Justiça Mulheres Inspiradoras

Conciliar dois mundos com a leveza da dança

Não é por acaso que Maria Ana Real Geraldo Dias está nesta secção da IN Corporate. É uma mulher que lutou e trabalhou muito pela vida que tem hoje. Um verdadeiro exemplo que pode inspirar muitas outras mulheres por toda a Europa. Maria Ana sempre teve dois sonhos e optou por não escolher entre eles, agora concretiza os dois todos os dias.

Esta empresária deve o seu sucesso a si própria e ao seu perfecionismo. As suas grandes paixões são a advocacia e o ballet e, por incrível que pareça, consegue arranjar tempo para fazer as duas coisas. Como vai poder perceber, as duas vertentes sempre estiveram presentes na sua vida e, felizmente, Maria Ana não precisou de abdicar de nenhuma delas. Vive agora no Luxemburgo, já passou pela Alemanha e desde que foi fazer Erasmus, não voltou a morar em Portugal.

O que faz desta mulher uma líder de sucesso? Simples. É a sua personalidade, o facto de ser uma pessoa que ouve os seus colaboradores e que, em vez de mandar fazer, trabalha com eles em conjunto. Porque confia plenamente na competência e responsabilidade das pessoas que escolhe para trabalhar consigo, adianta que diz “sim a tudo e dizendo que sim a tudo, o trabalho é feito impecavelmente porque os funcionários estão felizes”.

Da faculdade ao seu escritório de advocacia
Maria Ana entrou na Universidade Nova de Lisboa e decidiu enveredar pelo curso de Direito. No seu terceiro ano, um professor propôs-lhe que fosse fazer Erasmus para a Alemanha, um conselho que decidiu seguir e que mudou a sua vida. Ao fim de seis meses pediu para ficar em Erasmus mais tempo e, entretanto, tirou um mestrado em Direito Europeu. Estagiou num escritório de advogados durante um ano, que também tinha escritório no Algarve e diz que teve “a sorte de poder trabalhar com clientes portugueses e alemães. Gostei muito de estar esse ano nesse escritório”.

O gosto pela vida no estrangeiro crescia cada vez mais e decidiu pedir à Universidade Nova para concluir o curso enquanto acaba o mestrado em Bremen. O pedido foi aceite e, mais tarde, foi convidada a ficar na Alemanha, após finalizar o L.LM na universidade de Saarbrücken.

Segue-se a ida para o Luxemburgo, um capítulo que iniciou com uma sugestão do seu anterior professor de direito comunitário. Candidatou-se ao Tribunal de Justiça, na área de tradução jurídica, e foi aceite para um estágio. É assim que em agosto de 2006 muda novamente de país, “no fim do estágio propuseram um contrato de dois anos e aceitei. Gostei muito de trabalhar lá e fiquei como jurista linguista do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias”.

Maria Ana decide então ficar no Luxemburgo, num país onde estava sozinha, e tentou a sua sorte na Ordem dos Advogados. Comenta que foram dois anos complicados porque as cadeiras eram dadas em diversas línguas, mais um desafio que ultrapassou com distinção. Teve a felicidade de estagiar durante dois anos num escritório prestigiado no Luxemburgo, lugar onde permaneceu durante mais seis anos. A advogada encontrava-se numa boa e estável fase da sua vida quando engravida em 2015. Decide comprar casa e “abanar” a estabilidade. É com um sorriso que nos conta que, quando se despediu, a reação do seu patrão foi dizer que “agora, em vez de ires de carro para o trabalho, vais de autocarro”. Mas foi uma porta que ficou sempre aberta, sinal da boa impressão que deixa por onde passa. Abriu então o seu próprio escritório de advocacia – o “Real Avocats à la Cour” – a “melhor decisão” que podia ter tomado.

A dança clássica
Em todo este percurso, o ballet nunca foi esquecido, bem pelo contrário. Começou a dançar no Colégio Moderno, aos quatro anos, e foi assim que esta modalidade se tornou uma paixão. Aos 13 anos ingressou no Conservatório, onde aperfeiçoou o seu talento. Por lá permaneceu durante três anos, mas decidiu sair porque “o programa académico não era igual ao programa de uma escola normal e porque vi que a vida ia passar por muita competição”.

Enquanto estudava, durante o secundário e a faculdade, continuava a dançar na Royal Academy of Dance, mas com a ida para a Alemanha acaba por deixar esta paixão em pausa. Ainda assim dava aulas de ballet e dançava profissionalmente para poder continuar a estudar no país.

Quando se mudou para o Luxemburgo, na azáfama de orientar o seu novo negócio, permaneceu alguns anos sem dançar e o foco passou a ser o Direito. Com muita dedicação, o escritório foi crescendo e com a contratação de novos colaboradores, começou “a ter tempo para mim, por isso, resolvi abrir a minha escola de ballet, que era o meu grande sonho”. Ganhou assim forma a sua “Real Academy of Dance”. Entretanto decide tirar um curso de três anos na Royal Academy of Dance, para ficar certificada como professora, algo que concluiu no ano passado.

Na sua escola existem professores e alunos de todas as nacionalidades, num ambiente multicultural, onde a felicidade de todos é bem visível. O quotidiano de Maria Ana faz-se em várias línguas, as quais domina com a mesma leveza com que dança. Enquanto nos contava o seu percurso como bailarina, o brilho nos seus olhos transmitia qual era a sua verdadeira paixão.

Como conciliar tudo
É caso para dizer que quem corre por gosto, não cansa. Só com muita organização é possível conciliar estes dois mundos, o que até parece fácil quando se faz realmente o que se gosta, em tão bom ambiente de trabalho. “Não há um dia da minha vida em que me levante e não me apeteça ir trabalhar ou dançar”, diz-nos, concluindo que “ama verdadeiramente” o que faz.

Maria Ana está feliz e tem liberdade e muita energia para poder conciliar as suas paixões: a advocacia, o ballet e, claro, a sua família. “Despedir-me valeu muito a pena, foi o melhor que fiz”, preencheu o vazio que sentia e prova, assim, que realmente foi bom “trocar o carro pelo autocarro”. Não há nada que a faça mais orgulhosa do que ver os seus colaboradores e alunos felizes, “é tudo para mim”.