O Malhado de Alcobaça, uma das principais raças suínas autóctones portuguesas, está em risco de extinção, mas, graças ao empenho de um conjunto de produtores e do Município de Alcobaça, está de novo a ser produzido e divulgado. A carne é de alta qualidade, principalmente a carne grelhada, os enchidos, o presunto, a morcela de arroz e o leitão assado. Um produto típico da região centro Oeste que todos devemos ajudar a salvar.
Carne tenra, muito saborosa, criada quase com pasto e alimentos naturais, assim é a carne do Malhado de Alcobaça. Trata-se da terceira raça suína autóctone portuguesa – a par da Alentejana e da Bísara (de Trás-os-Montes) -, com origem na região centro Oeste de Portugal.
Resultado de cruzamentos entre porcos bísaros e raças inglesas melhoradas (Berkshire e Yorkshire), feitos pelo veterinário Joaquim Inácio Ribeiro em 1865, o Malhado esteve quase em extinção, devido à Peste Suína Africana que assolou Portugal, no final de 1957, e ao fraco potencial económico dos seus criadores que não tinham mais de duas porcas reprodutoras. Dez anos antes existiam cerca de 65 mil animais desta raça.
Em risco de extinção, a raça foi preservada até aos dias de hoje pelo produtor Selecpor. Em 2020 é composta por 171 fêmeas inscritas no Livro Genealógico da raça e 14 varrascos, distribuídos por 13 criadores registados na Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), os quais têm vindo a tomar medidas para preservar este património 100% português e com muita potencialidade. São eles: Querido & Subtil, Lda. (Alcobaça), Suinibaptista (Alcobaça), Granja ABBATIALE (Nazaré), Tecniporc, Lda. (Alcobaça), SELECPOR, SA (Aveiras de Cima), AIM CIALA, SA (Santiago do Cacém), Escola Superior Agrária Santarém (Santarém), EZN – INIAV (Santarém), Ovinos do Futuro, Lda. (Lourinhã), Malhadinhas do Campo, Lda. (Alcobaça), ALCOPEC, Lda (Alcobaça), Escola Superior Agrária de Coimbra (Coimbra) e Elisabete Cortez Serra (Coimbra).
Em 2014, a FPAS assegurou a gestão do Livro Genealógico (LGMA) da raça e foram também criados um núcleo de conservação no polo de investigação da Fonte Boa – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e um núcleo de multiplicação na Escola Profissional Agrícola e de Desenvolvimento Rural de Cister (EPADRC), em Alcobaça. Exemplo de preservação da biodiversidade e de um produto endógeno, a raça Malhado de Alcobaça resulta numa carne de excelente qualidade, ainda que não tenha conseguido – por ter estado em risco de extinção – a certificação DOP (Denominação de Origem Protegida). Uma das grandes dificuldades é o facto de a raça não ser competitiva em termos comerciais, visto que a média de leitões por ninhada é inferior à média de outras raças de massificação e o crescimento destes porcos ser mais lento.
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Contudo, a comercialização da carne deveria ser encaminhada para produtos na gama gourmet. O conjunto de produtores da FPAS, a Associação dos Agricultores da Região de Alcobaça e a Câmara Municipal de Alcobaça têm desenvolvido esforços com vista à divulgação, certificação e registo da marca. Prova disso são as diversas ações de promoção já feitas, como a aquisição, no ano de 2014, de porcos desta raça para reprodução na EPADRC; a abertura de um balcão de bifanas e restaurante exclusivo de carne do Malhado na Feira de São Bernardo; e a publicação do conto infantil “O Porquinho Malhado”, escrito pela vereadora de Alcobaça, Inês Silva, e entregue gratuitamente a cerca 2500 alunos do 1.º ciclo do Ensino Básico. Mais recente foi o workshop “Conservação e melhoramento de populações suínas: A importância da preservação do porco Malhado de Alcobaça”, realizado no passado 13 de outubro na Escola Superior Agrária
de Santarém.
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Se ainda não está convencido, nada como provar um porco Malhado de Alcobaça. A sua boa corpulência e esqueleto forte tornam-no ideal para assar, como no caso dos leitões, para grelhar, fazer enchidos, presunto e morcela de arroz. E quem não experimentar, não é bom português.
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