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É tinto e é da Madeira. Conheça os sabores marcantes do ‘Boneca de Canudo’

Boneca do Canudo

O rótulo chama a atenção e o vinho surpreende. O tinto ‘Boneca de Canudo’ promete colocar os vinhos tranquilos da Madeira num novo patamar. É produzido pela Casa Caramanchão que, apesar de ser recente no mercado, conta com mais de um século de história.

O nome é engraçado e a apresentação é leve e espirituosa. O rótulo é divertido, uma pequena boneca, que parece desenhada por uma criança. Mais importante que a apresentação, interessa o vinho – profundamente moderno e autêntico. No entanto, para se falar de um vinho é necessário conhecer a sua história. Elsa Franco é a responsável por criar e levar avante um dos mais recentes vinhos tranquilos da Madeira, foi pelas suas palavras que conhecemos a história do ‘Boneca de Canudo’.

A Casa Caramanchão está na família Franco há cerca de 200 anos. António Olim “Tentilhão” construiu a primeira pedra do terreno. Foi, no entanto, João Franco quem, com árduo trabalho braçal, construiu as numerosas paredes que ainda hoje constituem e dão vida ao terreno. Segundo escreve J. Vieira Natividade no livro ‘Madeira a Epopeia Rural’, “João Franco foi um dos portugueses que tiveram a coragem de partir a guitarra” e afrontar a natureza, roubando-lhe terra arável para construir socalcos. Ainda que na altura a produção agrícola fosse essencialmente focada no consumo familiar, João Franco dedicou uma boa parcela de terreno para a plantação de vinhas – assim começava a escrever-se os primeiros capítulos da Casa Caramanchão.

Já no segundo milénio, chegou a vez de os bisnetos de António Olim assumirem as rédeas da Casa Caramanchão e assim, por iniciativa própria, Elsa Franco, em 2006, começou por apostar na produção de um vinho tranquilo. Reformulou a vinha e plantou novas castas (Touriga Nacional, Syrah e Merlot). Assim, das altas encostas de Machico viria a surgir o ‘Boneca de Canudo’, que teria a sua primeira produção em 2014.

O nome engraçado e um sabor surpreendente
Elsa Franco é engenheira civil de formação, mas dedicou parte do seu tempo livre para dignificar o trabalho dos seus antepassados. Na valorização desta herança optou por substituir as vinhas antigas por vinhas novas para produzir um bom vinho tinto regional. No entanto, no meio social onde se localiza a Casa Caramanchão, a agricultura sempre foi trabalho de homens e, talvez por essa razão, ao ter conhecimento deste projeto agrícola a ser projectado por uma mulher licenciada, um homem teve o desabafo: “só faltava aquela boneca de canudo!”. O desabafo foi conhecido e comentado, e os produtores decidiram que seria mesmo esse o nome do vinho.

Quanto ao vinho, o ‘Boneca de Canudo’ é um tinto com alma e coração, moderno, mas com um toque de rusticidade e autenticidade que lhe assentam sem qualquer tipo de jacobice. “Um bom caráter fresco, peso médio no palato e um sabor agradável” foram algumas das palavras de Martin Lam júri do Sommelier Wine Awards, concurso no qual o ‘Boneca de Canudo’ foi distinguido com medalha de prata.

As características deste tinto são peculiares. É diferente de outras regiões, a razão deve-se ao terroir. Um terreno vulcânico e uma brisa do mar conferem aos vinhos da Madeira uma maior acidez e um correspondente paladar peculiar. Para Elsa Franco estas características são um desafio para que os tintos da Madeira se possam afirmar no mercado, mas vê nisso aspetos positivos: “Os vinhos da Madeira não podem, nem devem ser iguais aos de outras regiões de Portugal. Temos de encontrar o nosso posicionamento e fazer a nossa história. O terroir faz com que o vinho seja mais ácido e, mesmo que exista uma correção da acidez, esta nunca será plena. Há gosto para tudo, e há já muitos turistas que olham para o nosso vinho de forma diferente. Temos de assumir a diferença e sermos um vinho distinto”.

Depois do sucesso na conceção do tinto, Elsa Franco perspetiva o futuro com uma aposta também nos vinhos brancos. “Estamos ainda a fazer algumas experiências, mas no futuro queremos apostar também nos vinhos brancos. Há muita gente que prefere o branco e que nos questiona para quando será a nossa produção. Espero que daqui a dois ou três anos tenhamos essa oferta”, conclui.