Arquitetura, Design e Decoração Destaque

Lainho: E quanto à preservação da singulariedade dos centros históricos Portugueses?

Artigo de Susana Lainho, Lainho – Conservação e Restauro de Património

Ao nosso trabalho compete a preservação de memórias visuais do património onde habitamos. Sem esta área de estudo os edifícios característicos das nossas cidades e todo o conjunto de detalhes que os embeleza, passariam a ser apenas memórias de um passado cultural.

O respeito pelo existente não passa só pela fachada, sendo que estas vão sobrevivendo, uma vez que a Lei obriga à sua preservação. Grande parte da riqueza artística aparece nos interiores dos imóveis. Aqui, deparamo-nos com o mito de que o restauro é muito dispendioso e que o resultado final pode ficar pouco atrativo, o que pode levar o cliente a acreditar que a manutenção do interior do edifício não vale a pena ou é impossível recuperar. Esta ilusão faz crer que é mais barato e lucrativo remover ou repintar um teto de estuque, ao invés de restaurar as lacunas existentes, mantendo o valor estético e patrimonial do imóvel. Torna-se alarmante o ritmo a que desaparecem os interiores artísticos dos edificios antigos em todo o país, ainda para mais quando temos noção que uma intervenção planeada e realizada por uma equipa especializada pode prolongar a sua duração por mais 200 anos, pelo menos.

A reabilitação de um edifício histórico requer uma sensibilidade especial, e ainda há um desconhecimento em relação ao contributo do conservador-restaurador na preservação dos edifícios com interiores ricos em estuques, azulejos, pedra, mosaicos…, que acabam por ser totalmente destruídos por não se recorrer a uma análise especializada.

Há gabinetes de Arquitetura que zelam pelo património e conduzem o processo de forma correta rodeando-se das demais especialidades.  A presença do conservador-restaurador é tão essencial como a do arquiteto, engenheiro, arqueólogo, ou de qualquer outro interveniente numa obra. A nossa formação e experiência profissional, única e diferenciada das demais, ajuda-nos a identificar e a realizar as operações necessárias para a preservação do património artístico integrado num edifício, mantendo a sua autenticidade, valor artístico e patrimonial, minimizando e calculando perdas e danos sobre esse património. A equipa certa é multidisciplinar, sendo imprescindível que tenha habilitações certificadas.

A nós compete-nos ver o que já não parece existir ou aparenta não ter valor, e está por vezes oculto. Por exemplo, há decorações, pinturas a óleo, que cobrem paredes inteiras nos interiores dos nossos edifícios, estão escondidas e existem na sua totalidade; outras vezes temos vestígios decorativos, cujo tratamento permite uma leitura completa. É comum existirem azulejos manufaturados, ou mesmo mosaicos hidráulicos feitos com pigmentos que hoje em dia já não se utilizam, e por vezes são arrancados das paredes sem um técnico capaz de o fazer, ou mesmo destruídos por inteiro.  O cliente acaba por nem saber o valor patrimonial que tinha no seu imóvel, que muitas vezes vai parar a um vazadouro.

A nossa empresa é especializada em conservação e restauro de património integrado em edifícios. Trabalhamos em palácios, igrejas, monumentos, mas sobretudo habitações nos centros históricos, que fazem parte da nossa história artística e cultural. O que nos caracteriza, o que nos diferencia, é a nossa paixão por esta profissão. Somos conservadores-restauradores, e zelamos pela preservação do nosso legado. Se o património artístico for móvel, é fácil o cliente perceber que tem valor, e que o pode retirar dali e levar para outro lugar, como um quadro ou uma joia. No caso do edificado, é um caminho que ainda temos que percorrer, o património integrado ainda é considerado “arte menor”, que estamos a lutar para salvar antes da extinção.

Para trabalharmos nesta área, e porque muitas vezes somos questionados sobre isso, a nossa equipa tem formação de base em conservação e restauro, é uma formação superior (para intervir em património classificado ou em vias de classificação, é obrigatória essa formação). Internamente também somos multidisciplinares, tendo elementos que completaram a sua formação com outras áreas como arquitetura, pintura, engenharia, história e química.