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EDITORIAL | EDIÇÃO 45 | ABRIL 2024

Em abril de 2024 é inevitável voltar a escrever Abril assim, com maiúscula. Antes da entrada em vigor do novo acordo ortográfico era uma norma para todos os meses do ano, privilégio agora apenas reservado para datas comemorativas. É o caso, obviamente, do 25 de Abril, e logo este, quando se assinalam os seus 50 anos. 

As comemorações começaram já em 2022 e terminarão só em 2026, pelo que estamos agora, “em cima” da data, a meio de todo este processo que nos faz repensar o que éramos há 50 anos, o que somos hoje, e o que podemos ou queremos ser no futuro.

Este é um momento único, do qual talvez só venhamos a ter noção daqui a alguns anos. Lembro-me bem dos festejos dos 25 anos do 25 de Abril, em 1999, e do pin que o meu pai me ofereceu na altura – usei-o na lapela de um casaco meu e mais tarde num boné durante bastante tempo. Com as cores nacionais, o 25 a verde, e cinco mãos abertas, duas brancas e três vermelhas, contabilizavam 25 dedos, fazendo essa ligação, também única, entre o dia e os anos decorridos.

Depois de 2024, só a comemoração do centenário poderá suplantar no significado a deste ano. Mas o que será Portugal e o mundo em 2074? Hoje ainda temos a felicidade de poder ver, ouvir e estar com quem fez o 25 de Abril, e com quem o viveu de forma mais ou menos próxima.

É sempre comovente rever aquelas imagens a preto e branco da madrugada mais esperada, nesse “dia inicial inteiro e limpo”, nas tão citadas palavras de Sophia de Mello Breyner.

Por estes dias já tanto terá sido dito sobre a Revolução, superiormente planeada e dirigida pelo polémico Otelo Saraiva de Carvalho, então Major do Exército, e que eternizou os “Capitães de Abril”. Destes, o mais decisivo, e consensual, foi Salgueiro Maia, então com apenas 29 anos. O seu breve discurso às tropas, antes de arrancarem de Santarém, é dos mais famosos da nossa história contemporânea:

“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que isto chegou. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos.”

Já este mês, a D. Quixote reeditou “Os Memoráveis”, de Lídia Jorge, dez anos depois da sua primeira edição. Um livro que recomendo vivamente a quem quiser ter um outro olhar sobre os Heróis de 1974.