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Bill Gates previu “a ameaça do futuro”, uma nova pandemia global

https://www.ted.com/talks/bill_gates_the_next_outbreak_we_re_not_ready?language=pt

Um antigo vídeo do canal de Youtube dos TED Talk voltou a movimentar a Internet durante esta semana. Na gravação, de 2015, Bill Gates, o fundador da Microsoft, falou sobre a possibilidade de um nova pandemia no mundo. A palestra intitula-se de “O próximo surto? Não estamos preparados“.

Bill Gates é poderoso, o segundo homem mais rico do mundo e, naturalmente, tido por pessoa muito influente. Tão influente que, por exemplo, sempre que divulga a sua lista anual dos livros que leu e de que mais gostou, consegue, só com essa recomendação, tirar uma série de autores do esquecimento e catapultar qualquer título para as listas dos mais vendidos.

É também reconhecido como um ser com uma inteligência acima da média, que costuma emitir opiniões bem fundamentadas que lhe advêm de um vasto conhecimento da realidade mundial. Apesar de todos esses atributos, a verdade é que, no caso da saúde pública, a voz de Bill Gates não é, de facto, tão escutada quanto podem sugerir os sorrisos ou os acenos de cabeça afirmativos dos líderes que com ele se reúnem por esse mundo fora – como esta epidemia do novo coronavírus tem demonstrado.

Em março de 2015, Bill Gates pisou o palco de uma conferência dos Ted Talks e falou de uma ameaça do passado e uma ameaça do futuro.

A do passado remete para a Guerra Fria, altura em que EUA e União Soviética permaneciam de lados diferentes do mundo, numa disputa que tinha tanto de ideológica como de geopolítica e que foi marcada pelo desenvolvimento de armas nucleares de ambos os lados. Esta ameaça é representada num ecrã, que está por trás de Bill Gates, com uma explosão nuclear. “Hoje, o maior risco de catástrofe não é este”, diz, referindo-se àquela nuvem em forma de cogumelo.

“É mais provável morrerem dez milhões de pessoas nas próximas décadas devido a um vírus altamente contagioso do que devido a uma guerra nuclear. A maior ameaça atual já não são os mísseis, mas sim os micróbios” diz o multimilionário, perante uma plateia em silêncio.

Por isso mesmo, a intervenção do fundador da Microsoft refere três razões para o ébola ter sido especialmente forte apenas em três países daquela região. A primeira razão foi o “trabalho heroico” por parte de trabalhadores do setor da saúde, que “encontravam as pessoas e preveniam mais contágios”. A segunda razão foi a “natureza do vírus”, que levava a que um infetado “não conseguisse sair da cama”. A terceira e última razão deu-se “simplesmente por sorte”, que foi o facto de o ébola não ter entrado “em muitas áreas urbanas”, reduzindo assim o contágio.

“Da próxima vez, talvez não tenhamos tanta sorte”, sublinhou Bill Gates. Nesse cenário — que é o atual e que Bill Gates previu com cinco anos de antecipação — o fundador da Microsoft fala em “fatores que poderiam tornar as coisas mil vezes piores”. O orador acabou, porém, por referir apenas dois.

O primeiro tem a ver com a fonte do vírus: “Poderia ser uma epidemia natural como o ébola ou pode ser terrorismo biológico”, disse. Neste caso, o consenso é o de que o novo coronavírus é uma epidemia natural com origem em Wuhan, na China. Porém, já há governantes chineses a promover, sem oferecer quaisquer provas, a ideia de que o novo coronavírus pode ter sido “plantado” na China pelos EUA. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Lijian Zhao reagiu assim às declarações de uma autoridade norte-americana, que se refereiu ao vírus como “o coronavírus chinês”: “É possível que tenha sido o exército dos EUA a trazer a epidemia para Wuhan. Sejam transparentes! Tornem os vossos dados públicos! Os EUA devem-nos uma explicação”.

O segundo fator tem sido sobejamente referido: os infetados que não apresentam sintomas, ou seja, os assintomáticos: “Pode haver um vírus com o qual as pessoas se sintam bem enquanto estão contagiadas, ao ponto de entrarem num avião ou irem ao mercado”. Bill Gates refere ainda a forma de contágio do vírus como factor de lastração, sendo que um agente patogénico transportado pelo ar poderia matar mais de 30 milhões de pessoas em menos de um ano, algo que poderia ocorrer nos próximos 10 a 15 anos.

“Preparar-se para uma pandemia global é tão importante quanto a dissuasão nuclear ou evitar uma catástrofe climática”, sublinhou.

Bill Gates comentou ainda que houve muito investimento em armas nucleares, “mas pouco num sistema para travar uma epidemia. Não estamos preparados”. “Se começarmos agora, podemos estar preparados para a próxima epidemia”, remata no final da conferência, realizada em março de 2015. Ou seja: há cinco anos – cinco anos que, percebemos agora, foram perdidos na procura dos planos globais para combater uma epidemia.

A Fundação Bill & Melinda Gates financiou vários pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novas vacinas para prevenir uma gripe pandémica. A fundação investiu também na Coalition for Epidemic Preparedness Innovations, uma coaligação internacional lançada em Davos em 2017, chegando mesmo a elaborar um plano para impedir o próximo surto, para o qual provou-se que não estávamos preparados. Recordamos que Bill Gates fez uma doação, através da Fundação Bill e Melinda Gates, de 92,6 milhões de euros para a luta contra a nova doença no início deste ano.