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EDITORIAL | EDIÇÃO 46 | MAIO 2024

De entre os muitos “dias de” que se assinalam anualmente, e que servem de pretexto para lembrar causas, ideias, valores e também de alerta para várias injustiças e problemas do mundo, o Dia do Autor Português passou quase despercebido. Assinala-se dia 22 de maio, desde 1982, e lembra-nos que sem autores, todas as páginas em branco continuariam a ser apenas isso, pedaços de papel.

Vivemos num tempo em que é muito fácil violar os direitos de autor, pensar que tudo o que se encontra “por aí”, na Internet, está à nossa disposição para utilizar como se fosse nosso. Ao desrespeitar-se os autores e o seu trabalho contribui-se para que a qualidade seja cada vez mais nivelada por baixo.

A propósito, uma das frases mais citadas, cujo significado nos remete metaforicamente para o percurso da vida é “o caminho faz-se caminhando”, do poeta sevilhano António Machado. Originalmente, em espanhol: “se hace camino al andar”. Porque na vida, como em muitas viagens, o que realmente conta é o trajeto e o que fazemos dele.

Também num editorial, mas noutro contexto, já tinha abordado esta frase emblemática, ciente de que poucas ideais são tão libertadoras como a de nos fazermos à estrada. Mais ainda quando o destino pensado inicialmente se desvia por caminhos mais lentos, onde podemos fruir da natureza e das pessoas que por lá encontramos.

Lembro por isso, novamente, Bertha Benz, a mulher que, em 1888, percorreu 106 quilómetros entre Mannheim e Pforzheim, na Alemanha, ao volante de um Benz Patent-Motorwagen 3. O marido inventou o automóvel moderno e ela mostrou que havia futuro para essa indústria, ao arrepio do ceticismo da altura. Foi a primeira viagem de longo curso de sempre de que há registo feita por um automóvel, sendo por isso Benz considerada a “mãe das roadtrips”. Num vídeo disponível no YouTube, a Mercedes diz que Bertha Benz “forjou a estrada à frente para a pavimentar para todos nós”.

E é de carro, mota ou até de bicicleta que nos associamos ao convite que o Turismo do Porto e Norte lança, nesta nossa edição, para percorrer algumas das estradas mais bonitas do país, a começar pela Nacional 103 que liga o litoral minhoto ao interior transmontano. Nesse artigo, lembram que “esta magnífica estrada” está  “descrita em grande parte no livro ‘Viagem a Portugal’ do Prémio Nobel da Literatura, José Saramago”.

Grandes autores, criadores de mundos, para grandes caminhos.