosto de conversar com eles, de lhe contar umas anedotas, em certos casos até lhes pago um copo ou outro. É através de uma boa relação que se fideliza um cliente e felizmente é o que tem acontecido nos últimos 15 anos”.

Fruto de todo este trabalho, o Entrecopos alcançou o estatuto de PME Líder em 2019, uma certificação que em nada altera a política do restaurante, nem envaidece o seu proprietário, uma vez que o objetivo do Entrecopos nunca foi ser uma fábrica de faturação, mas sim um espaço de confraternidade para pessoas de todas as idades, mantendo o conceito de casa de pasto, que caracteriza este estabelecimento há várias décadas.